Depois das fases aflitivas, o Metallica toca hoje em São Paulo. Em Curitiba, banda provocou um filho e dividiu a plateia

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* Um rehab pesado do vocalista e guitarrista James Hetfield e uma pandemia louca depois, o supergrupo americano Metallica chega finalmente a São Paulo para uma apresentação esgotadaça no estádio do Morumbi nesta noite, para honrar os compromissos assumidos antes de a covid parar tudo.

A banda já está no Brasil há alguns dias e até já fez filho no país. Explicando: um bebê nasceu no estádio Couto Pereira no sábado durante a apresentação deles em Curitiba, depois que a agora mãe arriscou ir gravidaça ao show. O menino nasceu no posto médico do show, ao som de “Enter Sandman”.

O Metallica ainda tocou em Porto Alegre na sexta anterior e de SP parte para um concerto mineiro na quinta.

A Popload esteve no show do Metallica sábado em Curitiba e traz um pouco da atmosfera (fria) que os fãs paulistanos da banda encontrarão no show de hoje, nas palavras do poploader Fernando Scoczynski Filho, que inclusive deixa um recado final.

Após mais de dois anos de atraso pandêmico, o Metallica finalmente se apresentou em Curitiba, no Estádio Couto Pereira – enésima vez da banda no Brasil, primeira vez da banda na capital paranaense. A catarse coletiva que tem se aplicado a esse tipo de evento gigante também estava lá, porém com um jeito decididamente curitibano: frio abaixo de 10ºC e plateia comportada. Durante quase duas horas, o Metallica fez exatamente o que era esperado, o que alguns chamam de “burocrático”, mas vamos chamar por aqui de “profissional”.

O show abriu com “Whiplash” do primeiro disco da banda, logo foi para “Ride the Lightning”, e a pop “The Memory Remains”. Não seria um show só de hits, nem focado na fase mais “clássica” da banda. O quarteto soa afiado – com um som potente daqueles, mesmo que não estivessem, seria difícil distinguir. O visual é fantástico e coerente com o show, e claramente foi projetado para uma produção daquele tamanho, de preencher um estádio. Os telões são gigantes, os lasers não são cafonas, e a pirotecnia não acontece apenas no palco, mas na barreira entre a pista premium e a comum, algo que eu, pessoalmente, nunca tinha visto em um show assim.

Em dois momentos da apresentação, o vocalista/guitarrista James Hetfield mostrou um pouco de sensibilidade, com falas que inevitavelmente remetem à passagem pela rehab que ele teve no fim de 2019, que acabou cancelando uma série de shows na Oceania.

Em Curitiba, após “The Unforgiven”, o vocalista falou à plateia: “Forgive yourself, yes you can. Yes you can” (“Perdoe a si próprio, você pode. Você pode sim”). Depois, em “Fade to Black”, outra fala tocante: “This song goes out to anyone that has trouble inside. Let someone know. Let me know” (“Essa canção é dedicada para todos que têm problemas dentro de si. Contem para alguém. Contem para mim”). Pode ser que Hetfield já tenha falado isso centenas de vezes em outros shows, mas não importa. Com aquelas canções, e com o contexto atual, tanto de sua saída do rehab quanto de uma crescente preocupação mundial com saúde mental num cenário de (pós?) pandemia, foram comentários perfeitos. Muito melhor que um óbvio “We love you, Curitiba”.

A história dos setlists atuais do Metallica já é batida, de todas as passagens recentes da banda por aqui, mas vale lembrar: no decorrer do show, era perceptível uma divisão na plateia, os que curtiam “certas” músicas, e os que curtiam “as outras”. Não é segredo nenhum que o grupo passou por uma fase sonora muito mais mainstream nos anos 90, e talvez nem lotariam estádios hoje em dia se não tivessem aqueles hits todos. Logo, talvez metade (ou mais) dos ingressos vendidos foram para pessoas que conhecem apenas “Enter Sandman” e “Nothing Else Matters”. Outros só se empolgam com material dos primeiros quatro discos, infinitamente mais pesados e velozes.

Tendo isso em vista, os setlists atuais do Metallica fazem um trabalho absolutamente honroso de conciliar essas duas “metades” de sua carreira (que não são bem metades, mas ok). É difícil imaginar alguém saindo do show verdadeiramente insatisfeito. Tocaram “Whiskey in the Jar”, hitzinho da era MTV, mas também tocaram quatro músicas do disco “Ride the Lightning”, a obra-prima metal de sua discografia. Conciliar esses sons, e fazer tudo parecer uma unidade relativamente coerente, é um grande feito.

Uma coisa que marca esta fase atual do Metallica é a ausência de concessões. Ao contrário da maioria das outras bandas dessa escala que ainda estão na atividade, não dá para falar coisas como “mas a voz dele deteriorou muito”, “mas esse setlist tem muita coisa do disco novo”, “mas eles só tocam coisa antiga”, “mas eles fazem muito playback”, “mas eles têm um monte de músicos contratados” etc. A apresentação é absolutamente profissional, do começo ao fim; e por isso é difícil botar defeito.

Alguns fãs poderiam fazer um setlist dos sonhos bem diferente, mas isso agradaria apenas metade (ou menos) do estádio. Na forma em que a banda está, é o melhor Metallica que poderíamos ter, e quem não ver está perdendo uma bela oportunidade.

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* Abaixo, o Metallica tocando “Enter Sandman” em Curitiba, no exato momento em que um menino nascia ali perto do palco.

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