O nosso adeus ao true Steve Albini, paladino da música indie

Um dos caras mais fundamentais para a construção da cena que a gente gosta, a barulhenta dos anos 90 em diante, o produtor, músico e um pouco jornalista musical Steve Albini morreu ontem em sua casa em Chicago, aos 61 anos.

Um dos mais incansáveis defensores da música alternativa e, importante, amante de gatos, Albini comprou brigas históricas com festivais, revistas, selos mainstream, gente oportunista da indústria, tudo o que deturpava o “teen spirit” na cultura indie.

Guitarrista e líder da banda Shellac, Albini teve um fulminante ataque cardíaco praticamente dez dias antes do lançamento do sexto álbum do grupo, “To All Trains”, que sairia semana que vem, dia 17, e agora aparentemente está suspenso.

Mas foi como produtor é que assinou seus mais importantes trabalhos. Trabalhou com as bandas e artistas mais queridas da história, tipo Nirvana, Pixies, PJ Harvey, Mogwai, Superchunk, The Wedding Present entre muuuuitos outros.

Então foi comovente ver a elegia que Albini recebeu nas redes sociais por parte de músicos e grupos, assim que a notícia de sua morte propagou pelos quatro cantos musicais, ontem à tarde.

Aqui no Brasil, pedimos para um agente intenso na luta pelo crescimento da música independente no país desde sempre, contemporâneo a Albini, contar em texto como recebeu o passamento do produtor e músico americano, e como ele o representou na vida, já que ambos militam e militaram incansavelmente pela música independente, cada um de seu lado.

Com a palavra, o intrépido Fabricio Nobre, nome indie difusor e ligado à banda MQN, ao Bananada Festival e ao Cine Joia, entre outras muitas coisas. Fala, Fabricio!

***
Por Fabricio Nobre

“Dia corrido ontem, trabalhando de um lado pro outro e ouvindo Tortoise, Sonic Youth, Pavement muito mais do que o normal, influenciado por shows que vou ver neste mês. Naquele lance de escutar música no fone, olhando a tela do laptop e rolando dedo pelos apps: monte de notícia ruim vindo do SUL, NBA, Madonna (ainda), fake política, vídeos de escalada, comida. E aí me deparo com isto:

Foto do Steve Albini no perfil do camarada Fernando Sanches, produtor. Passei rápido pensando: “Vão fazer algo juntos, que fuderoso!”. Paro um pouco e leio: “Rest In Peace Steve”. Que merda! Como assim? Amigos mandam mensagem… Link de páginas, texto, real. Morreu Steve Albini, o mais importante (pelo menos para mim) produtor de música do mundo. 

O cara que gravou gravou, produziu, meteu a mão e deu a coragem para favoritos óbvios tipo Nirvana, PJ Harvey, Pixies, e que por isso também abriu ouvidos e cabeças de muita gente por consequência. A minha ele explodiu com Jesus Lizard, Wedding Present, Low, Dirty Three, Jon Spencer Blues Explosion, Superchunk, Mogwai, Cloud Nothings. Caramba!

Steve Albini não fazia concessões , não tinha papo furado. Tive a sorte de assistir a palestras dele no Primavera Pro e shows no Primavera Sound, tudo em Barcelona. Acho que Shellac foi a banda que mais tocou no festival Ibérico. QUE ARREPENDIMENTO DE NÃO TÊ-LO TRAZIDO PARA O BANANADA. Juro que tentei. Hehehehe

Ah, e não adianta buscar o Shellac no Spotify, não tem. Falei: o cara não abre mão de certas coisas. Está certo! 

Nesta semana meus CDs do Shellac e os produzidos por Steve Albini vão girar muito. Muito mesmo! 

Tem vídeos ao vivo no Youtube, tem entrevistas, vale revisitar. Eu recomendo este vídeo aqui:

Shellac ao vivo no Primavera Sound de 2011, gravado na mão de alguém. Eu estava na platéia, e tem como ver os caras no Low e outras bandas vendo o Steve no cantinho, em cima do palco.

ROCK SEMPRE para você, Steve Albini!”

***

* A foto que abre este post e ilustra a chamada da home da Popload, de Steve Albini com seu gato, é emprestada do Instagram do jornalista, cineasta e produtor André Barcinski (@andrebarcinski), que clicou Albini em seu estúdio dele em Chicago, em 1993, quando o bicho estava pegando imensurável na música independente.