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* Sai só na sexta-feira, mas, como vamos estar muito ocupados com o Lolla e já o recebemos por aqui por “algumas vias”, vamos dar agora nosso primeiro olhar em cima do disco novo do guitarrista fodão Jack White.
“Boarding House Reach” é seu milésimo disco gravado, mas o terceiro sob sua assinatura solo. Foi gravado em Nashville, Nova York e Los Angeles. Teve um punhado de músicas das novas mostrado ao vivo no último final de semana, em shows quase privates que não teve imagens em vídeos por motivos de celulares confiscados.
Aqui, abaixo, pelo viés especialista do poploader Fernando Scoczynski Filho, nosso enviado ao mundo de Jack White, trazemos as primeiras impressões de “Boarding House Reach”.
Vai, Fernando. Conta a verdade!
Os últimos trabalhos de Jack White, por melhores que fossem, pareciam estar caindo numa mesmice – mal comum à maioria dos artistas do gênero rock. Mesmo com alguns momentos de influência hip-hop nos seus dois últimos trabalhos, “Dodge & Burn” (do Dead Weather, 2015) e “Lazaretto” (solo, 2014), estes ainda eram predominantemente comportados. Levando em consideração as excentricidades que White exibe com sua “persona” pública (especialmente com os lançamentos inusitados de sua gravadora, a Third Man Records), era de se esperar que isso se transportasse para sua música em algum momento. O que finalmente acontece neste “Boarding House Reach”, talvez o trabalho mais inusitado da carreira de White até agora.
Está claro que as influências do compositor mudaram. Em várias entrevistas, ele tem mencionado os músicos que fizeram parte da gravação do disco – que já trabalharam com Kendrick Lamar e Kanye West, por exemplo. Também tem falado bastante sobre a faixa “Over and Over and Over”, que era para ser uma colaboração com o Jay-Z em certo momento. De fato, parece que White mirou no hip-hop, mas acabou acertando outro alvo.
Enquanto “Blunderbuss” e “Lazaretto” lembravam muito discos clássicos dos Rolling Stones, “Boarding House Reach” tem mais a ver com “Head Hunters”, de Herbie Hancock, ou “Blow by Blow”, de Jeff Beck, discos clássicos de jazz fusion. Há quase nada de rock tradicional no disco, e é justamente essa a maior qualidade dele.
White até mencionou que algumas das faixas aqui são extratos de jams mais extensas, e poderiam ocupar “um lado inteiro” de um disco do Miles Davis (para os desinformados: jazz). É fácil imaginar músicas como “Corporation”, “Ice Station Zebra” ou “Respect Commander” durando 10 minutos, e este sendo um disco duplo (ou triplo?). Felizmente, a duração que cada uma tem no álbum já é suficiente.
Por um lado, é ótimo ouvir um som mais arriscado; por outro, a escassez de canções tradicionais pode fazer falta para muitos ouvintes. Não há nenhum single fácil para ser extraído aqui – até “Over and Over and Over”, com seu riff viciante, tem alguns vocais esquisitos demais. Isso pode ser bem o que alguns fãs queriam neste momento, e o oposto do que muitos esperavam. De qualquer forma, White parece renovado compondo músicas que mesclam outro gênero, e o disco tem uma energia que não estaria presente em “mais um” disco de rock.
Claro, nem tudo no álbum é necessariamente agradável ou interessante. Faixas-interlúdio como “Abulia and Akrasia” e “Everything You’ve Ever Learned” só acrescentam confusão, e a abertura com “Connected by Love” e “Why Walk a Dog?” é fraca em comparação ao resto do disco.
Mas, no geral, o material bom mais do que compensa a parte fraca do álbum. Jack White entregou uma agradável surpresa, que pode não revolucionar o gênero (as referências são óbvias demais para tal), mas é o suficiente para revitalizar sua carreira e fugir da mesmice.
** Foto de Jack White na home da Popload é de Rick Diamond, da Getty Images, usada pela revista online “Spin”.
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