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* Lollapalooza, dia 2. Chovendo no molhado.
A chuva cai e o MGMT toca no Lolla Brasil. Os relâmpagos foram mais aplaudidos que a banda do Andrew
* Um público bem menor (e mais jovem também _ a faixa média de idade era praticamente a metade do dia anterior) faz menos filas, melhora a circulação dentro do festival e causa menos problemas antes de ir embora. Ouvimos números de presença entre 40 mil e 60 mil circulando pelo Jockey. Escolha o seu número preferido. Apesar de alguma chuva, o segundo dia de Lollapalooza funcionou direitinho. Até “homens-caixa” perambulavam pelo Jockey vendendo fichas, sem que você precisasse enfrentar filas (ou eles já estavam lá o tempo todo?). Aparentemente, o drama do ir-e-vir continuou, embora numa escala mais “tranquila” que no dia anterior, já que não há estacionamentos por perto nem transporte público suficiente para tanta gente. Talvez “traumatizado” pela noite anterior, as pessoas foram saindo aos poucos, sem aglomeração. E sem que o show acabasse, claro. =/
* Com um line-up mais eclético e mais completo, o segundo dia também saiu com vantagem nas atrações. Do rap dos Racionais ao dubstep do Skrillex, da Plebe Rude com Clemente ao Arctic Monkeys, teve pra todo mundo. Teve por exemplo o MGMT.
* MGMT – Avisos não faltaram para “pular” o show deles, haha. Não nos referimos à chuva obviamente se aproximando bem feia logo antes da apresentação, mas à péssima fama (sempre justificada) que a banda tem ao vivo. O começo da performance deles tentou contrariar essa noção, com algumas faixas quase-rock-progressivo OKs e a ótima “Electric Feel”, mas o restante do show ficou beirando o insuportável. Era irônica a forma como a plateia aplaudia os enormes relâmpagos que apareciam no céu ao redor do Jockey, mas mostrava cada vez menos entusiasmo com os músicos no palco. O setlist foi tomado de baladas acústicas insuportáveis, que teriam levado todos a um sono coletivo, não fosse pelo hit “Time to Pretend” perto do fim. De longe, era possível ver muitas pessoas saindo da apresentação, mas nenhuma voltando. Então, fica mais uma vez a recomendação: se MGMT estiver tocando perto de você, não vá. Veja outra banda, ou escute os discos deles (as faixas certas). O hit “Kids”, que era cantado por Andrew VanWyngarden com um vigor impressionante lá em 2006, e isso dava toda a energia que fez a banda famosa, parecia uma versão de velório no Lollapalooza BR. Andrew estava cansado (da canção?) ou não acredita mais nela, parecia. No final, o placar foi o seguinte: Relâmpagos 6 x 0 MGMT.
* FRIENDLY FIRES – O rebolado do Ed estava lá, os pequenos grandes hits do primeiro disco ainda estavam lá, mas a banda parecia, em bons momentos, que não estava. Foi um show correto do Friendly Fires, seguro, dançante, gostoso de estar ali no mesmo espaço que esses ingleses indie-dance legais e tal. Mas não estamos acostumados a shows corretos vindo deles, então a impressão é de que ficou faltando algo. Show do FF viram bagunça logo, e este do Lolla Brasil foi contemplativo-comportado o tempo todo (o do Cine Joia, no sábado, foi bem melhor). Mas estava lotadão e eles foram bem recebidos pelo público. O problema do Friendly Fires atual é acreditar demais no segundo disco, acho. As músicas dele crescem bastante ao vivo, mesmo. Mas, quando eles tocam o material pelo qual estouraram, parecem uma outra banda.
* JANE’S ADDICTION – Esse teve percepção “8 ou 80” até dentro da Popload. Tocando pela segunda vez no país (a primeira foi em 2009), agora com o baixista Chris Chaney substituindo o original Eric Avery, Jane’s Addiction encontrou uma plateia relativamente pequena para a fama que eles têm. Ou tiveram. O último show no palco Butantã atraiu os fãs da banda e curiosos, mas parecia que a maioria do publico preferiu ir mesmo foi guardar um lugar do outro lado, para ver o Arctic Monkeys.
O show do Jane’s Addiction foi tão profissional quanto aquele exibido em 2009, com Perry Farrell sendo o importante frontman que é (mesmo que isso signifique andar num fio da navalha roqueira que soa uma performance-farofa para quem não o conhece) e o grande guitarrista Dave Navarro esbanjando em seus solos (um pouco envelhecidos, mas ainda ali, firmes). Entretanto, a banda adicionou algumas músicas novas ao setlist (do álbum “The Great Escape Artist”, de 2011) que não funcionaram tão bem com o público quanto os clássicos de seus dois primeiros discos. Óbvio. As músicas novas também vieram acompanhadas de algumas teatralidades, ahmmm, exageradas (“performers” com diversas fantasias) que não se adequaram muito a um show de festival, mesmo a gente sabendo como a cabeça de Perry Farrell anda funcionando hoje em dia.
Perry Farrell mencionou rapidamente que a cidade de SP era ótima, mas o “the good side of it, anyway”. Pequena referência à famosa entrevista (e réplica) brasileira em que ele teria sido interpretado de forma errada?
* SKRILLEX – Outro que divide opiniões, mesmo dentro da Popload, mas what the fuck? Foi uma das grandes apresentações do festival inteiro. Não há novidades nenhuma no set do cara, mas a energia bruta está toda ali. Ele mexe com o pop, quebra o rock, reinventa o drum’n’bass, o electro e a house, perturba com os vídeos nervosos, calibra as luzes que atravessam a tenda de maneira magistral, colore o ambiente escuro quando tem que colorir, grita o famigerado “put your hands up” 8 mil vezes, dança mais do que gira botões (e olha que ele gira botões o tempo todo, em frenesi), desacelera quando se espera aceleração, inverte o ritmo quando estamos numa zona de conforto sonora. O CARA AGITA. E ainda vai crescer mais, dá pinta, embora já esteja muito grande. A molecada está com ele. Depois de ontem, a gente também.
* FOSTER THE PEOPLE – Faria um ótimo e agitado show de meia hora, se a apresentação não tivesse que ter 60 minutos. Tendo que enfiar todas as únicas músicas que tem ainda em sua curta carreira, em um show “longo” assim de festival, a apresentação do Foster the People fica bem irregular. Mas é outro novo nome que tem “a energia” e é carregada nos braços pela atual molecada, cujo gosto vai do indie-pop ao eletrônico like they just don’t care. Se o segundo disco for tão delícia quanto esse primeiro, do ano passado, em seus bons momentos, o Foster the People vai ser ainda mais vibrante ao vivo.
* RACIONAIS MC’S – Galera já duvidava que nem sequer eles iam entrar no palco. Mas rapidinho, tipo com apenas um pequeno atraso de QUARENTA E CINCO MINUTOS, o ainda poderoso grupo de rap paulistano Racionais MC’s se fez presente na tenda pós-Skrillex. Foi talvez a combinação sequêncial de festival mais bizarra de todos os tempos. E isso é um elogio, haha. Mano Brown, Ice Blue e Eddy Rock entraram no palco com 20 manos atrás. Era a Família Racionais. Fazia uns 15min e o quarto membro KL Jay já segurava o lugar com discotecagem black suingada, meio que preparando os ânimos. Discursos, palavras de ordem, quase nada do fundamental disco “Sobrevivendo no Inferno” (acho que teve só “Homem na Estrada”, pelo que vi), pregando a “diferença” (social e até musical), era os Racionais bombando o rap nos ouvidos de “playboys” (os que pagaram 300tão para ir ao Lollapalooza). Nas rimas, no ritmo, no som, o Racionais ainda mostra muita importância em 2012, mesmo depois de ter aberto as portas do rap nacional nos anos 90 e depois ter feito (poucos) discos sem o mesmo impacto. Sim, os Racionais ainda estão com a palavra.
* ARCTIC MONKEYS – O show da banda do nosso herói Alex Turner, debaixo de mais chuva, foi lindo. Bem encaminhado nessa vida desde que começou a tocar guitarra quando fazia cover de Strokes e Libertines, Turner aos poucos vai virando um mini-Josh-Homme. Tanto na postura quanto no visual mesmo (com um q de rockabilly anos 50). Topetão tinindo de spray, anel no dedo mindinho, jaqueta de couro, alguns gestos ensaiados e olhares a la Elvis. É um outro Alex Turner, vamos aceitar, vendo assim de “tão perto” (no Brasil). Interagindo com a plateia e até arriscando uns passinhos (sem graça e sem guitarra) na passarela montada em frente ao palco. Musicalmente, fica claro a influência. Na sequência, para começar, tocaram “Don’t Sit Down Cause I’ve Move Your Chair”, “Teddy Picker” e “Crying Lightining” de modo avassalador. Sem farofada, sem papinho ou muito “I love yousss”, foi uma pedrada em cima da outra, todas cantadas pelo público. A grande atração, no entanto, disputando close no telão e presença no palco, ainda que preso ao fundo dele, é o baterista Matthew Helders. Impressionante o comando total que ele tem do show, praticamente “regendo” a apresentação toda lá do fundo, para Alex brilhar na frente. São uma grande dupla, representando talvez a banda mais relevante dos últimos dez anos. O bis, para quem não fugiu para conseguir um táxi, ficou com “When the Sun Goes Down”, “Fluorescent Adolescent” e “505”. Tudo impecável: do topete ao setlist. Ao nosso lado, um menino ensandecido, com sotaque mineiro, berrava sem parar: “VAI SE F•D•R DAVE GROHL. FOO FIGHTERS O C•R•LHOOOO”.
Haha.
* COBERTURA POPLOAD NO LOLLAPALOOZA BRASIL – Alisson Guimarães, Ana Carolina Bean Monteiro, Fernando Scoczynski Filho, Lúcio Ribeiro e Fabrício Vianna (fotos)