O novo disco do Pulp, 72 horas depois. Obra-prima? O caminho de volta para o topo e o primeiro show da turnê, na Escócia

Foto: Tom Jackson

Está dando o que falar (e bem) o novo álbum do Pulp, “More”, o primeiro em 24 anos, que foi lançado na última sexta-feira e fez a banda de Jarvis Cocker cair na estrada no dia seguinte para uma apresentação esgotada na cidade de Glasgow.

Da Inglaterra, vem hoje a informação de que “More” caminha para alcançar o topo das paradas locais, o que não acontece desde o seminal “This Is Hardcore”, que saiu em 1998. Ou seja, 27 anos atrás.

Não é de se estranhar que o Pulp continue sendo o Pulp, mas o amadurecimento da banda tem sido, talvez, o ingrediente mais comentado pelos fãs e pela mídia especializada.

O grupo, que se separou após o álbum “We Love Life” (2001), ensaiou dois retornos. Só o segundo, mais recente, rendeu a gravação de um disco novo, gravado durante poucas semanas, e que já cria ares de “obra-prima”, como destacou a Rolling Stone espanhola.

Em uma extensa review feita pela publicação, chama a atenção a reflexão sobre o Pulp “entender o seu lugar” de uma banda que envelheceu 25 anos. A RS diz que o grupo compreendeu melhor do que muitas outras bandas de rock “a inutilidade de tentar recuperar a juventude” e que “envelhecer também pode ser uma oportunidade para recuperar a grandeza”.

“Essas 11 canções representam uma evolução do Pulp tanto em som quanto em visão, algo que deveria ser inevitável após duas décadas e meia, mas que muitas vezes falta nos lançamentos tardios de bandas renomadas. Jarvis Cocker continua a encarnar aquele estilo descontraído e elegante, cheio de ingenuidade, que inspira inveja e aspirações em diferentes medidas, embora agora sua voz soe um pouco mais calejada, seu cansaço do mundo seja mais suave e esteja mais moldado pelo que ele viveu do que por qualquer inferno que se possa imaginar”, diz um trecho.

Foto: Tom Jackson

Já o sempre ótimo portal The Quietus traz uma matéria especialíssima e entrevista idem com Jarvis, apontando que o Pulp sempre destoou do restante, desde a explosão do Britpop, tratando o grupo como “os desajustados dos desajustados”, graças às letras inteligentes sobre classe, desejo e alienação, “impulsionadas pela visão subversiva de Jarvis Cocker e o toque teatral e sensual da banda”.

A Quietus também fala sobre como a produção do disco novo foi ágil e espontânea, com gravações rápidas, às vezes uma música por dia, no estúdio simples porém funcional de James Ford. 

Jarvis encarou essa rapidez como uma volta às origens do grupo, lá na década de 1980. “Quando começamos, não tínhamos escolha. Só podíamos entrar no estúdio e gravar o mais rápido possível. É a primeira vez desde então que fizemos isso. Não teve muita enrolação, além de tocar com um clique de vez em quando. Acho que é por isso que tenho tanto orgulho do disco”, contou o compositor.

Ele também falou da árdua missão, enquanto letrista, de transformar episódios tristes em arte. A vontade de fazer “More” nasceu especialmente do luto de Cocker pelas mortes de sua mãe e do ex-baixista do grupo, Steve Mackey, que aconteceram em um curto espaço de tempo.

“Isso é algo grande na criatividade. Ao usar uma experiência ruim para criar algo, você a neutraliza. Você pode ter uma experiência humilhante ou perigosa, mas se apropriar dela. Veja ‘Joyriders’ (1994), que fala da vez em que quebramos o carro e uns caras disseram que nos levariam até a oficina, mas depois percebemos que estavam roubando o carro e que era uma situação realmente perigosa. Se você transforma isso em uma música, consegue alterar a experiência e talvez até transformá-la em algo bom”.

Dito tudo isso, vale a pena ver alguns registros dos shows de Glasgow, de sábado, que abriram a turnê mundial do Pulp. Imagina um show desses no…