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* Segue melancólica a despedida da era mesozóica na música, na dura adaptação aos novos tempos. Estou falando das românticas lojas de discos. No Reino Unido, enquanto a ex-poderosa rede HMV, quase um cartão-postal da Inglaterra, anunciou a venda de seus estabelecimentos para quem quiser comprá-la, lá em Seattle a incrível Easy Street Records fechou para sempre a porta de sua principal loja, na última sexta-feira.
Culpando a especulação imobiliária e fazendo questão de dizer que 2012 não foi um ano ruim para a tradicionalíssima loja da tradicional Seattle musical, o dono da ESR diz que vai fechar por não poder pagar o aumento de aluguel proposto agora no novo contrato. A Easy Street Records, abrigo de boa parte da história do rock americano do lado esquerdo do mapa, tem uma sede restante, menor e com um café anexado, em West Seattle, que por enquanto vai ser mantida.
A Easy Street Records que fechou era no bairro de Queen Anne e abriu em 2002 para dar vazão à grande procura que tinha na loja menor, inaugurada em 1988. A loja vendia CDs, discos em vinil e DVDs novos e usados, além de revistas e merchandise próprio. Em 2010, foi considerada pela “Rolling Stone” uma das mais importantes lojas de disco dos EUA. Outra revista, a “séria” “Time” citou a ESR num artigo como uma das dez grandes lojas de disco americanas. Neil Young, Elvis Costello, Kings of Leon e Mudhoney, para dar uma ideia do leque, já tocou nas dependências da Easy Street. Lana Del Rey, Patti Smith e Franz Ferdinand também.
No sábado, numa espécie de “funeral alegre” para parafrasear James Murphy quando acabou com o LCD Soundsystem, a Easy Street Records teve na frente de sua loja um show gratuito da banda Yo La Tengo. E nosso correspondente em Seattle, o chapa Rodrigo Hermann, praticamente um empresário do ramo de tecnologia, foi ver a Easy Street Records descer sua porta pela última vez, em especial para a Popload. Hermann conta sobre o fim de uma era.
Liquidação de encerramento da Easy Street Records, de Seattle, na sexta-feira
Por Rodrigo Hermann
E lá se vai outra loja de disco. A Easy Street Records, clássica megaloja local de Seattle, fechou as portas na última sexta. Mas, em vez de ficar de chororô, colocou o Yo La Tengo para tocar de graça no palco da loja.
Yo La Tengo fez seu show correto, tocou músicas do disco novo, viajou em músicas mais antigas e durante uma hora fez a trilha sonora pra uma loja lotada de apaixonados por música que se mostravam claramente emocionados ao ver o fim de uma era.
E, mesmo com a emoção lá em cima, nao era hora para a deprê. Tentando evitar isso, latas e latas de PBR (a cerveja mais hipster do universo) foram arremessadas ao publico. Vi pelo menos duas pessoas tomando latadas na cara. Nem por isso o sorriso estampado no rosto desapareceu. Momento histórico.
Noite ainda mais histórica para o DJ Troy da KEXP (rádio clássica de Seattle e cá pra nós a melhor rádio do mundo). Troy foi o primeiro funcionario da Easy Street. Ajudou a montar e hoje ajuda a desmontar a loja. Conheceu todos os funcionários e raças de cachorro que passaram por ali. Conseguiu seu emprego de DJ dentro da loja e no fim conheceu a namorada também debaixo daquele teto. Para fechar o ciclo só lhe restava uma opção, e de joelhos ele propôs a namorada em casamento, que sobre urros de aplausos e pernas que mal se aguentavam em pé aceitou.
E um pedaço da história da música de Seattle se fecha, mas assim como Matt Vaughan (dono da loja) citou, eu também faço aqui a minha referência ao Bruce, aquele Springsteen: “Everything dies baby that’s a fact, but maybe everything that dies someday comes back”.
*** Veja o discurso de encerramento do dono da Easy Street Records e trecho do show do Yo La Tengo na loja. Galera chorando e tal. Matt Vaughan agradecendo emocionado a galera por ter comprado tantos discos do Postal Service e do Modest Mouse. Triste dia para o rock.
*** Troy, o DJ da famosa KEXP, contando sua história como empregado da loja e pedindo a namorada em casamento dentro da Easy Street Records, onde se conheceram. Era agora ou nunca.
Pode ver o vídeo sem constrangimento. Ela aceita.
E vou confessar uma coisa. Em nome da loja, da rádio, de Seattle, do rock americano e tal, com essa cena eu ch…
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