CENA – Em movimento como o vento, Tori canta o mundo a partir de Sergipe no disco novo “Areia e Voz”

Após o lançamento de seu primeiro álbum solo, “Descese” (2023), que lhe rendeu um ótimo destaque na CENA, inclusive com indicação ao Prêmio Multishow de 2023, a sergipana Tori ressurge agora com o disco novo “Areia e Voz”.

A artista apresenta a seu público dez faixas inéditas em um ótimo trabalho cheio de colaborações: músicos como Nina Maia,  Julia Guedes, Guilherme Lirio, Francisca Barreto e Bernardo Bauer participam do álbum.  

Tori. Foto: Elisa Maciel

De modo geral, “Areia e Voz” tem uma sonoridade onírica, com melodias serenas que são entoadas pelo diferente e belo timbre agudo da cantora, além de instrumentais muito bem produzidos, que se destacam, principalmente, pelos doces coros, pianos e cordas, em especial o violino, em uma atmosfera cinematográfica.  

Em movimento!

“Areia e Voz”. O título do disco é curioso: imediatamente vem o questionamento sobre a relação entre esses dois objetos. E, de alguma maneira, o conjunto das dez músicas do álbum responde a essa dúvida. Mais sutilmente ou não, todas as faixas tratam da relação entre o eu lírico, a “voz”, e as mudanças do tempo e do espaço de acordo com a caminhada da vida, representadas pela “areia”, que é ao mesmo tempo densa e leve, sendo inevitavelmente sempre levada pela força do vento.

Em conversa com a Popload, Tori conta que essa inusitada associação surgiu na composição da letra de maneira inconsciente: “O vento a gente não vê, mas ele é material, né? Ele deixa rastros e um desses rastros é a areia deslocada. Se você vê uma areia no asfalto, você sabe que ela está ali porque o vento levou. E e as dunas, elas são formadas pelo vento. Em Aracaju, que é a cidade de onde eu sou, é cheio de dunas de areia. Então, acho que era uma paisagem que estava no inconsciente mesmo.”

Tori. Foto: Elisa Maciel

E a mudança de paisagens é, certamente, um tema central no disco. A artista hoje vive na cidade do Rio de Janeiro e percorre o Brasil fazendo shows em diversas cidades, contando, até, que diferentes músicas do disco foram compostas em diferentes locais do país.

A encantadora “Repouso”, por exemplo, foi escrita durante uma passagem da artista por Belo Horizonte em uma parceria entre Tori e o músico mineiro Bernardo Bauer, integrante da banda belo-horizontina Desastros, co-fundador do Estúdio Cais e integrante do projeto Sítio Rosa.

“Repouso”, inclusive, que é a sétima faixa de “Areia e Voz”, pode ser considerada a melhor música do álbum. Em um doce dueto entre Tori e Bauer, a música ilustra uma sensação de uma manhã tranquila e alegre, em um arranjo crescente, com guitarras e instrumentos de sopro protagonizando o som. A voz aguda de Tori mistura-se às flautas no instrumental, aumentando a atmosfera fofa da canção.

De modo geral, essa sensação de movimento é nítida nos arranjos de “Areia e Voz”, que trazem músicas diversificadas entre si: das mais calmas como “Ilha Úmida” (que você vê o vídeo ali embaixo), “Discreta Paz” e “O Som de Quem Dorme Bem” até as mais enérgicas como a psicodélica “Trastejo” e a derradeira “Cartografias”, que vai crescendo ao longo dos minutos, trazendo outros elementos não tão explorados na primeira parte do disco, como trompetes e sanfonas.

Embora em constante mudança de sons e cenários, “Areia e Voz” volta bastante às raízes sergipanas de Tori. Segundo a cantora, o disco tangenciona seu processo de se entender enquanto uma artista de que vem de Aracaju, ou seja, de fora do eixo Rio-São Paulo, e a faz pensar sobre de que maneiras essa regionalidade aparece em sua obra.

Materializando isso, em “Cartografias”, a última canção do álbum, Tori canta sobre as paisagens de Sergipe, como se, apesar das andanças pelo mundo, a artista ainda fizesse questão de retornar a sua terra
natal.