

Os bons ventos electrodark discopunk noporn-new wave que, acredite, vem do Rio de Janeiro, chegou oficialmente em forma de música na sexta-feira passada, quando o quarteto Vera Fischer Era Clubber lançou seu ótimo primeiro single, “Fantasmas”.
Também na semana passada, as Veras, como a banda de CrystalDuarte, Malu Manc, Pek0 e Vickluz já é chamada na cena do Rio, fez seu primeiro show ao vivo em São Paulo, no Porão da Casa de Francisca, dentro da programação noturna da SIM-SP. E foi uma loucura.

Esse movimento é todo novo e umbilicalmente ligado ao tradicional festival underground-do-underground Novas Frequências, que conecta brilhantemente e há tempos as eletronices experimentais de várias ordens. No último Novas Frequências, realizado em dezembro, a Vera Fischer Era Clubber foi um dos destaques.
Com as Veras, a cena indie do Rio, de um certo modo na contramão da turma da Ana Frango Elétrico, aponta outros caminhos longe da nova MPB/samba da ordem atual.
Tem a Vera Fischer Era Clubber e tem várias outras bandas dessa cena, como a Prefeitura do Rio (sim, esse é o batismo genial, cujo instagram é mais genial ainda: @naosomosaprefeitura), a Partido da Classe Perigosa e o duo Mundo Video, este protagonista de uma mistureba indie muito boa comandada por guitarras, já cooptado pelo selo Balaclava Records. E, se olhar direitinho, tem muito mais.
Esses nomes, alguns mais que outros, dialogam de um jeito com uma cena paulista eletropunk anos 80 (“perdida”em 2025) que tem a incrível Meta Galova como pilar atual, mas que no caso carioca cantam em português misturando spoken word e gritaria. Vale salientar ainda, pegando a Vera Fischer Era Clubber como exemplo, que o quarteto se mostra discípulo de primeira ninhagem da saudosíssima e cultuada ex-banda NoPorn.

O single “Fantasmas”, que saiu sexta, marca ainda o primeiro lançamento do selo Palatável Records, da curadora-agitadora Natália Lebeis, ela também com um primeiro disco fresh nesta interessante nova cena carioca, embora viva na ponte Rio-SP.
“Fantasmas” pode servir de manifesto desse lado B carioca só por seu começo: “Eu falo com fantaishmaishhhh, de pessoasssh que estão vivaishhh”, assim, com o sotaque carregadíssimo, como se estivesse fincando a bandeira do RJ no rolê.
De levada sombria e gótica, cheia de andamentos vocais e sonoros diversos, em cima de letra sarcástica (uma marca das Veras), “Fantasmas” segue em seu posicionamento de chegada na nova música: “Intermediadora da vontade divina/ Arranco logo a pele da ferida/ E deixo arder”.
A cena B do Rio está ardendo em novidades. Ouça “Fantasmas”, da banda Vera Fischer Era Clubber.