Todo fim de ano, quando começam a pipocar listas de melhores discos em todo tipo de site, jornal e portal especializado, a seleção da revista The Economist sempre aparece como um ponto fora da curva. A publicação britânica é muito mais conhecida pelas análises de política e economia, mas há alguns anos transformou suas listas culturais em tradição, incluindo um ranking enxuto de álbuns que tenta resumir, em dez escolhas, o som do ano em escala global. Não é uma curadoria de nicho nem puramente pop. O charme está justamente em ver uma revista de vocabulário técnico e gráficos sobre PIB apontar para artistas de trip hop radiofônico, indie rock torto, gospel soul do interior dos Estados Unidos e rap britânico experimental lado a lado.
Em 2025, o topo da lista ajuda a entender essa lógica. “Addison”, estreia de Addison Rae, aparece como um dos grandes discos do ano, consolidando a influenciadora como popstar de fato, com um álbum que mistura trip hop, dance pop e house, elogiado pelo acabamento de estúdio e pela personalidade e ainda presente em rankings de vários veículos mundo afora. Ao lado dela surge “A Complicated Woman”, de Self Esteem, um terceiro álbum de dance pop intenso, com letras muito sinceras sobre poder, medo e contradições internas, descrito pela própria Economist como pulsante e cheio de questionamentos.
No eixo mais claramente alternativo estão “Double Infinity”, do Big Thief, um disco de indie rock e folk rock gravado ao vivo em estúdio, com a banda lidando com a saída do baixista Max Oleartchik e abraçando drones, texturas e canções que soam quase como mantras emocionais, e “Black British Music”, de Jim Legxacy, uma mixtape que costura rap britânico, afrobeats, emo, drill e garage em colagens sonoras caóticas, frequentemente comparada à estética de Jai Paul e já tratada como um futuro cult. Completando esse núcleo mais experimental, a revista inclui também “New Threats from the Soul”, de Ryan Davis & the Roadhouse Band, um álbum de americana e indie rock com canções longas, letras cheias de observações estranhas e belas e aclamação quase unânime da crítica.
O restante do top 10 mantém esse equilíbrio entre risco e acessibilidade. “Euro-Country”, terceiro disco da irlandesa CMAT, aparece como uma síntese do pop inteligente em 2025, um álbum que mistura country, indie, baladas dramáticas e certa dose de humor para falar de crise econômica, isolamento moderno, identidade e fracassos pessoais, já celebrado por diversos veículos como o melhor trabalho da artista até agora.
Tem ainda muita coisa boa na lista curtinha, incluindo, claro, o grande bafo pop do ano com “West End Girl”, o aguardado retorno de Lily Allen depois de sete anos, um disco de pop adulto e brutalmente honesto sobre o fim de seu casamento com David Harbour, tratado por muitos críticos como uma das obras mais fortes da carreira dela.
São apenas dez discos, mas que passeiam por recortes muito diferentes do que foi ouvir música em 2025.
Top 10 – The Economist
Addison
Addison Rae
Always Been
Craig Finn
Black British Music
Jim Legxacy
Blizzard
Dove Ellis
Can’t Lose My (Soul)
Annie and the Caldwells
A Complicated Woman
Self Esteem
Double Infinity
Big Thief
Euro-Country
CMAT
New Threats from the Soul
Ryan Davis & the Roadhouse Band
West End Girl
Lily Allen