O colossal show da cantora americana Madonna na praia de Copacabana tem tantas camadas que precisariam de uns 20 posts para tratar de tudo.
No sábado à noite, cerca de 1.6 milhão de pessoas tornaram Copacabana a maior pista de dança do mundo para saudar a rainha pop na festa-show de seus 40 anos de carreira. Gente na areia, na calçada, nas árvores, nos prédios, em helicóptero, vendo através de drone ou na água (literalmente ou em barcos).
A “Celebration Tour”, que começou em Londres em outubro do ano passado e teve 81 apresentações de Madonna no total, não podia ter outro encerramento.
E não podia ter tido outro nome, também. A celebração era da Madonna, mas também foi de seus fãs, da música pop, do Brasil em seu rachado momento político, do mundo.
Para este tanto de gente, num lugar como o Rio de Janeiro, de graça, transmitido ao vivo pela TV e internet, foi ao mesmo tempo uma festa de Revéillon e Carnaval tudo misturado.
Foi teatro, foi espetáculo, foi filosofia, cabaré, foi referencial à moda, foi referencial à liberdade, ao sexo, à feminilidade, ao afeto e respeito entre todo mundo, toda cor, todos os corpos, às pessoas que estão aqui, às que já foram e as que estão por chegar.
Um jeito tão dissimuladamente certeiro de combater preconceito e ignorância com música e festa que, entre o 1.6 milhão de pessoas que estava lá, uma grande parte chorou por uns 200 motivos diferentes possíveis. Seja por uma canção favorita tocada, seja por uma marca de intolerância vivida na pele e na alma. E isso tudo é tão Madonna. Desde os anos 80.
Se tivesse uma frase para definir esta passagem da cantora de 65 anos pelo Brasil, o primeiro dela no país em 12 anos, dava para resumir que o show em Copacabana foi “um resgate e uma reconexão em muitos sentidos”. E não só pela música.
Foi tão significativo neste momento, maio de 2024, a retomada da tão desgastada camisa amarela da seleção brasileira que nem a Madonna deve ter noção da importância plena desse ato, no “momento Pabllo Vittar” do show. Porque é isso. Até político-esportiva o show da Madonna em Copacabana foi.
Existiu a parte musical, óbvio, cheia de nuances, coisas boas e outras nem tanto para se falar, tal qual sobre as coreografias, mas todo o entorno deste “Madonna no Rio” foi tão gigantesco que é um pecado não tratá-lo na mesma medida como um show histórico e necessário.
O tal “momento Pabllo Vittar” sublimou todos os textos escritos sobre o show, como este, ou todo post de qualquer rede social colocados em conta em disparada, assim que aconteceu.
A Madonna, rainha, e a atual diva pop brasileira drag queen Pabllo Vittar cantando a versão samba-dance estendida do hino “Music” com uma galera jovem brasileira dando o ritmo, 1.6 milhão de pessoas cantando junto “Music makes the people come together”, devia entrar para a história, tipo Jimi Hendrix incendiando a guitarra em Londres em 1967. Exagero?
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Moral da história: houve uma certa reclamação pelo atraso de pouco mais de uma hora de Madonna em começar seu show, no sábado. Mas o que é um atraso de uma hora no adianto de tantos anos que ela sempre nos deu e ainda dá?
Foi o maior show da carreira de uma das maiores carreiras de uma artista pop. Para fechar em looping com o começo deste texto: isso não pode ser menos que colossal.
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* As imagens do show da Madonna usadas para este post são de Buda Mendes/Getty Images.