* A culpa é do “Violeta”. O absurdo sucesso do álbum anterior do Terno Rei, lançado há mais de três anos, elevou tanto a barra da banda indie paulistana, que a expectativa de um outro disco, e bom!, se tornou igualmente altíssima.
Eis que hoje, finalmente, saiu “Gêmeos”, cumprindo o que dele se esperava. O álbum não só mantém o nível do famoso trabalho anterior, pelo menos nas primeiras escutadas, como também abre as portas para uma nova era da banda paulistana. Conversamos com eles para entender melhor todo o processo.
No começo de 2020, cerca de um ano depois de o disco anterior ter sido lançado, o Terno Rei surfava uma onda violeta crescente com um novo e fiel público. E tinha uma cheíssima agenda de shows até o fim daquele ano. Aí veio a pandemia…
Talvez a parada forçada não tenha sido tão mal assim para a banda. “Se não tivéssemos interrompido os shows, a gente não estaria com esse disco pronto [hoje]…”, diz o guitarrista Bruno Paschoal. “Foi o jeito mais produtivo para viver que encontramos em meio a esse fim de mundo que passamos.”
A banda viu nessa pausa pandêmica não só o melhor momento para a gravação de um disco novo como também para o desenvolvimento de projetos paralelos com outros artistas, como o “Conexão Balaclava Terno Rei + Samuel Rosa” e o feat. com a banda Fresno.
“Gêmeos” chegou aos ouvidos do público por meio de três singles, até este seu lançamento de hoje: “Dias de Juventude”, “Difícil” e “Aviões” mostraram a banda para além do “Violeta”. O primeiro, de acordo com o vocalista Ale Sater, foi uma canção que de cara tinha um peso diferente e agradou a todos. E assim cada um com seu papel e moods diferentes, os singles deram ao público um gostinho de cada fase e das nuances do novo álbum.
As músicas de “Gêmeos” seguem uma amplitude maior de humores do que os álbuns anteriores da banda, que fica nítida em uma comparação entre o primeiro single, a pop e mais alegre “Dias de Juventude”, e, por exemplo, a faixa “Brutal”, que se entrega às letras reflexivas e nostálgicas pelas quais a banda já é conhecida. Isso é uma amostra de como o novo álbum do Terno Rei está mais equilibrado e leve do que os discos anteriores.
O “Violeta” trouxe elementos indispensáveis para a evolução da banda, principalmente aprendizados de produção que foram carregados para o novo álbum. O terceiro disco do quarteto, que representou o momento da virada, foi um disco nascido de incertezas. A própria música “Medo” aborda inseguranças sobre o futuro da banda. Mas parece que todas aquelas dúvidas foram substituídas pelo sentimento de poderem estar juntos nessa estrada novamente, e “Gêmeos” é um álbum ao mesmo tempo nostálgico e esperançoso.
Com essa nova confiança, a segurança de um Terno Rei que deu a volta por cima e lidera a nova onda de bandas de indie-rock-pop alternativo nacional transformou o novo trabalho em um disco de certezas. Greg Maya, guitarrista na banda, explicou que “estava bem empolgado para fazer o ‘Gêmeos’, porque tinha essa segurança de que teriam muitas mais pessoas para escutá-lo”.
A passagem do tempo abre caminho para novos elementos na música da banda, Ale diz que o álbum também tem uma diferença de profundidade e sentimentos.”Esse álbum novo também tem músicas profundas como nos anteriores, mas também tem outras mais sussas e de cotidiano. É um momento melhor no final.”
“Gêmeos” foi gravado em Curitiba, no Nico’s Studio, assim como foi o “Violeta”. E Bruno explica que a decisão de voltar para lá foi fácil. Além de contarem com o time de produtores que já conheciam (o álbum foi produzido por Amadeus de Marchi, Gustavo Schirmer e Janluska), a possibilidade de fazer a imersão com a banda fora de São Paulo faz como que todos estejam focados 100%.
Num álbum tão permeado por maturidade e a passagem do tempo, a nostalgia aparece em referências que a banda ouviu para chegar nas sonoridades e letras que ouvimos ao longo do disco. As principais vêm de sons entre 1997 e 2005, como Alanis Morissette e Smashing Pumpkins. A pandemia trouxe um movimento muito natural de recordações, de acordo com Bruno Paschoal.
Mas Greg Maya, por exemplo, não dispensa experimentar no som da banda elementos de músicas novas que eles consomem. “E tem muita coisa voltando no rock, […] agora é essa coisa do 2000, do emo, do punk
pop, e isso é ótimo para a gente.”
Em contraste com o disco em si, o processo criativo da identidade visual de “Gêmeos” foi uma das partes mais difíceis para Greg Maya, responsável pelo design criativo o Terno Rei. Foram três ensaios de foto para chegar à capa, e pela primeira vez foi usada uma foto da banda (fotografados por Fernando Mendes na Praça do Por do Sol) para ilustrar o disco. E a versão final tem esse efeito “blur” que remete a uma estética meio “OK Computer” (Radiohead), em projeto gráfico de Felipe Araújo.
“Gêmeos”, o novo disco, suas belas canções ou pop ou profundas, vai poder ser “sentido” ao vivo em importantes shows que a banda fará neste futuro próximo. O grupo paulistano toca em Interlagos no sábado do Lollapalooza Brasil, dia 26 agora. Depois, em 30 de abril e 1º de maio, Ale Sater e sua galera tomam o Cine Joia para fazer o lançamento do novo álbum. A primeira das apresentações está esgotada.
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* A entrevista com o Terno Rei foi conduzida por Lina Andreozzi.
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