CENA – Os lados B de uma banda “Lado B”. Terno Rei lança belo EP com quatro músicas que não couberam em “Gêmeos”. Mas mereceriam

\Queridinhos do indie-rock paulistano, a banda paulistana Terno Rei nos entregou na calada da noite desta segunda-feira, sem maiores avisos, os lados B do seu mais recente disco, o bombado “Gêmeos”. 

O lançamento desse disquinho de quatro faixas, “B-Sides Gêmeos”, também conhecidas como as canções que por algum motivo estratégico (ou não) foram descartadas no processo de construção do disco, é algo que poucas bandas nacionais fazem. Mas acaba sendo um verdadeiro presente para a audiência da banda.

Qualquer uma dessas quatro canções se encaixaria bem no “Gêmeos”, e faz muito sentido mesmo que sejam lançadas em um momento separado.

As faixas tem um quê mais pop do que o disco, reforçando um movimento de crescimento musical mais “feliz” e para além da melancolia do “Violeta”, o disco anterior, de 2019, que marcou o início da ascensão gigante da banda, do “quase acabar” para os shows lotados no Brasil e depois para os festivais internacionais, momento em que o grupo se encontra hoje, graças a uma certa maturidade musical e como banda ao vivo demonstrada no “Gêmeos” e nos shows do disco. 

As letras do Terno Rei em geral têm um fator de “sad pop” e slice-of-life e isso marca muito a primeira faixa deste “B-Side Gêmeos”, a “Mercado”. A música segue um estilo que lembra mais os dois primeiros álbuns do quarteto, com letras que remetem a uma mescla de uma cena bem cotidiana, no caso a seção de frutas de um mercado, com uma extrema reflexão emocional de quase cortar os pulsos nas letras de Sater.

Reflexão esta sempre em cima de um belo instrumental capaz de ilustrar perfeitamente a simples infelicidade de encontrar quem você não quer encontrar em meio à gôndola de laranjas, ainda que você esteja “na sua” e em procura de sua paz, andando propositadamente distraído escutando uma musiquinha nos fones e olhando para baixo. Uma verdadeira assinatura do Terno Rei.

Na faixa seguinte, “Chuva”, o som entrega um instrumental mais elaborado, algo com o que a banda começou a flertar mais forte no “Gêmeos” e tem trazido bastante para as apresentações ao vivo.

Em “Mantra”, temos mais uma música que remete aos primeiros dois discos da banda e une a referências de músicas como “Retrovisor”, do “Gêmeos”, com letras de reafirmação pessoal. Um verdadeiro mantra.

A última do disquinho, “Cores Vivas”, traz Bruno Paschoal de volta aos vocais após a emblemática “Estava Ali”, que é um verdadeiro sucesso nas apresentações ao vivo da banda.

Recordo-me de ter perguntado a Bruno no lançamento do “Gêmeos” onde estava sua faixa no então disco novo e ele disse que tinha ficado de fora do corte final, mas que um dia vinha. Não é que veio?

A parte interessante de “Cores Vivas” é a forte impressão que dá de já ter ouvido essa música ao vivo. Talvez em um dos shows solos de Ale Sater? Enfim, uma ótima música que reforça esse relacionamento de irmãos que a banda tem.

Talvez seja um lançamento que divida opiniões, afinal, é um som mais pop do que o som que levou a banda a outro patamar. Mas mudanças são necessárias para continuar crescendo e o público ativo e crescente que segue o Terno Rei, esgotando shows pelo Brasil afora, é um sinal claro de que estão no caminho certo. E agora com um repertório reforçados por quatro musiquinhas bem boas.

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* A foto do Terno Rei usada para este post é de Samuel Esteves.

** Para quem não captou, o “Lado B” do título é referência ao excelente programa “Lado B”, apresentado pelo excelente Fabio Massari na áurea fase da saudosa MTV Brasil. Ali passava vídeos de músicas novas de Nirvana, Radiohead, Pearl Jam, Strokes, essas bandas “esquisitas” que não circulavam na programação normal da emissora. Até que passaram a circular.