Não canso de me escrever dessa banda. E o que está abaixo é só uma divagação da minha cabeça. Não liga.
Arcade Fire versão underground sem a intervenção visual do Spike Jonze? Não, apenas o Parquet Courts zoando…
O Parquet Courts, a banda nova mais legal do planeta todo, terminou domingo passado um giro grande que incluiu uma turnezinha americana, emendou shows no Laneway Festival da Austrália e culminou em uma apresentação em Londres dois dias atrás, no Electric Ballroom, famoso clubinho no bairro de Camden de dois andares, onde Smiths e Clash já tocaram, tem uma sexta-feira de balada muito louca alternando noites góticas com heavy metal e a última vez que eu me lembro de ter ido lá foi para um show do… Tyler the Creator. Acho.
Como você vê pelo ingresso NÃO usado abaixo, era para eu estar na Inglaterra domingo, para ver mais esse show da banda texano-nova-iorquina e ser feliz no gelo britânico. Mas os planos mudaram e eu estou aqui, em São Paulo. Morri com o ticket.
Desde que vi a banda no concerto australiano do Laneway Festival (aquele que inventaram por lá de botar na mesma hora que a rave do Jagwar Ma num palco ao lado), eu ia escrever sobre o jeito do Parquet Courts de iniciar um show. Mas os planos mudaram e eu, tipo, esqueci. Ou resolvi escrever sobre outras coisas do show e passei batido.
Fuçando na internet sobre o show de Londres a que eu NÃO fui (estou repetindo a info e botando o “não” em maiúsculo como uma sádica maneira de me autopunir), achei um vídeo do “Parkay Quarts” entrando no palco, agradecendo a galera, se apresentando e tocando a música de abertura, “She’s Rolling”.
Esse começo de show, estou há tempos para dizer, é um truque bem sujo do Parquet Courts. Primeiro que “She’s Rolling” não pertence a disco nenhum da banda (não é do EP antigo que tem tamanho de disco cheio, não está no primeiro álbum e muito menos no EP novo).
Depois porque a música é uma antítese de uma apresentação do Parquet Courts, sempre a toda velocidade e energética. A primeira música do show da banda é muuuuuito devagar, trippy, viajante de incomodar (no bom sentido). Até porque você vai a um concerto do Parquet Courts para ser eletrocutado sonoramente. E o começo quebra sua vibe. Com uma música de quase NOVE minutos (esse maiúsculo é para você).
Pensa numa situação em que o Kurt Cobain entra sozinho no palco, muito chapado e “slow” tipo no show do Morumbi em 1993, bota um som de bateria e baixo programados e fica dedilhando a guitarra preguiçosamente por nove minutos. Isso é “She’s Rolling”.
A bateria tem uma só levada e é repetitiva até morrer. O baixo, forte, meio que comanda a música. E as guitarras, as duas, ficam viajando de um jeito cobain-chapadão-stoned-and-starving. Ou Pavement desanimado. Ou, como vi numa definição gringa mais precisa sobre a música, “a slow burner boasting a big throbbing bass intro that turned into a methodical guitar workout”.
Mas aí é que reside a sacanagem do Parque Courts. Eles, antes da pancadaria, optam por transcender. Tiram a plateia de um lugar comum e a elevam para um lugar especial como se aquilo fosse apenas uma “introdução a um show do Parquet Courts”. Uma vez lá, em transe, a audiência está pronta para o melhor indie pós-punk pós-grunge que uma banda d(n)o Brooklyn pode proporcionar. Um pré-show antes do show.
Vou repetir. Eles ousam começar um concerto poderoso com uma música-viagem de nove minutos que não consta da discografia, não tem track de estúdio (eu não conheço pelo menos) e não toca em rádio. E daí, por causa dela, o show vai do transe absoluto ao pandemônio crescente. É o efeito contrário do ecstasy, haha. E isso, sim, é truque sujo.
Pronto, desabafei.
Em Londres, domingo passado, foi tipo isto abaixo. Veja se você entende minha aflição.
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