A banda Os Fonsecas é tão underground ainda que a primeira vez que fomos conferir um show deles era dividindo a noite com outros dois grupos no subsolo de um estacionamento na Praça da República, em São Paulo.
Desde então estamos acompanhando a jornada desses quatro jovens paulistanos, que chega hoje ao seu primeiro álbum, “Estranho pra Vizinha”, e o show de lançamento nesta noite no, como não, clube underground Picles, em São Paulo.
Os Fonsecas se uniram em 2019, quando os integrantes ainda tinham entre 15 e 16 anos, tendo uma primeira experiência de gravação com o EP ‘’Fundo da Meia’’, lançado em 2020 pelo undergroundíssimo e destemido selo Seloki Records.
Desde então, pandemia ingrata no meio, a banda vem experimentando com sonoridades e referências, que focam muito no rock dos anos 1970, mas chegam até a música eletrônica, uma tendência dessa geração que já cresceu com streamings.
Com um mix de letras aparentemente sem pé nem cabeça para quem hoje, bem no referencial mais antigo e bem-humorado dO Terno e na atualíssima safra de Ana Frango Elétrico, Sophia Chablau e Uma Enorme Perda de Tempo e Pelados, os Fonsecas surfam nesta buena onda da CENA com muitos riffs de guitarras cheias de distorção. O disco começa com a energética e quebrada ‘’Não Peço Mais’’, de onde a banda tirou o nome para o disco, no meio da letra doida: “O celular no arroz / pra funcionar depois”, porque o cara pulou da janela e caiu na piscina.
A viagem segue para ‘’Olho Grego’’ e ‘’João’’, primeiro single do disco, em uma audição que desafia o ouvinte a caminhar entre as composições curiosas e o encaixe com os arranjos rebuscados. O segundo single, “Vendaval”, uma canção que se envereda mais para o pop, já é velho conhecido dos frequentadores dos shows, e dali o disco só fica mais intenso.
Em nove faixas, Os Fonsecas apresentam um álbum animado nos quesitos ironia e deboche, tudo para cima deles mesmos. O que reforça a tendência dessa CENA esperta atual ir buscar também as referências do rock setentista que marcou bandas como Mutantes. Mas com seu toque da juventude e seu acesso à tecnologia, era das oportunidades infinitas ao alcance, dominando todos os processos do fazer música: do “simples” atos de fazer canção, espichá-las com samples, por exemplo, e brincar com sua produção, feita pela própria banda no caso do disco de estreia.
Logo, logo, prevemos, o underground vai ficar pequeno para Os Fonsecas.
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* A capa do disco dos Fonsecas, que ilustra os Youtube acima, é de Otto Dardenne. As fotos de divulgação da banda, usadas para este post, são de Gabriel Cogdonato.