CENA – No Ar Coquetel Molotov anuncia sua histórica programação de 2023. Festival, que traz no line-up a riqueza da geografia musical brasileira, acontece em outubro em Recife

Você pode não acreditar, mas houve uma época recente da nossa história musical que ninguém (ou poucos) acreditava em festival de música no Brasil, principalmente os independentes.

Era uma certa “época de ouro” em que eventos como o pernambucano Coquetel Molotov, que completa 20 anos neste ano e acaba de anunciar sua ótima escalação 2023 comemorativa, trazia na raça suas edições combinando coisas que soam prosaicas hoje em dia no reino dos festivais brasileiros: o destaque ao novo e ao velho-novo, o espírito true (smells like teen spirit?) e principalmente o amor pela música.

Pois tome aí o No Ar Coquetel Molotov 2023, que acontecerá em Recife no dia 21 de outubro no campus da UFPE e terá no line-up nomes amplos e variados como Luedji Luna (BA) e Marcelo D2 (RJ), Bixarte (PB), Bebé Salvego (SP), TUM (SP), Brisa Flow (MG), N.I.N.A. (RJ), MC Luanna (BA), Bruno Berle (AL), Mateus Fazeno Rock (CE), Deekapz (SP), Tuyo (PR), Irmãs de Pau (SP) e algumas cerejinhas nesse bolo molotov na linha Àttooxxá (BA) com participações de CIEL (PE) & Ana Suav (PA), FBC (MG) com participação de Uana (PE) e Boogarins (GO) tocando o Clube da Esquina (MG) pela primeira vez no Nordeste (três regiões num show só).

Veja o pôster do line-up completo abaixo:

“Estamos comemorando 20 anos de festival e isso precisa ser celebrado. Em um momento que estamos vivendo essa invasão de megafestivais pelo país é bom lembrar como começamos, há 20 anos, quando existiam pouquíssimos festivais independentes acontecendo no Brasil e muito menos no Recife, Pernambuco, Nordeste”, pontua Ana Garcia, a criadora do Coquetel Molotov.

“A maioria dos eventos que rolavam naquela época tinha uma pegada rock camisa preta e a gente desde o inicio quis mostrar que era possível misturar indie, MPB, rap e música experimental em um palco só. Queríamos mostrar que era possível ter uma experiência incrível em um festival”, lembra Aninha.

“As nossas influências eram muito baseadas nos festivais gringos, principalmente o Sonar espanhol – não à toa o festival se chama ‘No Ar’ Coquetel Molotov. Sempre fico rindo, lembrando que na época a gente brigava com os gigantes do Tim festival para trazer certos artistas de nicho. Ali mesmo, no início dos 2000, já estávamos programando gigantes da nossa música como foi o caso de Racionais, Clube da Esquina, Novos Baianos… nomes que só nos últimos anos passaram a ser lembrados pelas curadorias dos festivais atuais.”

O Coquetel Molotov 2023 terá mais de 12 horas de música acontecendo em 3 palcos diferentes. Para quem gosta de viajar para ver música, Recife é um “must” brasileiro para isso. Além da parte musical em si haverá ainda, além da programação oficial do dia 21, o Coquetel Molotov Negócios, de 18 a 20 de outubro, para se discutir a música hoje em todas as suas camadas, não só a de cima do palco.

“Quando finalizamos o cartaz ontem, percebi que temos artistas do Norte ao Sul na nossa programação, feita também baseada no que o público pede, está bastante diversificada. Acho que isso é espelho de um momento que estamos vivendo hoje – onde a música brasileira ferve como um todo e os nichos conseguem encontrar seu público”, continua Ana Garcia.

“No final dos 2000, sinto que rolou um boom na cena independente brasileira, muitos lançamentos, muitos artistas novos com público para girar o Nordeste. E o Coquetel, sempre atento às pautas e às necessidades do nosso público, acabou virando uma especie de espelho do que estaria por vir: um palco para amplificar o que a gente acreditava ser o futuro.

“Assistimos bem todas as modas surgirem e sumirem e claro que essas mudanças no mercado já nos fez questionar algumas vezes sobre o que estamos fazendo.

“Mais do que nunca, acreditamos que o Coquetel Molotov é um festival de fomento, que se preocupa em trazer novos artistas, bem como estrear lançamentos de veteranos, valorizando sempre as nossas premissas, que são manter o festival acessível, sustentável e com uma equidade de gênero nos palcos.”

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* Pela causa, a Popload decidiu virar “parceira de mídia” do Coquetel Molotov, então você deve ouvir falar bastante do festival pernambucano por aqui.

** A foto do duo TUM, Chuck e Lovefoxxx, que ilustra a chamada da home da Popload para este post, é de Jazzie Moyssiadis.