>>
Como você já deve estar sabendo, aconteceu neste domingo último mais uma edição do Grammy, talvez o prêmio mais chato da “indústria”, justamente por ser uma premiação da indústria. Por mais que o Beck possa ter sido um ponto fora da curva e o Sam Smith ser conhecido por “nós” mesmo pelo seu envolvimento com o Disclosure, quem acabou salvando mais uma edição arrastada da premiação foi o grande AC/DC, lendária banda que vem ao Brasil no fim do ano, como você leu aqui.
Para dar uma geral no evento e o Grammy não passar batido, a Popload convidou o Fernando Scoczynski para dar seu parecer da premiação com o “nosso olhar”.
* Por Fernando Scoczynski Filho
Todo ano, o Grammy Awards é um saco, e todo mundo está cansado de ouvir isso. Mesmo assim, em 2015, conseguiram deixar pior ainda, e fazer a premiação uma das mais chatas dos últimos tempos – tão chata que nem o twitter conseguiu salvar, o que já é uma raridade em si.
A performance de abertura veio por conta do AC/DC, tocando duas músicas (a nova “Rock or Bust”, a antiga “Highway to Hell”), num show cheio de pirotecnia e surpreendentemente longo. Como uma banda tão antiga conseguiu um espaço tão grande num show supostamente dedicado à música nova, não sabemos. O que sabemos é que toda aquela pirotecnia da apresentação viria a ser a coisa mais animada a acontecer durante toda a premiação.
No decorrer de umas 3 horas (que pareceram umas 6), foram prêmios e mais prêmios insignificantes, para artistas que o público indie/jovem não gosta/não se interessa. Sam Smith, com seu plágio de Tom Petty, ganhou 3 Grammys; Beyoncé levou dois prêmios, Taylor Swift nenhum; Pharrell ganhou com a insuportável “Happy”. Jack White e St. Vincent ganharam na “pré”-premiação que só podia ser assistida pela internet, e nem passou na TV. A única surpresa (muito) bem-vinda foi o Beck, com seu ótimo “Morning Phase”, ganhar Disco do Ano e Melhor Disco de Rock. Por mais difícil que seja chamar aquilo de “rock”, concordamos com os votantes do Grammy que realmente é um disco bom – melhor que o último do U2, pelo menos.
Daí que o Beck foi receber o prêmio, e surgiu um Kanye West ao seu lado, no palco. Seria uma reprise do episódio do VMA de 2009, onde Kanye arrancou o microfone da Taylor Swift para dizer que “Beyoncé had one of the best videos of all time”. Mas, dessa vez, Kanye se comportou um pouco mais, e voltou a sentar antes de falar qualquer coisa, apesar de ter visivelmente atrapalhado Beck. Mais tarde, Kanye deu uma entrevista dizendo que todos entenderam a intenção dele, e que o Beck deveria “respeitar a arte, e ceder seu prêmio à Beyoncé”. Tem como ser mais babaca?
Quanto à parte musical, é difícil até lembra o que aconteceu, tamanho o tédio que permeou a noite toda. Quase todas as músicas tocadas ao vivo eram baladas monótonas, seja de qual gênero fossem. Até o Beck tocou com o Chris Martin (por quê?), e só conseguiu ser levemente menos chato que o resto. Pharrell apareceu pra cantar Happy, vestindo uma roupa de auxiliar de hotel com tênis amarelo, num arranjo novo da música que mais parecia trilha sonora de filme do Batman (mas depois voltava ao normal insuportável). Katy Perry cantou uma música chata, lembrando em nada os tubarões que viraram meme em sua apresentação do SuperBowl. Em um raro momento um pouco mais interessante, Annie Lennox apareceu para cantar “I Put a Spell on You” com o Hozier.
No fim, valeu pra ver o AC/DC ser o AC/DC, e o Kanye West ser o Kanye West – por melhor ou pior que isso seja.