Lembra quando…: a Popload entrevistou o Strokes? Pela primeira vez, lááá em 2001?

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Ahhh o Strokes de 2001…

Chegou quinta-feira e este é o dia, pelo menos nas redes sociais, de fazer um flashback pessoal. O #tbt, né? Já tiramos a poeira de um bate-papo com o Morrissey de 2012 e, na semana passada, foi a vez de uma entrevista com a musa Debbie Harry que nunca havia sido publicada no site, só na “mídia impressa”.

A memória de hoje é bem especial. Talvez ela até vire algo maior um dia, mas isso é assunto para outro post. Em 2001, um amigo jornalista que morava em Londres deu a letra sobre uma bandinha de Nova York que estava começando a aparecer no circuito alternativo (na época, a gente ainda não usava o termo indie enquanto tribo/CENA) e que ele achava que eu deveria ouvir. A banda era o Strokes e me virando no Napster, consegui entender de cara o “buchicho”. Procurando o que já havia sido publicado sobre eles, não achei grande coisa, mas dei de cara com uma foto do grupo em um bar tomando… cerveja brasileira. Pesquisa aqui e ali e chegamos ao Fabrízio Moretti. Resumindo MUITO, foi assim que em abril de 2001 o Strokes foi parar na capa da Ilustrada, caderno de cultura do jornal Folha de São Paulo. Uma banda que ainda nem tinha um disco gravado. Pensa.

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O Fabrício é o da direita – Reading Festival, 2001

No mesmo ano, fui até a Inglaterra para o Reading Festival (foto acima tirada no backstage e publicada originalmente na proto-Popload, a coluna online Pensata). A banda foi levada do palco secundário para tocar no palco principal na semana do show, mesmo contra a vontade dos organizadores, forçados pela aclamação de fãs (e dos críticos de música, os mais entusiasmados). Vale lembrar que, um ano depois, escalaram os Strokes como headliner do mesmo festival, fato que lembra o ocorrido com o Nirvana dez anos antes (1991-1992).

Enfim, a matéria publicada em abril de 2001 na Ilustrada era acompanhada de uma entrevista que fiz com o Moretti. Na época, ele tinha dois CDs de música brasileira em casa. Nem te conto quais… No mesmo dia que o jornal saiu, fui ao festival Abril Pro Rock e me apresentaram a um jornalista do The New York Times que cobria música. Ele nunca tinha ouvido falar do Strokes.

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QUASE FAMOSOS

Conheça a banda nova-iorquina que é considerada a mais nova “grande esperança do rock’; saiba sobre a trajetória do grupo dos bares até a disputa de dez gravadoras e leia entrevista com o baterista, que é… brasileiro

POR LÚCIO RIBEIRO
SEXTA-FEIRA, 20 DE ABRIL DE 2001.

The Strokes. De início, tudo o que você precisa saber é o nome desse quinteto de garotos de Nova York, todos com idade entre 20 e 22 anos. Nova sensação do rock, “novo Nirvana”, “next big thing”, a salvação da lavoura?

É cedo para afirmar, mas há muito tempo a cena roqueira não ficava tão excitada com um grupo novo como agora, com Strokes.

E, se for levado em conta que é a banda iniciante mais comentada no corredor Nova York-Londres em anos, citada por roqueiros veteranos em entrevista, com shows cuja platéia é recheada de “notáveis” do pop…

Tudo isso é para uma bandinha que tem apenas um (1!!!) single (três músicas) e dez (10!!!) propostas de gravadoras americanas para o primeiro álbum.

O tal único single da banda, o espetacular “The Modern Age”, lançado só no Reino Unido, já tem uma modesta aparição em lojas de importados de SP. Canções da banda também começam a ser ouvidas nas pistas de clubes de música independente.

A intersecção Brasil-Strokes vai além. A Folha descobriu que o baterista do grupo é… brasileiro. Fabrizio Moretti, 21, que está na entrevista ao lado, é carioca, pai italiano/mãe brasileira, mas vive em NY desde os quatro. O Strokes, além de Moretti, tem Julian Casablancas (vocal), Nick Valensi e Albert Hammond Jr. (guitarras) e Nikolai Fraiture (baixo).

E a imprensa musical, inglesa ou americana, não sabe o que fazer com essa banda que nem um álbum cheio tem, nem gravadora nos EUA tem, nem um esquema mínimo de marketing tem.

O rótulo que mais acompanha o Strokes em resenhas é: “a banda é um encontro do melhor de Velvet Underground com Stooges, com Kinks, com Nirvana”.

No site oficial da banda há disponível uma versão em MP3 para “The Modern Age”. As outras canções, “Last Nite” e “Barely Legal”, estão no Napster.

O grupo apareceu ao rock em janeiro de 2001 no semanário inglês “New Musical Express” como “o single da semana”. Uns poucos shows do Strokes na Inglaterra já fizeram com que a revista “The Face”, de novas tendências, dedicasse duas páginas à banda, com uma enorme foto dos rapazes com o Empire State ao fundo.

O “hype” atravessou o Atlântico e atingiu o lar da banda: os EUA. O grupo começou a correr o país abrindo shows em uma curta turnê do grupo inglês Doves. Nisso a “Rolling Stone” já tinha dado uma resenha grande do single “The Modern Age”, que nem havia sido lançado nos EUA, num espaço dedicado para álbuns.

Os ingressos da turnê começaram a se esgotar rapidamente, e os shows do Strokes se tornaram bem mais badalados que os da atração principal. A “NME” deu chamada de capa para uma curtíssima resenha de um show do Strokes no Texas e nem falaram do Doves, prata da casa.

No mês passado, a primeira apresentação do grupo em Los Angeles reuniu na platéia Morrissey e Courtney Love, entre outros.

A “Rolling Stone”, agora em abril, em seu especial “What’s Cool Now” (O Que É Legal Agora), elegeu o Strokes como “a próxima grande banda do rock”.

Esse conto a la “Quase Famosos” (filme de Cameron Crowe) da vida real acaba nesta semana, dentro de um estúdio em NY, onde o Strokes grava a toque de caixa seu desde já esperadíssimo primeiro CD, com um contrato assinado com a “major” RCA-BMG e com uma turnê européia armada para junho e julho, para depois entrar nos concorridos festivais britânicos de verão. E daí para…

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Fabrizio Moretti

Temos medo de tanto interesse, diz brasileiro

DA REPORTAGEM LOCAL

Aquela foto do Strokes na “Rolling Stone” (essa do topo desta página), na mesa de um bar em Nova York, com garrafas da cerveja brasileira Brahma à vista, tinha que ter uma explicação.
“Foi idéia minha, sim. Pedi a cerveja para botar alguma coisa do Brasil na foto do Strokes, uma das primeiras que fizemos”, disse o baterista Fabrizio Moretti à Folha, por telefone de Nova York, em uma entrevista que discorreu bilíngue no intervalo de gravações do primeiro álbum da badalada banda.

Carioca, habitante de Nova York desde os quatro anos (tem 21), Moretti conta que o Strokes nasceu numa sala de aula de colégio, há dois anos, “como muitas e muitas bandas nascem nos EUA todo ano”. Ainda sem assimilar o que tem acontecido com a banda desde o ano passado, o baterista fala que ele e os amigos estão, claro, assustados.”De repente, surgiu muito interesse no Strokes. E isso dá medo. Até pouco tempo nos perguntávamos: “Será que só nós gostamos da banda?'”, diz Moretti. “Mas ao mesmo tempo isso nos dá felicidade. Não temos nada a perder. Esse interesse todo na banda nos dá suporte para fazermos o que mais gostamos, que é música”, afirma o baterista. Os membros do Strokes largaram recentemente seus empregos “ganha-pão” (trabalhos em bares e videolocadoras) para pensar só na banda.

E do que os meninos do Strokes gostam, quais as influências e tal? “Todo mundo gosta de muita coisa diferente. Falando por mim, posso dizer que adoro Beatles, Stooges e Velvet Underground. Não me identifico com nenhuma banda nova”, afirma Moretti, que diz ter em casa CDs brasileiros do Skank e do Djavan, mandados por parentes do Rio.”Olha, eu tenho os CDs, mas isso não quer dizer que goste.”

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