Ele vive. O show (de música) ao vivo do mestre de horror John Carpenter no Halloween de Londres

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Não seria uma noite normal a de terça passada, dava para sentir.

Ao chegar à casa de shows Troxy, no lado oeste de Londres, que também serve como lugar para lutas livre e casamentos segundo me avisou o motorista do Uber Mercedes (“Está indo ver uma lutinha no Troxy?”), o público era recebido logo na entrada por abóboras ocas com velas acesas dentro, iluminando uma lápide onde se lia Judith Meyers.

Como o ingresso estampava o nome John Carpenter, 68 anos, como atração “musical”, a falecida Judith era alguém familiar. Judith Meyers foi a primeira vítima trucidada pelo assassino no cultuado clássico de horror B “Halloween”, de 1978. No caso, pelo seu irmão, Michael Meyers. No caso também, um filme do famoso cineasta trash John Carpenter.

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Mas o que é exatamente um show musical de um diretor de cinema?

No caso de Carpenter, e para seu séquito de fãs de seus filmes, como “Christine – O Carro Assassino”, “Eles Vivem”, “A Coisa” e “Fuga de Nova York”, seu show ao vivo, espetáculo batizado de “Release the Bats”, com o cineasta comandando um sintetizador à frente de uma banda de cinco músicos jovens, um deles seu filho e um outro seu neto, é o principal evento do Halloween do planeta. Desminta-me se eu tiver enganado. Nem o Muse fantasiado de The Cramps é tão legal.

Com uma temporada britânica recente que culminou em Manchester (dia 30) e duas em Londres (segunda e ontem) de ingressos esgotados, sequência de uma turnê que visitou os EUA e grandes festivais europeus de verão tipo o Primavera Sound espanhol, John Carpenter mostrou um lado músico que pode soar diferente, mas não é acidental. Não só ele é o responsável pelas composições de trilha sonora de seus filmes desde os anos 1970 (com exceção de “A Coisa”, de 1982, feita por Ennio Morricone) como nos últimos dois anos tem uma discografia de dois álbuns: “Lost Themes”, do ano passado, e “Lost Themes 2”, um exercício do Carpenter músico que, se não é brilhante e virtuoso, dá o que seu público quer: versões de seus famosos temas, algumas prolongadas para virar uma música cheia.

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A apresentação ao vivo do cineasta enquanto músico carrega na eletrônica por causa dos sintetizadores pilotados por Carpenter e seu filho, mas é seu neto Daniel Davies, guitarrista, que leva o show em direção ao rock algo progressivo. Ninguém canta, é só tocado. Carpenter fala umas frases de efeito nos intervalos de algumas canções, na linha “Enquanto as pessoas sonharem, os filmes de terror vão existir para sempre, para tornar esses sonhos pesadelos”.

Poderia ser um show médio de uma banda regular, não fosse a interação do público com a banda e os bons cortes de imagens dos filmes cults de Carpenter passando no telão atrás, casando com os temas. Isso torna o show de Carpenter imperdível.
Judith Meyers deve ter se revirado feliz em sua tumba e feito seu altar na frente do Troxy mexer quando o tema de “Halloween” foi tocado.

* A foto de John Carpenter da home da Popload é do jornal inglês “The Times”.

*** A Popload viaja à Europa a convite da companhia aérea Air France.

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