Da fabriquinha de artistas novos mineiros surge mais um nome já a caminho de ser badalado. A cantora Cecília Cecilina foi mexer até com “entidades pesadas” para dar vida (!) a seu single de estreia, “Vestidos”, que vai puxar o álbum “Canto dos Sapos”, a sair ainda neste ano.
A pegada mineira de Cecília, apesar de seu visual super urbano, não tem a ver com Belo Horizonte, vai se entender musicalmente com o interior. E é ali que o “bicho” pega.
Cecília Cecilina é de Pouso Alegre, tem na família uma ligação artística em canto popular e começou a se lançar para a música trancada em seu sítio no sul de Minas, onde gestou começou a criar suas músicas no início da pandemia: “Fiquei no meu sítio, com minha família – todo mundo em completo estado de choque. No meio desse turbilhão, criei uma bolha pessoal de descanso. O plano era: para não enlouquecer, faria arte”.
A atmosfera desse seu primeiro álbum, como pode ser visto neste single de estreia, “Vestidos”, mistura Clube da Esquinha e a vibe do Beach House, mais realismo fantástico e forte regionalismo mineiro.
Ela ficou impressionada com uma festa de Folia de Reis a que foi em Aiuruoca, dentro do Vale do Matutu, MG, e dela seu disco de estreia começou a nascer, a partir deste single para a faixa “Vestidos”.
Nessa experiência, passou a escrever sonhos, poesias feitas “numa tacada só” (de onde tirou alguns versos para fazer suas canções), pequenos textinhos com ideias e referências sonoras e audiovisuais. Dessa forma, deixou o sonho a guiar e as coisas virem como enxurradas, simbolizando assim sua entrega na concepção do álbum.
“Eu sempre acreditei em tudo e não acho que é lenda nem crendice. Conheço gente que viveu muitas coisas misteriosas por essas terrinhas e pela felicidade ou desespero de quem conta, nunca tive motivo pra desconfiar. Fui, então, destrinchando mais as entidades elementais e as sobrenaturais, que movem as vivências e a cultura de Minas Gerais.”
Em “Vestidos”, a entidade que guiou Cecília foi o Cramulhão. Tendo como inspirações o Capeta da Borda, que assombrou uma família em Borda da Mata (cidade ao lado da terra natal da cantora) e o famoso causo violeiro, de que, através de um ritual o Capeta poderia lhe dar o maior de todos os dons: pontear a viola dum jeito bonito que só.
Na descrição do vídeo de “Vestidos”, as entidades se juntaram ao Coisa Ruim, incorporando as almas dos violeiros no pós-morte. A música começa com um causo e deságua em uma memória afetiva da artista, onde dançava no quarto da sua mãe, usando um vestido de tule preto cheio de flores. Com esse vestido, criava cenários incríveis e tramas complexas, com bailes, danças, cortejos: “Memória gostosa que eu carrego até hoje e mentalizo sempre que vou entrar num palco. Fui brincar de performar o Capeta dessa vez e achei foda como me joguei na contação dessa história”, disse Cecília.