>>
* Nenhum post aqui, por mais longo que seja, pode expressar em linhas, em volume de texto o que Lou Reed representou para esse tipo de música que a gente gosta. O marcante cantor e guitarrista americano, fundador do icônico Velvet Underground, um dos grupos mais importantes da história do rock, foi dado oficialmente como morto neste domingo de manhã, sunday morning.
Cada um com sua idade, mas posso dizer que, minha história particular com a música independente começou meeeesmo no ano de 1981, acho. E, dependendo da idade que você tem, a morte de Lou Reed pode chocar em intensidades diferentes. A mim, neste ponto em que me encontro, é uma morte tão triste e pesada quanto foram a de Joe Strummer (Clash) e Joey Ramone.
Não pela morte em si, porque afinal, veja bem, todo mundo morre. E a morte de alguém de 71 anos como Reed, teoricamente, tende a ser mais “aceita” do que a de um sujeito como Kurt Cobain, por exemplo, que se foi aos 27 anos. Mas o negócio que dói é o que representa essa “página virada”.
Por todas as ondas musicais pelas quais eu surfei na minha vida, punk, new wave, pós punk inglês, rock alternativo americano dos 80, Nirvana, britpop, novo rock, sei lá quais mais, quando você, interessado, quer estudar e se aprofundar mais no gênero/estilo/pegada, de um modo ou de outro o nome de Lou Reed sempre foi ou é ou será referencial. Seja por seu trabalho solo, seja pelo serviço prestado ao rock com o surgimento de sua Velvet Underground, a banda que fundou com John Cale no meio dos anos 60.
A voz e a guitarra de Reed, usando o VU como veículo, lá no meio dos anos 60, deram o caráter urbano ao rock. Fez o rock virar cosmopolita na efervescente Nova York, nos efervescentes EUA da época. O gênero deixou de ser jeca ou de ter “apenas” franjinhas (Beatles). E, ao fincar a bandeira do rock em cidade grande, fez o estilo entrar pelo lado certo, ou MUITO ERRADO graças a Deus: o lado garagem, marginal, underground, alternativo. Fez o rock caminhar pelo lado selvagem. E urbano. E associando a experimentalismos, à arte, pela sua relação com o artista Andy Warhol ou com gente “doida” tipo David Bowie. Lou Reed, por um acaso do destino, nasceu no Brooklyn, uma abençoada terra para o novo rock, experimentalista e artístico até hoje. Talvez seja assim até hoje muito por causa dele.
E, no domingo de manhã, o transformador Lou Reed foi dado como morto. E parte do u(U)nderground foi com ele. De novo, numa sunday morning.
Assim que foi anunciada, a morte de Lou Reed trouxe à internet um monte de textos em homenagens a ele. Gostei mais de um escrito para o site inglês The Arts Desk (.com) pelo grande Peter Culshaw, que também publica seus trabalhos no “Guardian” e no “Observer”. Curti mais pelo jeito como foi escrito do que pelas obviedades naturais de obituários desse tipo. Vale a lida.
Chama em título o Lou Reed como o Sumo Sacerdote do rock (“Lou Reed, High Priest of Rock: 1942-2013”). E, num significativo sub-título, em inglês, disse tudo: “One of rock’s greatest songwriters and visionaries has left the building”.
Mistura Lou Reed, Lester Bangs, o disco “Transformer”, doenças, putas, heroína e uma entrevista feita com o músico há dez anos. Vou poupar cliques trazendo aqui pelo menos o começo do texto de Culshaw, em inglês, para não ferir a escrita com traduções:
We had heard he was ill, and had a recent liver transplant, but then he always seemed to be off colour. When Lester Bangs interviewed him in 1973 for Let It Rock he seemed ill then. When Bangs met him he had just had his greatest hit album Transformer, and seemed to be immediately blowing his new-found fame. Bangs talked of a “vaguely unpleasant fat man” who said “I can create a vibe without saying anything, just by being in the room.”
But if rock music from the time of Elvis’ first records was a religion with Elvis a Messiah, Lou Reed became a High Priest. In the late sixties, when rock was becoming hippy, fey and prog, Lou Reed brought rock back to its trangressive, sexually expressive roots, writing about drag queens and heroin.
The Velvet Underground albums, although not commercially successful at the time, may be the most influential records ever made. At a time people were increasing playing around with complex time signatures and beginning to sing about Tolkeinesque subjects, Lou proved it was possible to be minimal, sexy and make a significant artistic statement . “One chord is fine,” as he put it. “Two chords are pushing it. Three chords and you’re into jazz.”
R.I.P, L.R.
>>