* É impressionante o desenvolvimento sonoro moderno da paranaense Vivian Kuckzynski, já praticamente uma veterana na música independente mesmo tendo hoje, er, 17 anos de idade.
A gente ficou maravilhado quando saiu o primeiro disco dela, “Ictus”, no ano passado. E se surpreendeu quando descobriu que ela já tinha lançado um EP tão bom quanto anos atrás, o “Sonder”, de 2017.
“Anos atrás” no caso de Vivian é muita coisa. Significa dizer que seu gabarito musical já estava em disco aos 14 anos.
E quando mencionamos esse “veteranismo” aos 17 é para dizer que nesse incrivelmente curto três anos de carreira a senhorita Kuckzynski já conseguiu imprimir na CENA uma qualidade vocal própria, uma densidade musical própria em som e letra, consegue compor, produzir, mixar e masterizar sua própria música, a dos outros, já lançou parceria substancial com outro artista, já lançou disco por selo nacional significativo, estabelece as melhores comunicações visuais (fotos e vídeos) para combinar com sua música nada linear.
E chegamos ao hoje de Vivian Kuczynski com o lançamento na última sexta-feira de “N Entendi Nd”, um excelente EP de quatro faixas, duas músicas, uma declamação e um interlúdio, de um trabalho que dizem é apenas um rito de passagem e uma preparação para seu segundo disco, que será lançado em 2021, o ano em que o mundo espera ressuscitar.
Este mesmo mundo que inspirou o nome do disco, graficamente colocado em maiúsculas, “N ENTENDI ND”, que na verdade é uma brincadeira da teen Vivian com os amiguinhos ao falarem de temas abstratos da vida e acabam o papo dizendo “Já entendi tudo”.
“N Entendi Nd” começa “Abstenho”, uma poesia declamada sobre uma peça sonora pelo “velho” parceiro de Vivian, o Francisco, que já aparece no primeiro disco e tem um bom álbum dele mesmo que foi produzido por Vivian. “N Entendi Nd”, a música, é algo que o inglês James Blake adoraria ter produzido, seja nos barulhinhos, na cadência, nos vocais.
“Amor”, interlúdio de meio minuto que antecede o single absurdo “Pele”, é um daqueles trechos musicais que dá vontade de por em um loop de oito giros para transformar em uma faixa de tamanho convencional de uns quatro minutos e chamar de “música predileta” sua inconvencionalidade, ainda mais com um nome deste: “Amor”.
“Pele”, já conhecida e que chapou um segundo lugar recentemente no nosso ranking da CENA, o Top 50, é a prova de que Vivian sabe muito bem para onde indo, embora a gente não saiba exatamente para onde ela está indo. Nela enfileira suas qualidades como se estivesse na música há uns dez anos, seja na letra e na composição musical. E impressiona (palavra obrigatória em textos sobre Vivian Kuczynski) a experiência de alcances que ela faz com o que tem de melhor: a voz.
Tenho medo (no bom sentido) de ouvir uma música que Vivian vai estar produzindo para ela mesma quando ela for uma “velha”, sei lá, de 25 anos.
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