Hellbenders, de Goiânia para o Rancho de La Luna. Tipo QOTSA, tipo Arctic Monkeys

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* Não está dando para segurar as bandas de Goiânia em Goiânia. Uma das melhores safras de grupos da cidade mais rock’n’roll do Brasil precisam cada vez mais ir além, além. Tal qual os internacionais Boogarins, o artístico-planetário Black Drawing Chalks, as produções todas, os festivais. Desta vez, recentemente, vimos a poderosa banda indie-metal Hellbenders ir fazer pós-produção de seu próximo álbum no histórico estúdio Rancho de La Luna, na mágica Joshua Tree, na Califórnia, lar de bandas como Queens of the Stone Age, Foo Fighters, Arctic Monkeys e outra galera das boas.

A história toda será trazida para cá pelo colaborador poploadico Fernando Scoczynski Filho, que não só construiu o texto-documentário agora como fez um vídeo esperto entrevistando os Hellbenders pelo Skype, de Goiânia, intercalando com cenas da aventura desértica dos goianos pelos lados do Coachella.

O texto abaixo de Fernando, mais o minidoc em vídeo e a entrevista com os Hellbenders estarão disponíveis também, em inglês, no site gringo Antiquiet.

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Por Fernando Scoczynski Filho

Acontece alguma coisa estranha em Goiânia. As melhores bandas de rock brasileiras têm saído de lá, já faz algum tempo. Anos atrás, foi a fenomenal Black Drawing Chalks, que agora deu uma parada por tempo indefinido; no lugar, vieram a psicodélica Boogarins, que já destacamos várias vezes aqui, e a banda de stoner/desert rock Hellbenders, que teve uma passagem pelo South By Southwest deste ano e até gravou uma sessão exclusiva para a Popload. Agora, os integrantes do Hellbenders se preparam para lançar seu segundo disco, gravado todo em solo americano, no lendário estúdio Rancho de la Luna, e contam para a Popload e o site gringo Antiquiet como foi o processo todo.

Para quem não conhece a história, o Rancho de la Luna é um estúdio localizado em Joshua Tree, no meio do deserto californiano. Por lá, já passou gente como Queens of the Stone Age, Kyuss, Mark Lanegan e, mais recentemente, o Foo Fighters, onde gravaram um episódio da série “Sonic Highways” e uma faixa do disco novo deles. Também foi lá que o Josh Homme realizou as várias “Desert Sessions”, sessões onde vários músicos são convidados para “lembrar por que começaram a fazer música” (a última teve até a PJ Harvey). Também foi lá que o Arctic Monkeys gravou o disco “Humbug”, produzido pelo Josh Homme, que marcou uma mudança definitiva na carreira da banda. Alex Turner até disse que o Rancho é o “estúdio favorito” dele.

No entanto, não é qualquer banda que pode fazer um disco no Rancho de la Luna: só grava lá quem estiver a convite do dono, Dave Catching. E como o Hellbenders conseguiu entrar nessa? O vocalista Diogo Fleury conta a história: “O convite pegou a gente de surpresa, completamente. Em março deste ano, tocamos no festival SXSW, e num dos shows que fizemos o cara na mesa de som era o Jimmy Ford, um amigo do Dave Catching. Parece até mentira, mas foi uma coincidência mesmo. O cara pirou na banda, mostrou para o Dave e nos convidou por e-mail.”

Após o “chamado”, ainda tinha o detalhe financeiro. Para gravar o disco nos EUA, o Hellbenders optou por fazer uma campanha de crowdfunding, vendendo o disco antecipadamente, por meio do site Catarse. O dinheiro arrecadado seria usado para financiar a gravação. Fleury lembra como foi a experiência de crowdfunding: “A gente sabia que era uma ferramenta que, caso bem utilizada, com um projeto bem montado, poderia dar frutos. Mas surpreendeu positivamente. A ideia chegou a quem é muito fã, e também até uma galera que às vezes nem acompanha tanto, mas se sensibilizou com a causa. Muitos até conheceram a banda pelo Catarse”.

Perto do fim do prazo para financiar o disco, ainda faltava cerca de um terço dos R$ 30 mil pedidos pela banda: “Confesso que ficamos com um pouco de medo no meio do projeto, sabíamos que não era algo barato. Ainda faltando uns R$ 10 mil, batemos numas portas de empresas que tinham a ver com o Hellbenders, e conseguimos várias parcerias”.
No fim, arrecadaram quase R$ 40 mil.

De acordo com o vocalista, a experiência que tiveram no Rancho também foi melhor do que imaginavam. Conseguiram gravar tudo o que planejavam e mais um pouco: “A gente já tinha composto sete músicas, no estúdio que temos aqui, o Coruja, e levamos para lá já encaminhadas. A primeira coisa que o Mathias Schneeberger [engenheiro do disco] falou pra gente foi que o Rancho tinha uma tradição de que todas as bandas gravando lá tinham que compor uma música inédita no estúdio. O processo de gravação rendeu muito, foi bem produtivo, e conseguimos fazer uma música lá, 100% do Rancho. Inclusive, nem tem nome ainda.”

Por mais que sintam falta de mais espaço dedicado ao rock no Brasil, o Hellbenders fica feliz com os avanços que as bandas nacionais têm feito, especialmente após o caminho trilhado pelo Black Drawing Chalks. De acordo com o guitarrista Braz Torres, “o pessoal precisa estar a fim de tocar, botar fé que, se você trabalhar bastante, como qualquer outro trabalho, pode ter recompensas que você nunca imaginou”.
O baixista Augusto Scartezini emenda: “A banda tem que entender que é um caminho longo, não foi de um dia para o outro que chegamos lá fora. Muitos caras desistem na primeira dificuldade”.

Ainda no assunto, Fleury completa: “Manter-se no mercado do rock brasileiro não é fácil. Todo mundo que está nessa é um pouco guerreiro. Mas vejo com bons olhos a situação atual, porque cada vez tem mais bandas se profissionalizando, e tendo uma visão mais ampla do que só tocar ao vivo”.

A banda voltou ao Brasil com o segundo disco gravado, e já está trabalhando para terminá-lo. O lançamento sai em 2015, acompanhado de uma turnê, claro.

Veja o vídeo com a entrevista e cenas dos Hellbenders em Joshua Tree.

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