CENA – Jangada do Tagore passa por São Paulo de novo. Conversamos com o músico pernambucano

Como tudo na história é cíclico, vivemos um momento de revival das sonoridades dos anos 1970 na última década, e agora parece que os anos 1980 estão batendo nas portas dos streamings. E um belíssimo exemplo disso é o quarto disco do pernambucano clássico Tagore, “Barra da Jangada”, lançado em março deste ano, e posto em prova nos palcos.

Tagore mostra ao vivo o fértil resultado de sua “Barra da Jangada” na casa Mundo Pensante, em São Paulo, na próxima quinta-feira, dia 13. Há pouco mais de uma semana, o músico já esteve em SP para um show no Picles, o qual fomos conferir. Um Tagore é pouco, dois é bom.

Em seu novo trabalho, o pernambucano buscou homenagear um de seus mentores, o guitarrista Paulo Rafael, trazendo os sons que marcaram a carreira deste ao lado de Alceu Valença nos anos 1980, e para isso fez uma regressão a sua infância.

“Esse disco foi feito a partir de um processo de resgate afetivo, de memórias afetivas. E eu dei início a esse processo depois da perda do meu pai, durante a pandemia. Aí entrei naquelo, maquinando ali solitariamente, sobre o luto”, explicou Tagore à Popload.

Em sua regressão, ele chegou a suas primeiras lembranças como ser humano, e o nome do disco veio dali. Fui bater ali entre os 4 e 5 anos de idade, no começo dos anos 90, em um bairro chamado Barra de Jangada, que fica ao mar, ao sul de Recife.”

Apesar de seu luto, o disco já começa engatando em uma animada guitarrada nordestina, marcada pelas sonoridades de Pernambuco, com a faixa “Paixão Revirada”, que dá o tom do álbum e foi a escolhida para dar início ao show.

“A trilha que estava rolando nos botecões, com aquelas caixas enferrujadas no meio da areia, sempre era esse recorte 80 da música nordestina, com Alceu, Geraldo Azevedo, Fagner, Elba Ramalho, Edinardo.”

Estas referências estão muito presentes na pegada sonora do disco e em sua performance ao vivo. Nesta turnê, Tagore montou dois formatos que o possibilitam chegar mais longe com seu novo trabalho. O primeiro é um formato solo, que Tagore chama de “voz e coração, que são as músicas no formato mais íntimo.”

Quando a logística permite, o artista leva consigo sua banda, composta pelo guitarrista Arthur Dossa, o baixista e principal parceiro musical João Cavalcanti e o baterista Arquétipo Rafa.

A escolha da banda foi muito certeira, desde o fato de que João Cavalcanti acompanha Tagore na produção de seus trabalhos há anos e é uma parceria que se traduz numa sintonia clara no palco. Até a execução das músicas, com um foco nesses timbres oitentistas das guitarras que nas mãos de Arthur Dossa ganharam vida de uma forma muito bonita e fiel.

Em sequência, o disco foi sendo apresentado ao público, que já estava com as canções na ponta da língua e foram completando os espaços onde ficariam algumas das parcerias que estão presentes no álbum, como na faixa “Amor Perfume”, que contou com participação da cantora Lazúli.

“Barra da Jangada” também é um marco de 10 anos de carreira para o artista pernambucano, que enxerga em seu novo trabalho o fruto de muito tempo de pesquisas.

“Fora a primeira faixa, o restante do disco eu mixei, pela primeira vez. Então, foi um mergulho também de estudo, de conhecimento, (…) vamos dizer assim, uma teimosia nerd de ir atrás dos timbres mais parecidos possíveis com o que a gente tinha ali na época.”

O resultado dessa “nerdisse” se prova em um disco e uma apresentação ao vivo que são muito fidedignos ao que se propõem: um encontro de passado e presente que traduz o momento atual de Tagore, unindo forró, baião, tem xote e tem o estilo valenciano ou tropicano, que é isso tudo junto, misturado de uma forma efervescente e única.

Suba a bordo da jangada do Tagore.