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* Estreou finalmente domingo e reverberou ontem, nos canais HBO e na internet, a bombadíssima série “Vinyl”, criação de Martin Scorsese sobre uma ideia do “produtor” Mick Jagger, dos Rolling Stones. A trama, se você ainda não você sabe a esta altura, se passa num dos epicentros mais importantes da história da música: a efervescente Nova York do começo dos anos 70, mais precisamente 1972/73, num momento em que o rock não só estava tentando entender o que havia acontecido de revolucionário ou não no final dos anos 60, o jeito que Beatles e Stones formaram a “indústria musical”, o impacto da bicho-grilagem de Woodstock etc. como estava se rearranjando para assimilar o hard rock cabeludo inglês que chegava, a androginia que florescia, o progressivo que se alastrava, o jornalismo musical e as rádios veiculadoras que ganhavam um poder extremo. E, o mais legal, como tudo isso ia dar, dali a poucos anos, na explosão punk, disco e hip hop, gêneros ou subgêneros embrionário que iam dominar a cena nova-iorquina e não só.
Não era só isso e “Vinyl” promete mostrar em que a borbulhante era cultural nova-iorquina ia dar. O zeitgeist abusrdo da música também iria ser sentido nas criações artísticas, na moda, nas ruas. E iremos ver isso tudo em oito episódios que tentam se aproximar no mais puro espírito do “sexo, drogas e rock’n’roll”, através dos olhos de Richie Finestra (Bobby Cannavale), um exeutivo de gravadora em ebulição criativa, que quase não para em pé de tão contaminado por incertezas e epifanias a respeito do que está acontecendo, em crise no trabalho e com a mulher, negociando seu business com tubarões alemães ao mesmo tempo que procura uma banda que estoure e venda discos. De vinil, claro.
E no meio dessa bagunça de homens e ideias musicais mostrado por “Vinyl” tinha o New York Dolls, banda recém-formada, tocando num lugar recém-inaugurado e com aspecto decandente como o Mercer Arts Center, no Village, uma espécie de prédio ocupado da Trackers (São Paulo) da época, que virou o lugar para #diferentonas e #diferentoes daquele certo momento da cena nova-iorquina.
Os Dolls, ou sua representação na série do maneirista (para o bem e para o mal) Scorsese e que tem a “consultoria de luxo” de um dos “ícones da porra toda”, o roqueiro Mick Jagger, têm aparição de destaque no começo e no final do episódio piloto que foi ao ar no final de semana, de duas horas de duração. A banda dos míticos Johnny Thunder e David Johansen, uma formação que aglutina várias tendências num só grupo, funciona como uma espécie acidental de fio-condutor das primeiras horas de “Vinyl”, ainda por cima com “Personality Crisis” tocada ao fundo. Música mais indicada para tud da épocao. Sensacional.
No geral, “Vinyl”, pelo menos suas duas primeiras horas de um total de oito episódios, poderia ter virado um pastelão informativo mas se mostrou muito bem-resolvido nas mãos da turma de Scorsese. Aquela Nova York 1973 é uma época tão rica para ser representada que a série pode encantar e frustrar ao mesmo tempo. Mas o saldo, pelo menos para mim, é bem bom.
Alguns detalhes engraçados: no meio de seu elenco, “Vinyl” tem as presenças de Juno Temple e de James Jagger (foto abaixo). A primeira é a “garota dos sanduíches” (e das drogas) da gravadora de Finestra. E o filho do Mick Jagger é o líder da mais pura banda “punk” que “toca” em forma de arruaça em Nova York, segundo aprendemos com o seriado.
James Jagger – Seu personagem é inspirado no lendário Richard Hell, figura pró-ativa do começo do punk, baixista da luminária banda Television, formada exatamente em 1973 na Nova York retratada por “Vinyl”. Muitos falam que Hell foi o “primeiro punk” real que se tem notícia. Ontem saiu uma entrevista com Richard Hell, no Stereogum, sobre o que ele tinha achado da citação, do filho de Jagger e da série de Scorsese no geral, em seu primeiro episódio. Hell odiou.
Juno Temple – A inglesa Juno Temple nasceu em 1989, muito depois da época retratada por “Vinyl”, mas deve ter ouvido várias histórias do tipo em casa, principalmente sobre o punk. Ela é filha de Julien Temple, cineasta e documentarista do punk e amigo muito próximo de David Bowie e dos Sex Pistols. Fez em 1980 o histórico documentário “The Great Rock’n’Roll Swindle”, retratando a cena punk britânica, os Sex Pistols como pano de fundo e o empresário Malcolm McLaren como o picareta mais genial da história da música. “Na verdade eu nunca dei bola para essas histórias do meu pai”, revelou Juno. “Na minha infância eu estava mais interessada em brincar com minha melhor amiga, uma boneca que eu tinha e que para mim tinha vida. Acho que foi por isso que eu me tornei atriz.”
cocaína – no começo do episódio, nosso herói, doidão, recebe a visita num beco esquisito em Manhattan de um cara que vendia droga. O preço combinado, em 1973, segundo a série, era de US$ 180 pelas “tabeladas” 3 gramas e meia de “sugar” (cocaína), as chamadas “eight ball of coke”. Em preços de 2016, a quantidade da droga, fizeram as contas e as atualizações, sairia por US$ 1000. Bom, o cara tava de Mercedes.
Saint Rich – David Johansen, o vocalista do New York Dolls, é representado em “Vinyl” por Christian Peslak, da banda indie Saint Rich, de New Jersey.
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