Do Glastonbury ao Cine Joia. A “gostosa” e quase famosa britânica Rachel Chinouriri brilhou em show em SP

Rachel Chinouriri chegou a São Paulo com sua cartela de bingo britânico preenchida: apresentação no Glastonbury deste ano, indicações no BRIT Awards, elogios da realeza do pop Adele e um álbum que conta suas histórias irreverentes nos subúrbios de Londres. O típico checklist que transforma qualquer novata na cena musical do Reino Unido em promessa séria. 

Mas, em vez de posar como estrela em ascensão, ela preferiu o caminho mais humano: subiu no palco do Cine Jóia (casa lotada!) na semana passada tomando uma lata de guaraná, confessando que agora é seu novo vício e agradecendo timidamente aos gritos de “Rachel eu te amo” e “Gostosa” vindo de seus fãs, animadíssimos com a primeira passagem da cantora no Brasil. 

Para uma artista que já estudou na BRIT School, aquela fábrica de talentos que deu ao mundo Amy Winehouse, FKA twigs, King Krule e a própria Adele, foi quase engraçado vê-la se deixar seduzir por um refrigerante local e o flerte safado do público brasileiro. 

Mas a conexão com o Brasil nao é inédita: meses atrás, Rachel já tinha aberto seu coração na internet sobre o quão ingrato é tentar ser uma mulher negra em um espaço historicamente ocupado por bandas brancas do britpop.

O curioso é que sua música justamente dialoga com essa tradição: Coldplay, Blur, Oasis estão no DNA de sua música, mas que ela devolve tudo filtrado por uma perspectiva feminina e contemporânea como se tivesse atualizado o gênero para a realidade de 2025. E quem melhor que o público da internet brasileira para curar essas feridas metralhando “comes to brazils” acolhedores?

Entre faixas de “What a Devastating Turn of Events” (2024), seu primeiro álbum de estúdio, e acompanhada de uma banda enxuta com apenas guitarra, baixo e bateria, Chinouriri mostrou que o essencial, quando bem executado, basta. Os backing vocals ficaram por conta dos fãs que cantaram as letras na íntegra de seus principais singles “All I Ever Asked”, “Never Needed Me” e “23:42” com tanta familiaridade que parece que ela já tem uns dez anos de carreira pop.

E o que mais ela poderia levar de lembrança de um lugar que a acolheu tão bem? Horas antes do início show, Rachel pousou num stories para as redes sociais ao som do clássico “Deixa a Vida Me Levar”, de Zeca Pagodinho.

Mais tarde o DJ reforçou a brincadeira tocando a faixa antes da abertura do show. No fim das contas, cabe a metáfora: do cinza londrino ao calor brasileiro, ela aprendeu o que Zeca já tinha razão: a vida é quem leva, e a gente só vai.