

Saiu!
Nesta quarta-feira, a banda paulistana Terno Rei lançou seu quinto álbum de estúdio, “Nenhuma Estrela”. O disco surge como um marco na trajetória do grupo e reforça uma máxima conhecida, mas sempre relevante: o sucesso não acontece da noite para o dia. Quando ele chega, porém, o céu é o limite.

O novo trabalho, um lançamento da Balaclava Records, inaugura uma fase luminosa para o quarteto, com sonoridades mais solares e letras que flertam com uma maior certeza sobre seu caminho, adjetivos que nunca imaginaríamos associar a banda. Ainda assim, tranquilize-se, a essência melancólica do Terno Rei segue a mesma, talvez até mais forte do que nunca.
Com 13 faixas inéditas, todas compostas pelo baixista e vocalista Ale Sater, com contribuições dos guitarristas Greg Maya e Bruno Paschoal, o álbum foi produzido pelo curitibano Gustavo Schirmer, que é praticamente um quinto integrante da banda, sendo responsável pela produção também os dois discos anteriores do Terno Rei e o álbum solo de Ale, “Tudo Tão Certo”, lançado em 2024.
Embora mais solar, “Nenhuma Estrela” se afasta um pouco da abordagem pop de “Gêmeos” (2023) e se aproxima do refinamento sonoro e emocional de “Violeta” (2019), o álbum que marcou a virada de chave na carreira da banda e que até demoveu a banda da ideia de encerramento, por exemplo. O novo trabalho soa como uma síntese de tudo que o grupo construiu até aqui, com mais maturidade técnica, tanto na produção quanto na execução instrumental. Mas de um modo sem se acomodar, olhando para a frente.

A produção, aliás, foi um dos temas abordados na entrevista que a banda concedeu à Popload logo após sua apresentação no último Lollapalooza Brasil, em março, e que pode ser lida na íntegra aqui. Na conversa, o guitarrista Bruno Paschoal destacou como a construção das músicas em estúdio foi fundamental para o resultado final do disco.
Esse processo cuidadoso reflete o novo momento da banda, que enxerga o sucesso para além do nicho indie que foi sempre a “zona de conforto” do Terno Rei. Sucesso esse não necessariamente nos grandes holofotes, mas sim na possibilidade de o quarteto se dedicar integralmente à música, um privilégio raro na cena independente brasileira.
Hoje, o Terno Rei já não é mais apenas uma “bandinha da CENA”. Com presença em rádios ditas “normais” e festivais de grande porte, como o Popload Festival, em maio, o grupo mantém sua autenticidade ao revisitar influências dos anos 80 e 90, sem perder o frescor do indie nacional.
Em faixas como “Peito”, que abre o disco com uma levada simples de violão, ou “Pega”, com uma batida esperta e envolvente, a banda mostra domínio sobre a estética que a consagrou.

“Nenhuma Estrela” também marca um momento inédito: é o primeiro álbum da banda com participações especiais. Em “Relógio”, o Terno Rei recebe ninguém menos que o Lô Borges, lenda da MPB. A faixa traduz bem essa parceria, com harmonias cheias de sétimas, arranjos de guitarra psicodélicos e um charme mineiro inconfundível.
A segunda participação vem de Clara Borges, da banda Paira, que colabora na faixa “Tempo”. A música traz elementos eletrônicos que aproximam o Terno Rei das pistas, com uma boa dose de referências de bandas como New Order e Depeche Mode.
O Terno Rei está mais feliz, mais solar, mas continua com os dois pés fincados em suas raízes melancólicas e sua estética indie sofisticada. E é exatamente essa combinação que faz do grupo um dos nomes mais relevantes a emergir da cena alternativa e conquistar, com consistência e personalidade, um lugar de destaque na música brasileira de vários tamanhos. Claramente, com este “Nenhuma Estrela”, já dá para dizer isso.
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*As fotos do Terno Rei deste post são do Fernando Mendes.