* A cantora e multiinstrumentista Giovanna Moraes subverte a ordem musical ao lançar, hoje, “III”, seu terceiro trabalho, menor que um álbum, maior que um EP. Um disco, enfim. Ou melhor, o “Disco III”, com seis músicas.
É famoso no mundo da música o segundo álbum de um artista ou banda, o “second coming”, o desafio de fogo depois do álbum début, a “segunda gozada” mal (bem) traduzindo. Ou, biblicamente se me permite, a esperada segunda vinda à Terra de Cristo, talvez agora para presidir o juízo final.
Para Giovanna, seu “second coming” é o terceiro, o álbum “III”. Outra subversão.
Depois da estreia em 2018 com o gringo “Àchromatics”, todo em inglês, e o brasileiro “Direto da Gringa”, todo em português, do ano passado, ela condensa neste terceiro disco toda a simbologia do número três.
Em “III” Giovanna atingiu o equilíbrio e a união musical, como um triângulo. Que a olhos vistos equalizou perfeitamente as pontas de melodia, letra e voz.
O “III” também pode ser entendido como um grito por ajuda, porque por suas seis músicas ela fala de solidão, tristeza, angústia, rejeição. E três é o número de fogueiras necessárias para se pedir socorro no deserto, segundo o código universal.
O disco começa perguntando se está “Tudo Bem?”, com uma música entre o desespero e uma certa esperança, duelinho gostoso da sonoridade dramática que entra um indie-jazz que logo derruba a interrogação da pergunta do título. Posso estar me enganando, mas à medida que a canção cresce Giovanna vai cantando mais entorpecida, um pouco bêbada. São as coisas fazendo um efeito. Gênia.
((Dá uma olhada na capa do disco, abaixo. É Giovanna se abração, se dando um carinho, mas a capa é a representação que hoje, na situação em que vivemos, a gente precisa se abraçar, precisa se dar um carinho. Por isso a capa não tem um rosto. A gente sabe que é a cantora e multiinstrumentista. Mas poderia ser eu ou você))
Grudada vem o “hit” do disco, “Baile de Máscaras”, dessas para tocar em rádio de MPB, mas se ao vivo a guitarra for aumentada e ficar mais mal-comportada, vira ótima para uma pista de indie.
III, o álbum que parece um EP e vice-versa (número de música em um disco não faz muita diferença mais, né?), tem seis canções. Uma chamada “Rosalía”, um quase reggae abrasileirado que remete à Espanha, mas a uma outra Rosalía, não aquela.
Outra das músicas é “Boogarins’ Are You Crazy?”, uma cover de um Boogarins instrumental, que Giovanna botou vocal e tomou para ela. A original é a ótima “Are You Crazy, Julian?”, que a banda de Goiânia botou no primeiro volume de seu disco “Manchaca”. Qual teria ficado melhor? Não interessa. Virou outra música tão boa quanto.
“Gente Grande” e a gringa “Betray” mantém o nível de “III” e encerra o disco na medida. Não precisa de mais. Menos seria um pecado.
* Giovanna Moraes lançou, junto com o álbum em streaming, seis lyric vídeos criativos e caleidoscópicos, como são os altos e baixos de quem encontrou a música para tratar de seu mental health. A gente deixa aqui embaixo.
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