Sepultura, uma das maiores bandas da história do Brasil mesmo com todas as suas turbulências e mudanças, está em turnê de despedida, e recomendarmos que você veja um show dela o quanto antes. Acompanhamos a apresentação deles em Curitiba, na última sexta, e contamos mais.
Sabemos muito bem que as palavras “turnê de despedida” provavelmente fazem qualquer um revirar os olhos. Há as bandas que passam anos se despedindo (Kiss); as que anunciam turnê final mas logo vão para outra nova, como se nada tivesse acontecido (Deep Purple, Scorpions); e as que chegam a “parar”, mas nem cinco anos depois estão de volta (Slayer, Nine Inch Nails, Motley Crue e tantas outras).
Não sabemos se o Sepultura cometerá algum desses “pecados”, mas pouco importa. Sua turnê atual é a melhor deles em pelo menos uma década.
O elemento mais importante da noite foi o setlist. Para uma banda com 15 (!) discos de estúdio, acertar um equilíbrio satisfatoriamente representativo de todas as fases da banda parece quase impossível. Mas o Sepultura conseguiu.
De toda a discografia, 13 álbuns foram representados com pelo menos uma faixa, deixando de fora apenas “A-Lex” (2009) e “The Mediator Between…” (2013).
Como qualquer um poderia prever, os clássicos discos “Chaos A.D.” (1993) e “Roots” (1996) foram os que receberam o maior destaque, com cinco músicas de cada – uma surpresa foi a acústica “Kaiowas”, com a presença de pessoas da plateia tocando percussão no palco. Das 23 músicas apresentadas, 14 foram da fase com Max Cavalera nos vocais, e 9 da fase com Derrick Green, dando um merecedíssimo destaque aos discos que a banda lançou de 1997 para cá.
Aliás, esses 27 anos de Green à frente da banda já deveriam ser mais do que o suficiente para calar qualquer viúva. No show em Curitiba, as três faixas que apresentaram de seu trabalho mais recente, o ótimo “Quadra” (2020), foram mais aplaudidas que o material dos primeiros álbuns da banda.
Outras músicas dos anos 2000, como “False” (de “Dante XXI”) e “Mind War” (de “Roorback”), rechearam muito bem o “miolo” do show. Em momento algum parecia que a banda estava tocando alguma música por obrigação, só para representar algum período ou disco específico.
O setlist funcionou muito bem como um todo, e algum ouvinte com pouco conhecimento da banda nem conseguiria distinguir ao certo qual música vem de qual era do Sepultura.
A banda agora tem um palco mais elaborado, com dois telões grandes ao fundo dele, mais dois em formato de cubo em suas extremidades, dando uma variedade visual merecida ao repertório.
Na minúscula casa Live Curitiba, quando os telões focavam em mostrar os integrantes da banda, era até redundante – todo mundo conseguia ver os quatro músicos relativamente bem ali. Os visuais mais “artísticos” do telão oscilavam em qualidade, alguns com vídeos muito bem-feitos (“Guardians of Earth”), outros toscos e repetitivos demais (“Inner Self”). É algo que poderia melhorar para as próximas levas de show dessa turnê.
Por último, não podemos deixar de falar sobre o novo baterista da banda, o jovem Greyson Nekrutman, com seus 21 anos. Ao que tudo indica, o funcionário que ocupava o cargo antes dele acabou largando o emprego sem dar aviso prévio (foi contratado por alguma multinacional aí), dando a Nekrutman pouquíssimo tempo de onboarding para assumir as baquetas.
Mesmo sabendo que a empresa está em processo de dissolução, honrou magnificamente todo o peso e a reputação que seguem as palavras “baterista do Sepultura”. Andreas Kisser, Paulo Jr. e Derrick Green continuam sendo absolutamente importantes no que fazem, verdadeiros seniores do negócio, mas Nekrutman toca com tanta facilidade e destreza que inevitavelmente ganha o quadrinho de funcionário do mês.
Enfim, se o Sepultura passar perto de você com essa “turnê de despedida”, aproveite e vá. Se for a única (ou última) vez que ver a banda ao vivo, já valerá a pena. Ainda há ingressos disponíveis para a terceira apresentação que a banda fará em São Paulo em setembro, no Espaço Unimed, no dia 8. As duas datas antes, 6 e 7/9, no mesmo lugar, estão esgotadas.