Em seu primeiro disco ao vivo, Cat Power repete famoso show do “Jesus” Bob Dylan, de 1966

A musa indie Cat Power resolveu homenagear o grande Bob Dylan e soltou, nesta sexta, um novo disco ao vivo – seu primeiro na carreira – que remete a um show histórico do astro norte-americano.

Gravado no suntuoso Royal Albert Hall de Londres, o show recria do começo ao fim a setlist de uma apresentação de Dylan feita em 17 de maio de 1966 e que recebeu o título “Royal Albert Hall”. Embora o título do bootleg, talvez o mais famoso de Bob em sua carreira de seis décadas, remeta ao nome da famosa casa de espetáculos londrina, o show de fato ocorreu foi em… Manchester, no Free Trade Hall.

Mas o que torna o show tão icônico, afinal? Vamos lá. Naquela época, Bob Dylan e os Hawks, que se tornariam pouco tempo depois a The Band, faziam um dos últimos shows de uma turnê tumultuada pela Europa, que foi recebida de forma hostil. Tudo porque Dylan havia, meses antes, começado a testar instrumentos elétricos como a guitarra nos shows, algo que os puristas de plantão, fãs do folk raiz do cantor e compositor, não curtiram.

Em um dado momento desse show em Manchester, numa transição de set, Dylan trocou o violão pela guitarra antes de cantar a faixa “Like A Rolling Stone”, quando ouviu muitas vaias e um sonoro grito de “Judas” por parte de um fã. O recorte inesquecível desta passagem foi recapitulado no show de Cat Power, que resolveu responder “Jesus” ao ouvir alguém na plateia repetir a palavra “Judas” antes da performance de “Ballad Of A Thin Man”.

“Foi algo impulsivo. Não esperava que o público recriasse sua parte do show original também, mas então eu queria deixar tudo claro, de certa forma, que Dylan é uma divindade para todos nós que escrevemos músicas”, comentou a cantora, que tem Bob como uma de suas principais influências.

“Mais do que o trabalho de qualquer outro compositor, as músicas de Dylan falaram comigo e me inspiraram desde que comecei a ouvi-las, aos 5 anos de idade. Ao cantar ‘She Belongs To Me’ no passado, às vezes eu transformava isso em uma narrativa em primeira pessoa: ‘eu sou um artista, não olho para trás’. Realmente me identifiquei com isso desde sempre. Mas para o show no Royal Albert Hall, é claro, eu cantei da maneira que foi originalmente escrita, com o devido respeito pela composição e pelo grande compositor que ele é”, completou a cantora, que informou que fará algumas apresentações especiais do álbum, começando com duas datas em Los Angeles, neste mês.

O lindo “Cat Power Sings Dylan: The 1966 Royal Albert Hall Concert” tem 15 canções e pode ser ouvido abaixo. De bônus, o registro em vídeo do famoso incidente com Dylan em Manchester, em 1966, considerado um ponto definitivo do pop naquela época graças à pronta resposta do cantor ao fã.