Nos palcos europeus desde 2022 e atualmente residindo em Portugal, Felipe Neiva retorna aos fones de ouvido brasileiros em uma nova fase mais “suingada”, agora com o single “Baby”.
Bebendo na fonte da soul music brasileira, sobretudo de ícones como Cassiano, Luiz Melodia e Tim Maia, o artista niteroiense se junta aos irmãos Alberto Continentino (baixo, guitarra), Jorge Continentino (flauta transversal) e Kiko Continentino (teclados) para trazer uma canção dançante, reflexiva e, curiosamente, também não binária.
No arranjo de “Baby” se destaca um dueto entre uma voz mais aguda e uma mais grave, a primeira que convencionalmente remete mais a um canto feminino e a segunda, a um canto masculino, sugerindo uma conversa entre um eu-lírico e uma pessoa amada. Isso porque a música tem um quê de romântica tanto em sua letra quanto em sua própria sonoridade, que realmente lembra essas referências dos anos 1970 e 1980.
“Criança interior”
Bem, o mais interessante vem aí: para a provável surpresa de muitos ouvintes, as duas vozes na música são de Felipe Neiva. E em entrevista à Popload, Neiva conta um pouco mais sobre esse uso inusitado do canto como forma de explorar sua identidade queer na música.
“Em termos musicais é difícil falar sobre um single não-binário, mas acho que foi a forma de comunicar às pessoas que, de fato, sou eu fazendo tanto as vozes mais agudas quanto as mais graves. De um lado mais poético também essa música parte de uma força criativa muito conectada à criança (ou ao Baby) que eu já fui.”
“Meu primeiro apelido na vida foi Tim Maia… e o primeiro título da música foi “Primavera” (composição imortalizada pelo Tim e composta pelo Cassiano), então como a música transita por essa soul music brasileira tem tudo a ver também honrar esse bebê/criança que só estava ali existindo, sem se sentir ainda esmagado entre as expectativas e obrigações sociais da performance de gênero.”
Para 2026, Felipe Neiva promete o lançamento de um disco cheio, no qual a faixa “Baby” está inserida. Segundo o artista, o álbum buscará homenagear a CENA de Niterói, dos sons dos bares e restaurantes da cidade à música que seus pais ouviam, em uma boa sensação nostálgica.