Coachella, parte 2: festival celebra Guns N’ Roses e LCD Soundsystem no deserto

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Ah, o Coachella!!!!

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Tem sempre uma mesma notícia boa e outra ruim em ir ao segundo final de semana para o Coachella. Toda a afetação dos VIPs e das meninas de vestido de crochê em cima de lingerie ou biquíni aparece bem mais no Coachella First Weekend. E, no segundo, se você é aquele ser estranho que vai para o festival do deserto “só” por causa da música, vale bem mais a pena, embora também no primeiro final de semana os “convidados especiais” dão mais o ar da graça.

Mas neste final de semana que passou, desde sexta, o Coachella teve o Prince… Espiritualmente falando. E o festival ficou roxo por causa disso.

Li em algum lugar uma ótima definição do perfil de público atual do Coachella, nos últimos anos: “This is Coachella, a cosplay convention for the wealthy children of LA. All the press making fun of the flower crowns and crocheted white dresses has in no way deterred the legions of women decked out in them; the men tend toward the frat boy standard — T-shirts, baseball caps, and cargo shorts — though a brave few appear to be wearing the beta versions of their Burning Man costumes”.

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Sem juízo de valor aqui, apenas constatando, mas acrescente aí ordas de chineses, chicanos e blogueiras de moda do Brasil e você tem o quadro atual perfeito do público do Coachella.

Mas continua sendo um dos festivais mais bonitos do mundo, mais bem cuidado e organizado. Com o telão do palco principal mais interessante. E a tenda eletrônica mais absurda. Fora o Despacio, o “clubinho” do James Murphy funcionando todos os dias.

Estou aqui quebrando a cabeça para descrever o tal telão do palco principal, inacreditável, e ainda o show da australiana SIA, ontem, inacreditável idem. Mas confesso estar tendo uma certa dificuldade. Vamos ver se sai algo até o final do post.

Mas, com reprodução de textos escritos para a Folha de S.Paulo, foi tudo mais ou menos assim, nos últimos três dias no deserto.

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Talvez o mais importante evento musical ao ar livre americano, o paradisíaco Coachella Festival pareceu ter antecipado o feriado de Halloween em uns seis meses para celebrar os mortos, entre sexta e domingo passado.

Estamos no meio do deserto da Califórnia a duas horas de carro de Los Angeles para a nossa série de shows. E também para o segundo final de semana do festival, que repete a escalação do anterior e cerca, no mesmo espaço de visual deslumbrante, perto de 160 bandas e mais de 200 mil pessoas em seus três dias de duração. Muita música misturada a sol de dia, frio à noite, ocasionais tempestades de areia, gigantes esculturas de arte e incontáveis palmeiras iluminadas de roxo (sim, por causa de Prince).

O artista “purple”, que morreu semana passada, foi citado de alguma forma em grande parte dos shows. Dos novinhos eletrônicos Disclosure aos veteranos do metal Guns N’ Roses (o baixista Duff McKagan tinha estampado em seu instrumento o símbolo que representava Prince), passando pelos eletropop Jack Ü e indo até a world music afrocubana das irmãs Ibeyi, que são francesas. O passamento de Prince mexeu com a música.

David Bowie, morto em janeiro, também esteve espiritualmente aqui e ali no festival, cujas duas de suas três atrações principais, até pouco tempo atrás, também estavam, digamos, mortas.

Na sexta, o LCD Soundsystem, instituição indie-eletrônica de Nova York chefiada por James Murphy, que tinha encerrado as atividades havia cinco anos, voltou aos palcos para atender ao convite e às cifras do Coachella. E batizaram essa turnê de retorno de “Back from the Dead”, cujo cartaz, com seus integrantes fazendo pose de zumbis, virou camiseta oficial bastante vendida no festival.

O show foi espetacular, na medida em que um show irregular normal do LCD Soundsystem pode ser espetacular. Entre oito e dez pessoas num palco caótico tocando muitos instrumentos e batuques, com James Murphy reclamando da voz “danificada”, diante de uma galera diversa que não necessariamente era sua galera. Banda mais apropriada para tenda com 8 mil pessoas do que para um palco daqueles com 30 mil, o LCD Soundsystem, ainda bem, é daquelas bandas que se sustentam por suas músicas marcantes. E elas, da primeira à última do setlist, estavam lá, voando lindas ao sabor da ventania do deserto.

Outra ressurreição promovida pelo Coachella 2016, essa realmente um “big deal” noticioso dos infernos, foi a do Guns N’ Roses, que viveu seu grande auge nos anos 90 e depois se afundou em toda sorte de problemas. Até vermos no palco do Coachella, sábado retrasado e neste, o impagável vocalista Axl Rose e o exímio guitarrista Slash, juntos neste ano pela primeira vez desde 1993.
E, acredite ou não, a “magia Guns”, pelo menos no Coachella, pareceu intacta e renovada. A apresentação, de um certo heavy metal direto nas fuças da geração hip hop e EDM que forma o grosso da plateia do festival hoje, só não foi melhor porque Axl Rose cantou sentado num trono, graças a um pé quebrado há duas semanas em um dos shows de aquecimento para a grande volta. Sua dancinha de cobra ficou prejudicada.

Na sexta, em um de seus sete espaços para shows do Coachella, o duo inglês The Kills fez um ótimo show debaixo de impiedoso sol forte. Sexy e barulhento como só Allison Moshart e Jamie Hince sabem fazer. As novas músicas do próximo disco, o quinto, a ser lançado em junho, soaram tão boas ao vivo quanto os pequenos hits dos últimos quatro discos.

Na enorme tenda de eletrônico, outro grande destaque foi o grupo inglês Underworld, seminal nome da popularização do gênero nos anos 90, que fez hipnótica performance tanto com músicas conhecidas como “Born Slippy” (aquela do filme “Trainspotting”) como “I Exhale”, novo single do recém-lançado “Barbara Barbara, We Face a Shining Future”, o primeiro álbum da banda em seis anos.
A garota australiana Courtney Barnett foi uma das atrações do sábado, comandando seu power trio que anima tanto a cena independente dos EUA que já rendeu comparações ousadas com um Nirvana antes da explosão. Guitarrista canhota e vocalista, ela desempenha quase à perfeição suas canções niilistas e românticas sobre café coado. No estilo agridoce (calma no começo, barulhenta no refrão, calma de novo).

Içado da tenda eletrônica para o palco principal, o que parece ser um exagero a princípio, o jovem duo de DJs irmãos britânicos Disclosure surfa bem a onda do eletrônico pop que assola a garotada americana. Pelo menos, no caso deles, a música é às vezes “tocada” (eles usam alguns instrumentos), cheio de vocalistas convidados e com um visual mais bem cuidado, ainda que perdido na luz do dia. Disclosure faz mesmo o que se pode chamar de show, sendo da turma da eletrônica.

Uma das mais curiosas atrações do Coachella 2016, que estava no pôster da escalação e foi destaque nos três dias do evento, não era uma banda, e sim um conceito. O festival da Califórnia instalou em suas dependências, pela primeira vez entre os seus sete palcos e tendas, um clubinho “diferente”.

O projeto Despacio, criação do músico e produtor James Murphy (LCD Soundsystem) em parceria com os irmãos 2ManyDJs mais um engenheiro de som, virou um oasis sonoro e de ar-condicionado para quem quisesse curtir música eletrônica, mas queria um descanso da onipresente EDM. E ainda fugir do calor.

O Despacio é um sistema de som desenhado em conjunto com a McIntosh americana (empresa de audio, não confundir com o computador da Apple) que consiste em sete torres de som que envolvem uma pista de dança circular com músicas de vinil tocadas a 50 mil watts de potência. Aqui não é a altura da música que conta, mas a qualidade do som.

No Despacio, que ficava aberto em média umas sete horas por dia no Coachella, a atmosfera é outra. Disco music calma, classuda e vintage onde a pista e seus frequentadores são a atração, não o DJ. Um verdadeiro contraponto ao que Diplo, Skrillex e outros promoviam do lado de fora.

Tudo bem que eram os excelentes Murphy e o duo dos irmãos Dewaele no comando do som, mas estar no meio da pista “recebendo” aquelas músicas era o que importava.

coachelladespacioO cool Despacio, mais uma das invenções geniais de James Murphy

Em cima do palco, no domingo, um outro bom contraponto à “cena dominante” foi o show da banda indie-folk maluco-beleza Edward Sharpe and the Magnetic Zeros, que levou ao Coachella 2016 um clima de Woodstock 1969. O grupo lançou disco novo, “PersonA”, há duas semanas. Mas o que bombou foi o velho hit “Home”. O vocalista Alex Ebert pediu para todo mundo assobiar junto e parou a música no meio para as algumas pessoas da plateia contarem histórias de vida. Paz e amor.

“Fora da curva” também foi o show-performance da cantora australiana Sia, com uma apresentação que misturou arte, teatro e dança e ainda fez o melhor uso do acachapante novo telão de possibilidades múltiplas (na qualidade e edição das imagens) do Coachella.

Sia ficou o tempo todo no canto do palco, estática, diante do microfone e com uma peruca metade morena, metade loira cuja franja cobria seus olhos. Ela “apenas” cantava, enquanto os dançarinos convidados, entre eles a ótima Maddie Ziegler, de 13 anos, presente em vários os vídeos de Sia, interpretavam com movimentos o desespero emocional que a cantora passa em sua música, em suas letras.

Colaboradora de cantoras mais famosas como Beyoncé, Adele e Rihanna, Sia lançou neste ano um álbum só com canções suas recusadas pelas artistas citadas. Sem rancor, só por dar uso às músicas encostadas. E como estão sendo bem usadas pela dona…

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* Fotos deste post são cortesia da Goldenvoice.
* Foto da Sia é do San Bernardino Sun.

* A Popload está na Califórnia a convite do VisitCalifornia.

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