A Banda atrás do Artista, o grupo paulistano O Terno voltou de um hiato ao se apresentar duas vezes ao vivo em São Paulo no final de semana que passou, voltando a suas agitadinhas e felizes raízes de power trio e com o músico e vocalista Tim Bernardes deixando seu hoje enorme e “tristinho” repertório de lado.
As duas apresentações, as primeiras d’O Terno desde novembro de 2019, aconteceram em lotados Espaço Unimed, na última sexta e sábado.
Esta turnê “da volta” na verdade marca o encerramento para o ciclo do quarto disco da banda, “Atrás/Além” (2019), que teve início lá atrás, foi interrompido pela pandemia e depois pelo sucesso do Tim solo.
Naquele que é seu último álbum, O Terno concilia seus sentimentos com a realidade da vida adulta. E, com seu característico bom humor, o trio avisou aos fãs que os shows de 2019 marcaram a parte do “Atrás”, e agora trouxe o “Além” para os palcos. E, de fato, as mudanças são notáveis.
Então, por passarem pela pandemia e a tal expansão da carreira solo de Tim Bernardes, que lançou seu segundo álbum solo (“Mil Coisas Invisíveis”, 2022) com grande repercussão nacional e internacional, o reunido grupo mostra os sinais do amadurecimento e a saudade de três amigos que não tocam juntos há quase 5 anos.
E a banda escolheu as datas de seus shows em São Paulo, sua cidade natal, sem se importar com a coincidência com o festival Lollapalooza, que aconteceu no mesmo final de semana.
Parece que seus fãs também não se abalaram com o fato, pois a primeira data, a da sexta-feira, esgotou, com 6 mil ingressos vendidos. E a segunda noite, a de sábado, apesar de não esgotada, não desapontou. Em ambas as noites, o Espaço Unimed estava bem preenchido de seguidores que cantavam junto com Tim todas as músicas.
Diferente de 2019, quando O Terno seguia em uma onda de praticamente dez anos ininterruptos de shows e se apresentavam em teatros, Tim Bernardes, quando empunha suas guitarras, e o baixista Guilherme d’Almeida tocaram em pé, um fator que já dá o tom de como serão as apresentações desta turnê.
O concerto é longo, com mais de duas horas de apresentação. O setlist é majoritariamente composto por músicas do terceiro disco da banda, “Melhor do Que Parece” (2016), e o “Atrás/Além” na íntegra. A saudade parecia ser tanta que a tradicional energia da banda, carro chefe d’O Terno, não falhou em nenhum momento.
Quando o assunto foi a escolha do repertório, existiram duas interações d’O Terno, marcadas pela saída da bateria de Victor Chaves e a entrada de Gabriel Basile, o famoso Bielzinho. Isso significa que as músicas do “66” (2012) e “O Terno” (2014) ganharam novas versões e foram onde a banda escolheu aprofundar as referências de rock que marcaram o início do grupo, trazendo interlúdios preenchidos por muitas distorções e solos dos integrantes.
É interessante a forma como Tim, Biel e Peixe, como é conhecido o baixista da banda, brincam com a diferença entre a apresentação como O Terno e os shows da carreira solo do vocalista. Usando das críticas às músicas de Tim, que tendem a se aprofundar em sentimentos mais profundos e individuais, o que, por consequência, torna as músicas mais lentas e “tristes”, a banda fez piada sobre como categorizam o som de Tim como “deprê” e promete que os shows d’O Terno serão bem diferentes.
O trio escolheu fazer somente três músicas sem o acompanhamento de seu naipe de sopros. Afinal, as faixas dos 3º e 4º discos da banda são marcadas pelos arranjos para instrumentos de sopro, que fazem um acompanhamento fundamental para a banda.
O maior desafio para O Terno nesta turnê mora na escolha das casas de shows. Ao sair dos espaços de teatros aos quais estavam acostumados, a banda e sua equipe estão aprendendo como redimensionar seu som e performance para os lugares maiores que finalmente alcançaram, e no Brasil esse crescimento é acompanhado de suas particulares dificuldades de acústica e iluminação.
Apesar do tempo longe dos palcos e das dores de crescimento, a química da banda, de novo, é indiscutível. As emoções estavam altas quando o trio apareceu ao público na noite de sexta-feira, e rapidamente ficou evidente que alguns anos separados não apaga a história que O Terno já construiu como umas das bandas-referência na CENA nos anos 2010. E, também, que Tim Bernardes deixou o violão em casa para trazer as referências da guitarra de sua juventude de volta para sua performance.
Esses serão shows marcados pela nostalgia de uma banda que marcou a juventude de muitos fãs e o reencontro de três artistas que se complementam e sabem tocar juntos como poucas bandas.
Mas, saudade matada, e com tudo que os envolvem, dá para pensar em futuro para O Terno? Essa foi a questão que ficou, quando todo mundo saiu do Espaço Unimed com um sorriso de satisfação na cara, tanto na sexta quanto no sábado.
Pelo menos o “futuro próximo” existe. O Terno segue em turnê para mais uma data esgotada, desta vez no Circo Voador, no Rio de Janeiro, nesta sexta 29. A banda também se apresentará em Porto Alegre, Belo Horizonte e Salvador, encerrando a turnê com dois shows, o primeiro já esgotado, em Los Angeles, nos Estados Unidos, já em maio.
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* As fotos d’O Terno usadas neste post são de Carolina Andreosi.