De que vale uma nomeação aos Grammys sem a boa e velha gravadora multinacional para movimentar os votos? Bom, os vencedores de melhor álbum de MPB e melhor álbum pop em português mostraram que a CENA brasileira tem feito seu efeito até nas premiações internacionais, indo contra tradições de décadas de, digamos, “conchavos de vendagens”. Sim, estamos falando do Grammy. No caso, o Latino.
Imagina competir numa categoria de MPB com Caetano Veloso, Marisa Monte, Ney Matogrosso, Jards Macalé e João Donato. É como competir contra as últimas cinco décadas de música popular brasileira. Agora adicione ao mix o primeiro álbum solo de uma cantora independente. Quais as chances?
Parece que eram todas, pois o incrível “Indigo Borboleta Anil”, da Liniker, levou o prêmio na noite passada. O álbum marcou a nova fase da cantora, mais madura, experiente e com um ao vivo que é um verdadeiro espetáculo. Arrisco dizer até que é um dos melhores shows brasileiros do ano. E, ainda mais, Liniker se tornou a primeira mulher brasileira transgênero a receber o Grammy Latino.
Se este fato inédito não te convence de que a MPB está se revitalizando e a CENA independente tomando a cena literalmente, o nosso vencedor da categoria de melhor álbum pop em português é um ótimo indicativo. Afinal de contas, quem era Bala Desejo (foto acima) para o público um ano atrás?
O quarteto, composto por Julia Mestre, Zé Ibarra, Lucas Nunes e Dora Morelenbaum, alguns dos jovens mais talentosos da música brasileira atual, fez uma trajetória astronômica das lives no Instagram aos palcos pelo Brasil levando seu “Sim, Sim, Sim” e conquistando seu (ótimo) lugar na CENA.
O álbum, lançado pelo selo do Coala Festival, lembra muito mais um pop da música brasileira dos anos 1970 do que o que nós conhecemos como pop hoje. É só olhar para os outros artistas nomeados. Os fãs de Jão, Luísa Sonza e Marina Sena foram pegos de surpresa quando seus artistas favoritos não venceram a premiação.
Se formos levar em consideração o público, talvez o Bala Desejo não tenha esgotado múltiplas datas no Espaço Unimed com infláveis e superprodução, e eles também não têm dançarinas e coreografias ensaiadas, mas uma coisa que eles sempre terão a seu favor é a música excelente, das composições à performance. E parece que foi isso que o Grammy Latino levou em consideração para selecionar o vencedor.
Agora fica o questionamento: será que estamos vendo a mudança no status quo da música brasileira refletida no exterior? Isso só os anos dirão. Por enquanto, seguiremos acompanhando a CENA e trazendo suas novidades por aqui.