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* Uma das bandas indies de sucesso mais, digamos, improvável para o tamanho que está ficando, a War on Drugs tem talvez a mais significativa carreira do rock hoje. Americano e além. E carrega, talvez e também, a música mais bonita, “Red Eyes”.
O primeiro sintoma disso, percebido por aqui, foi as tratativas com a banda para um show no Brasil agora em 2015. Soube de pelo menos três tentativas, armadas desde o ano passado. O preço ia aumentando à medida que o prazo para fechar negócio era estrangulado, corrido, sob o risco de o grupo da Filadélfia fechar com outras praças, outros países, outros continentes, porque os convites só aumentavam. E no fim a coisa escapou. Brasil (se nada mudar drasticamente nos planos de tour da banda que fez 20 shows por mês em 2014 e tem possibilidade e convite para repetir ou ultrapassar isso neste ano, se quiser) só em 2016. E olha lá.
Banda que nem é nova, não tem galãs na composição, não é um som “pop” ou fácil, o líder não tem um nome emplacável (Adam Granduciel), o War on Drugs surgiu em 2005, lançou três discos, mas o terceiro, que saiu em março do ano passado, quebrou a banca indie, virou hit internacional, descarregou no rock americano uma penca incrível de hits e fez a banda ter um dos shows mais disputados hoje por festivais, tours, sessions de rádios.
O War on Drugs chegou nesta semana na Ellen DeGeneres, programa vespertino preferido das senhouras americanas, conduzido por uma das apresentadoras, comediantes e/ou personagens mais conhecidas do mundo artístico americano, tocando sua inacreditável “Red Eyes”, um dos singles poderosos do álbum “Lost in the Dream”, o tal terceiro.
A banda acabou de sair de dois gloriosos shows no Coachella, tem à vista turnê americana boa parte esgotada e depois europeia com escalação em um monte de festival de verão, para depois engatar turnê no Japão e Austrália.
O segundo disco, de 2011, o um pouco irregular “Slave Ambient”, já botou a banda no panteão indie. Mas o negócio com o “quase-perfeito” “Lost in the Dream” ficou bem mais sério.
O War on Drugs carrega em seu som muitas referências “naturais” e está despertando algumas coisas inusitadas. A banda é “acusada” de resgatar em cheio um certo gênero chamado Americana, sonoridade de raiz dos EUA que mistura country, folk, rock, R&B, teve uma grande fase nos anos 80, serviu de escudo de “bom gosto” contra o country pop mainstream dos 90 e influenciou de REM a Wilco. De Beck até os atuais Alabama Shakes. Dos anos 2000 para cá, era mais definido/tratado como “alternative country” ou “alt-country”.
É fácil encontrar elementos de Bruce Springsteen, Neil Young, Tom Petty e até Bob Dylan muito claramente no som recente do War on Drugs, faixa-a-faixa. A hereditariedade nas músicas do grupo é impressionante. Fora que começo a ler que músicas como “Red Eyes” ou “Under the Pressure” estão fazendo um “resgate dos sons de FM anos 80 em rádios indies do conglomerado da NPR”.
As conexões do War on Drugs são tão loucas e tantas com uma formatação musical de época que até tem emulações claras em algumas canções de uma banda britânica dos anos 80, o tipo Waterboys, gigante no período. A “Uncut”, considerável revista “adulta” de música da Inglaterra, chamou o War on Drugs de “banda trans-generational”. Super isso.
“Red Eyes” há um tempinho vem sendo trabalhada como novo single. É música que é fácil de ouvir em rotação considerável em rádios díspares como a americana Sirius XMU, a australiana Triple J e a inglesa BBC 6Music. Apesar de, no ano passado, embora não programada para isso, escapou do “sistema organizacional de músicas trabalhadas” para espontaneamente virar um single, de tão nas graças que caiu quando o álbum foi lançado.
Ela representa perfeitamente a Americana embutida no War on Drugs. Pode-se “ouvir” Bruce Springsteen nela. Pode-se imaginar um rolê de carro numa estrada no meio dos EUA com o rádio num volume alto. Clima ameno, os vidros abertos e o vento batendo na cara. Essa música tem imagens.
Ela foi construída, como todo o disco, em cima e em clima de uma séria frustração amorosa de Granduciel, após um período de depressão. O terceiro disco do War on Drugs levou mais de dois anos para ficar pronto por causa disso, dizem. Dá para sentir essa tensão de coração partido em “Red Eyes”, principalmente quando ele, na letra, “xinga” a pessoa por ter ido embora, vai e volta em ansiedade, compreensão e raiva e diz, “I would keep you here, but I can’t”.
Abaixo tem “Red Eyes” nesta semana apresentada para os milhões de telespectadores da tarde do “Ellen”, mais a música em desempenho no recente Coachella Festival, filmada meio sem jeito da galera. E um outro vídeo com uma versão acústica durante o festival no QG da rádio 91X, emissora “new wave” de San Diego.
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