CENA – Sozinha porém bem acompanhada, Dora Morelenbaum encontra o amor em seu primeiro disco solo

Com o peso ambivalente do sucesso com seu grupo, Bala Desejo, na bagagem, Dora Morelenbaum traz um “pique” diferente para seu primeiro disco solo, chamado exatamente “Pique” e lançado sexta passada.

Em entrevista recente com a cantora carioca aqui mesmo na Popload, ela falou sobre essa “separação de perfis” e pelo que passou para assumir esse próximo passo solo, após uma temporada longa de sucesso internacional com os outros três amigos de banda. 

O primeiro passo foi entender a sonoridade que queria empregar estando solo. Sozinha sim, mas bem acompanhada. Junto à escolha de sua produtora, Ana Frango Elétrico, a seleção dos músicos que fariam parte do disco foi essencial para chegar nos timbres desejados e isso fica evidente desde a abertura do disco com a faixa “Não Vou Te Esquecer”, balada bem suave e que pode parecer bem simples, mas já mostra uma maior complexidade em suas camadas sonoras.  

A banda selecionada para o disco em que estampa seu nome é um quarteto no formato clássico do jazz, composto por alguns dos músicos mais habilidosos da CENA contemporânea. Com Sergio Machado na bateria, Guilherme Lírio na guitarra, Luiz Otávio nos teclados e Alberto Continentino no baixo, Dora Morelenbaum construiu uma base instrumental em cima da qual poderia jogar qualquer arranjo que seria perfeitamente executado. E isso é bem visível em “Pique”.

Com eles, Dora e Ana puderam viajar nos timbres e referências, indo de músicas mais enxutas, como é a faixa “A Melhor Saída”, até brisas jazzísticas, como em “VW BLUE”, que entrou num momento interlúdio que muitas bandas estão tentando incluir em seus álbuns e falham em criar algo com o mínimo de originalidade. Não é o caso de Dora. 

Durante a escolha das músicas para o disco, a cantora enxergou que o tema que o “amor”. Assim, o trabalho foca nisso em suas diferentes facetas, desde uma visão romântica clássica na faixa “Petricor”, composição de Dora com Tom Veloso, passando pelo amor “safado” de “Essa Confusão”. Tem até a ilusão amorosa de “Sim, Não”.

Um dos destaques do disco é a faixa “Venha Comigo”, composta por Sophia Chablau, que traz um pouco do humor da cantora paulistana com letras como “Hoje não tem expediente, sejamos imprudentes, vamos fugir pro Ceará/ Isso é um sequestro, sou réu confesso, venha comigo, sou seu amigo”. Nessa linha de pop cabecinha, mas com um twist mais sexy e um arranjo bonito de sopros. 

Os anos que passou desenvolvendo outras habilidades e experimentando com a música em um formato de grupo fizeram bem a Dora Morelenbaum. Ela chega a este “Pique” com certa experiência, com uma sensação de querer ser diferente sem abandonar suas características e, nessa, fazendo uma entrega interessante, que vale uma audição atenciosa para os detalhes.

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* As fotos de Dora Morelenbaum usadas para este post são de Cau e Ana Frango Elétrico.