Leonard Cohen se despediu de sua musa, Marianne, em julho

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No final da noite de ontem soubemos que a música que a gente gosta ficou mais pobre neste “2016 maldito”, porque o cantor, poeta, artista e compositor canadense Leonard Cohen morreu, aos 82 anos, deixando uma obra maravilhosa de 50 anos de carreira. Assim como o inglês David Bowie, que partiu desta em janeiro, Cohen vai embora nos entregando, como derradeiro gesto, um último álbum, “You Want It Darker”, lançado não tem três semanas.

A Popload dedica hoje, misturado aos posts do dia, um miniespecial a Cohen, como homenagem. Para isso vamos contar com escritos do poploader Eduardo Palandi, que sempre soube tudo de Cohen quase tanto do que sobre o Suede.

Em julho agora, faz uns três meses, Coen já havia feito uma certa despedida desta vida, ao por sua vez se despedir de sua musa, a norueguesa Marianne Ihlen, por carta. A história toda é a seguinte:

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Leonard Cohen era poeta até quando escrevia prosa. Quem leu “A Brincadeira Favorita”, romance de estreia do canadense (publicado em 2012 por outra falecida, a editora Cosac & Naify), sabe disso. Mas até em cartas Cohen mostrava sua poesia.

Em agosto deste ano, a carta que o músico escreveu para a norueguesa Marianne Ihlen, sua ex-mulher e musa permanente, ganhou notoriedade. Ela e Leonard Cohen se conheceram na ilha grega de Hidra, no Mar Egeu, em 1960. Boêmios europeus e artistas americanos formavam parte da fauna de Hidra naquela época, e reza a lenda que o escritor Axel Jensen, marido de Marianne, envolveu-se com a namorada de Cohen – e a coisa virou uma versão beatnik de “O Quatrilho”, de certa forma.

O casal ficou junto por sete anos, período em que Cohen publicou “A Brincadeira Favorita” e o livro de poemas “Flores para Hitler”, além de compor algumas das músicas que integrariam sua estreia musical, “Songs of Leonard Cohen”, de 1968 – que contém “So Long, Marianne”, para a musa norueguesa.

Outro clássico de Cohen, “Bird on the Wire”, que já foi descrita como uma versão boêmia de “My Way”, eternizada por Frank Sinatra, também teve Marianne Ihlen como inspiração, provavelmente quando o canadense fala dos vacilos que pode ter dado:

Se eu, se eu tenho sido indelicado,
Espero que você possa apenas deixar para lá
Se eu, se eu tenho sido infiel,
Espero que saiba que nunca foi a você.

Mesmo com a separação, de alguma forma os dois continuaram juntos: quase todos os discos de Leonard Cohen chegaram ao primeiro lugar das paradas norueguesas, feito que o poeta não repetiu nem em seu Canadá natal.

Seria um “efeito Marianne”? Nunca se soube. Mas a história do casal comoveu a radialista Kari Hesthamar, que conversou com ambos e relatou o relacionamento em um livro, “So Long, Marianne – Ei Kjaerleikshistorie” (“Adeus, Marianne – Uma História de Amor”, traduzido para o inglês em 2014). Outro norueguês fã de Cohen, o cineasta Jan Christian Mollestad convenceu Marianne a rodar um documentário sobre sua vida – e foi ele quem informou o cantor que sua musa estava internada, debilitada por uma leucemia. Imediatamente, Cohen enviou uma carta a Marianne:

Bem, Marianne, chegamos a esta época em que somos tão velhos que nossos corpos caem aos pedaços; acho que a seguirei muito em breve. Saiba que estou tão perto de você que, se estender sua mão, acredito que poderá tocar a minha. Você bem sabe que sempre a amei por sua beleza e sua sabedoria, mas não preciso me estender sobre isso, já que você sabe tudo. Só quero lhe desejar uma boa viagem. Adeus, velha amiga. Com todo amor, a verei pelo caminho.

Marianne Ihlen morreu em 28 de julho de 2016, e a carta de Cohen foi divulgada semanas depois. E o bardo canadense não foi infiel à musa: menos de quatro meses depois da partida dela, ele também nos deixou e agora a poderá ver pelo caminho.

So long, Marianne AND Leonard.

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