CENA – Nossa Clairo mineira, Clara Bicho lança seu primeiro EP, “Cores da TV”, um conjunto de crônicas indies sobre a vida adulta

Se tem uma artista que entende o que é ser indie, o nome dela é Clara Bicho. Estamos acompanhando a “a mina das Minas” desde o início do ano passado, quando ela ainda estava dando os primeiros passos em sua carreira. E na última segunda-feira ela lançou seu primeiro EP, um compilado de seis faixas que misturam desabafo, poesia e muita persistência. Um projeto que tem o mesmo charme torto das produções caseiras, mas com aquele brilho raro de quem transforma limitações em arte.

As músicas foram compostas ao longo dos últimos anos, entre faculdade, trabalhos formais e finais de semana. Nada ali foi feito no modo automático. O disco é fruto de um processo construído aos poucos, sem grande conceito fechado, mas com muita intenção: registrar a travessia entre a juventude e esse caos chamado vida adulta. Spoiler: a vida não é uma novela das 7h.

“ ‘Cores da TV’ é uma metáfora para essa fase da vida que a vida adulta às vezes parece muito romantizada, né, principalmente quando a gente é criança e adolescente, e a TV é um símbolo disso. A gente vê as novelas, os filmes, e tudo é lindo, maravilhoso, e quando você cresce, né, você vê a vida real, com as suas coisas boas, com as suas coisas ruins”, explicou Clara para a Popload, pontuando suas falas com um “né” mineiro.

Do quarto à rua, das cores da TV ao silêncio da cidade, cada faixa carrega um pedaço dessa transição. Por necessidade, composições feitas há quatro anos dividem espaço com novidades, anos de vida comprimidos em seis faixas. 

Tem produção feita com fone zoado, computador velho e muito afeto. Tudo isso com a ajuda de uma rede de amigos incríveis, como Gui Vitoracci, da banda Chico e o Mar, Vitor Diz, Marília Toledo e muitos outros, que somam talento e parceria nos detalhes que tornam o disco ainda mais especial.

“Tava querendo me comparar com gente que tinha estúdio, grana, equipe. Até entender que a graça do meu EP é ele ser sincero, é ele ser meu”, conta Clara.

O processo deste trabalho não só simboliza este primeiro passo mais formal em sua carreira como artista, mas também essa união de forças que a CENA propicia. Se Clara começou este projeto mais solitária, ao longo do caminho encontrou parceiros como o pessoal do Exclusive os Cabides e Diego Vargas, que produziu a faixa título, juntando esforços para viabilizar sua música apesar das limitações financeiras.

O EP é composto por três faixas já conhecidas, a música-título, “Cores da TV”, em parceria com a artista paulistana Sophia Chablau; “Luzes da Cidade”, seu segundo single da vida; e “Árvores do Fundo do Quintal”, co-produzida e gravada com a banda catarinense Exclusive Os Cabides.

“Tiveram várias coisas que não ficaram do jeito que eu queria, como a ‘Música do Peixe’. Eu demorei tanto tempo pra fazer ela, porque tinha coisa que eu ficava ‘Ai, meu Deus, eu quero que isso seja melhor’, só que não tinha como ser melhor, porque eu não tava gravando num estúdio top […]  Acho que o EP ficou até bem produzido, mas eu pensei comigo mesma que a graça do meu EP são as minhas composições”, completou Clara. 

Para quem ainda pensa que artista independente é só quem soa alternativo, Clara dá o papo: ser independente é fazer com o que se tem, no tempo que dá, sem depender de selo, verba ou estúdio chiquetoso.

Esse é o tipo de trabalho que não precisa gritar para ser ouvido. Ele chega de mansinho, bem mineiro, mas com aquele peso bonito de quem tem o que dizer e sabe exatamente como. Pode anotar: Clara Bicho não só chegou, como está pavimentando um caminho só dela. E a gente, claro, quer seguir junto.

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* As fotos deste post e na chamada da home são da Rafaela Urbanin.