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Nem parece, mas lá se vão quase trinta anos desde o lançamento do primeiro disco do Yo La Tengo, trio de New Jersey liderado por Ira Kaplan e que praticamente inventou o indie. Famosos por suas covers inusitadas de bandas obscuras (ou, de músicas obscuras de bandas – pouco – conhecidas), fizeram um álbum todo dedicado a essas versões, o incrível Fakebook, de 1990 (tudo isso?!). Dali saíram covers para trabalhos de onze artistas (além de cinco inéditas), sendo Daniel Johnston e Cat Stevens talvez os mais “mainstream” da lista, para dar uma ideia do nível “indie” da coisa.
Pois eis que o sucessor de “Fakebook”, o aguardado “Stuff Like That There”, traz mais uma séries de versões, mas desta vez, de artistas mais conhecidos, o que pode ser um risco. Para gravar esse décimo-quarto trabalho, a banda convidou Dave Schramm, ex-guitarrista da primeira fase do grupo nos anos 90.
“Stuff Like That There” já tem capa, tracklist, alguns áudios disponíveis aqui e ali e agora um vídeo, que, pasmem, foi logo da música mais grudenta das histórias das músicas grudentas. Aquela que certamente você já teve que aprender a cantar em uma aula de inglês na vida e mesmo que não tenha, decorou por osmose: “Friday I’m In Love”, do The Cure.
No vídeo, a baterista Georgia Hubley passeia “bucolicamente” por Hoboken, cidade de New Jersey onde a banda se formou. Enquanto ela caminha sem pressa, cantarolando tal qual uma princesa-grunge da Disney, nem percebe que o caos está instaurado ao seu redor (e por sua causa). Corações despencam do céu massacrando quem estiver pela frente. Ela nem liga porque claro, é sexta-feira e ela está… in love. <3 Awwwwn. Não achava isso possível, mas a versão ficou fofa, leve e até tirou o ranço que eu tinha dessa música. Cuidado: ela gruda no ouvido e você corre o risco de passar o dia nesse estágio inerte da Georgia, mas vale a pena:
Em entrevista para a Newsweek, no mês passado, Ira Kaplan explicou a escolha das músicas deste novo disco, faixa a faixa. Sobre “Friday I’m In Love” ele diz:
“Tocamos essa música em uma festa do site The Onion, depois de eles terem zoado a gente em um artigo (*n.e.:no post, o The Onion zoava que centenas de críticos, alunos de arte e donos de lojas de disco haviam morrido soterrados em um show do YoLa). Topamos tocar na festa deles contanto que eles recriassem esse cenário, mas que quem morresse fosse a banda, não o público. Durante o show, as luzes começaram a falhar e as caixas de som falsas caíram em cima da gente e “morremos” ali mesmo. Fomos retirados do palco em macas. Nesse dia, tocamos ‘Friday I’m In Love’ e ela parecia ser uma música legal para festa, só isso. Nunca mais tocamos de novo até alguém da plateia pedir essa música em uma session em Londres. A gente nem lembrava como tocar e tivemos que reaprender. Eu amava o The Cure no começo, aqueles primeiros singles. Não tanto ‘Killing An Arab’ quanto ‘Boys Don’t Cry’ e ‘Jumping Someone Else’s Train’. Eu amava essas músicas e o disco Three Imaginary Boys. Eu meio que parei de ouvir quando os singles foram ficando menos pop.”
>> “Stuff Like That There” vai ser lançado no dia 28 de agosto, pela Matador. A capa, que você vê acima, foi feita pela própria Georgia. E aqui, as faixas do disco:
01 My Heart’s Not in It (Darlene McCrea)
02 Rickety
03 I’m So Lonesome I Could Cry (Hank Williams)
04 All Your Secrets (remake of track from Popular Songs)
05 The Ballad of Red Buckets (remake of track from Electr-o-pura)
06 Friday I’m in Love (The Cure)
07 Before We Stopped to Think (Great Plains)
08 Butchie’s Tune (The Lovin’ Spoonful)
09 Automatic Doom (Special Pillow)
10 Awhileaway
11 I Can Feel the Ice Melting (The Parliaments)
12 Naples (Antietam)
13 Deeper Into Movies (remake of track from I Can Hear the Heart Beating as One)
14 Somebody’s in Love (The Cosmic Rays with Le Sun Ra and Arkestra)
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