Olha quem fomos puxar aqui para a Popload! O jornalista musical (sim!) Pedro Antunes, que vem sendo tragado para outras funções importantes na música, promete aparecer mais vezes aqui entre nós para não perder sua verve primeira. Coisa fina. O time daqui, que já é bom, vai ficando melhor!
Fala, Pedro! Pode usar nossa vitrola à vontade.
Por Pedro Antunes
Queridinha do mundo pop (mas também desta Popload), a pós-adolescente Olivia Rodrigo já é habilitada para dirigir até a nova casa do ex-namorado (aquele que a destruiu em milhares de pedacinhos), quando quiser. Uma má ideia, certo?
Péssima.
Mas este é o tema central de “bad idea right?”, a nova sacolejante música de Rodrigo e segundo single do álbum “Guts”, a ser lançado em 8 de setembro envolto em um hype que não para de crescer.
Tudo justificável. Afinal, o primeiro álbum da californiana, “Sour” (2021), foi um petardo pop-punk carregado daquele energia quase atômica dissipada pela primeira grande desilusão amorosa. Nada gera tantas boas canções quando um pé na bunda bem recebido, feliz e infelizmente.
“Sour” bebia descaradamente de fontes roqueiras e trazia, como tema central, um término cantado com entusiasmo agridoce por uma ex-Disney (Rodrigo foi estrela de programas de TV da emissora do Mickey, como “Bizaardvark” e “High School Musical: The Musical: The Series”).
A excelência da estreia de Rodrigo sobreviveu às acusações de plágio (principalmente entre a música “Good 4 U” e “Misery Business”, que terminou com integrantes do Paramore incluídos nos créditos do single de Rodrigo) e sobreviveu também às revoltas dos roqueiros conservadores de plantão.
Rock talvez seja a instituição musical ocidental mais conservadora do mundo hoje – o que não faz nenhum sentido. E mesmo que faça há muita gente articulando novas formas de criar som com guitarra (ou sem ela, também) ou repetindo fórmulas de maneiras novas. Caso da própria Rodrigo. Tudo isso num mundo “rocker” que veste um cabresto incapaz de olhar para o lado e entender que fazer música é uma expressão livre.
E enquanto esta turma de roqueiros de bandana _ desculpe-me se você for um roqueiro de bandana do bem, ok? _ revira os olhos e escreve absurdos na rede destruída pelo Elon Musk a respeito de nomes como Olivia Rodrigo, a jovem cantora californiana faz pelo ROCK muito mais que muito marmanjo e banda manjada por aí.
Com letras espertas sobre dores de cotovelo, truques do pop de estádio ancorados por linhas encorpadas de guitarra, Olivia Rodrigo é, sim, um fenômeno.
Isso porque ela faz a sua própria antropofagia musical ao absorver as estruturas sonoras do pop punk (que por sua vez absorveu elementos do punk raiz e por aí vai) para regurgitar tudo num som que seja ROCK e, ao mesmo tempo, comunique-se com uma geração de 20 e poucos anos que não se identifica com aqueeeeela música que parou no tempo.
E, no meio do caminho, Rodrigo consegue se comunicar também com um ou outro de 36, como este que aqui escreve.
Foi assim com “Sour” e, gradualmente, repete o feito com “Guts”.
O que nos leva de volta a “Bad Idea Right?”, o single responsável por suceder a balada radioheadesca e emotiva “Vampire”. A segunda música de “Guts” a ser revelada é o oposto da antecessora.
Vibra eletrizante como se o Weezer pudesse voltar no tempo para sentir as angústias de um pé-na-bunda pela primeira vez em plenos anos 80 – como bem notou a “Pitchfork”, os coros bebem diretamente da fonte da divertida “Mickey”, da icônica Toni Basil.
Carregada de uma ironia esperta, a letra assinada por Rodrigo e por Dan Nigro (produtor e colaborador desde “Sour”) coloca a autora em uma posição inédita: em vez de sentir mágoa e raiva do ex, ela diz que ambos podem ser bons amigos.
Ela sabe que está se enganando, óbvio. Quer voltar para o rapaz que a abandonou e, sem querer, “cair na cama dele”.
Mais uma vez, Rodrigo acerta ao se conectar conosco por meio das bobagens amorosas que todos cometemos alguma vez na vida (às vezes, mais de uma).
Olivia Rodrigo é uma estrela do rock que, em vez de se colocar na posição endeusada no topo do Olimpo da música, mostra-se gente como a gente. Erra, chora, machuca-se, e vai lá e erra de novo.
Mas “Bad Idea Right?” é seu novo acerto. Já voltar para o ex, não! Mas ninguém aqui vai julgar.