Com Fontaines D.C., Amyl & The Sniffers e Massive Attack no meio, mais de 400 artistas aderem à campanha “No Music For Genocide”, em apoio à Palestina

Foto: Jim Dyson/Getty Images

A cena musical internacional se uniu de forma robusta para jogar luz em mais um capítulo da interminável guerra envolvendo Israel e Palestina. Mais de 400 artistas, entre eles Fontaines D.C. e Amyl & The Sniffers, anunciaram apoio à campanha No Music For Genocide, um movimento global que pede o boicote cultural a Israel diante do “genocídio em curso em Gaza”. Entre os nomes já engajados estão também Rina Sawayama, Primal Scream, Japanese Breakfast, Faye Webster, Kneecap, Yaeji, King Krule, Soccer Mommy e MØ.

O movimento propõe que músicos e detentores de direitos autorais retirem seus catálogos das plataformas de streaming em Israel. Para isso, muitos artistas independentes já editaram manualmente seus territórios de distribuição ou solicitaram bloqueios geográficos a gravadoras e distribuidoras. A coalizão pressiona ainda os grandes grupos Sony, UMG e Warner a fazer o mesmo, lembrando que essas companhias suspenderam operações na Rússia logo após a invasão da Ucrânia.

“A cultura, sozinha, não pode parar bombas, mas pode rejeitar a repressão política, influenciar a opinião pública em favor da justiça e recusar a normalização de qualquer empresa ou nação que cometa crimes contra a humanidade. Este é apenas um passo dentro de um movimento global para enfraquecer o apoio que sustenta o genocídio de Israel”, ressalta o grupo em manifesto.

A iniciativa também destacou a inspiração em boicotes históricos, como o que ajudou a desmantelar o regime de apartheid na África do Sul, e em ações recentes desde trabalhadores do cinema que prometeram não colaborar com grupos israelenses até estivadores no Marrocos que se recusaram a carregar navios com armas destinadas a Tel Aviv.

“Não se trata de atacar indivíduos, mas de rejeitar a indústria cultural israelense, que opera em conluio com instituições globais da música e da mídia para maquiar o apartheid e o genocídio. NO ART FOR APARTHEID, NO MUSIC FOR GENOCIDE”, destaca outro trecho.

Entre os participantes, o Massive Attack deu um passo ainda mais radical. Além de retirar sua música de Israel, o grupo pediu formalmente à Universal Music a remoção de seu catálogo de todo o Spotify, citando investimentos do CEO da plataforma, Daniel Ek, em uma empresa de drones militares e tecnologias de inteligência artificial aplicadas a caças de combate.

“O precedente histórico da ação de artistas contra o apartheid na África do Sul, diante dos crimes de guerra e genocídio cometidos por Israel, torna a campanha ‘No Music For Genocide’ imperativa. No caso do Spotify, além do peso econômico sobre os músicos, soma-se agora um fardo moral e ético: o dinheiro de fãs e artistas acaba financiando tecnologias letais e distópicas”, se posicionou o duo, que virá ao Brasil em novembro.

O Massive Attack também fez paralelos com o recente movimento Film Workers for Palestine, que reuniu mais de 4.000 profissionais do cinema em boicote a instituições israelenses.

“Em 1991, a violência do apartheid caiu na África do Sul em parte graças a boicotes, protestos e à recusa de artistas em colaborar. Em 2025, o mesmo princípio se aplica ao Estado genocida de Israel.”

O grupo de trip hop inglês já boicota apresentações em Israel desde 1999 e, em abril, havia saído em defesa do Kneecap, grupo irlandês alvo de investigação antiterrorismo no Reino Unido por seu posicionamento pró-Palestina. Nesta quinta, 18, eles dividem o palco com os próprios Kneecap em um show na Wembley Arena, em Londres.

Ontem, na mesma Wembley Arena, o músico e produtor Brian reuniu um elenco de peso, em uma outra frente, no show beneficente Together For Palestine, O grande destaque foi o Portishead, que não esteve lá presencialmente, mas enviou um vídeo com uma versão ao vivo de “Roads”, clássico do disco “Dummy”, de 1994. Foi a primeira apresentação do grupo desde 2022, quando fizeram um set de cinco músicas em um evento beneficente da War Child em apoio à Ucrânia.