Neste ano vamos ter que ser criativos para achar outras formas de escrever “neste show a (insira banda/artista da CENA) dá adeus a seu repertório atual e se prepara para lançar o proximo trabalho”.
Mas desta vez vamos deixar assim mesmo. até no título, para começar a descrever a apresentação do Boogarins em São Paulo no último fim de semana, no Cine Joia, em São Paulo.
Com o diferencial de que esse não foi um show tradicional do Boogarins: a banda goiana-paulistana-recifense mais internacional do indie nacional trouxe no sábado passado uma novidade para essa sua despedida, buscando inovar na questão de interação com seu fiel público.
Antes da apresentação de sábado, o grupo anunciou em suas redes sociais que faria uma prática que eles denominaram de “fotobatismo”, que, segundo eles, é ideal para aqueles que têm problemas com “tristeza aguda, sentimentos confusos, indisponibilidade social e insatisfação financeira”. Ou seja, praticamente todo ser jovem que vive neste país. Bom, fomos lá entender um pouco mais, ao vivo, sobre esse tal de “fotobatismo”.
A noite começa com um certo tumulto em frente ao Cine Joia, onde aconteceu o show. Tinha um carro antigo estacionado na rua, desses que as noivas usam para chegar em casamento. No caso deste que envolvia o evento do Boogarins na Liberdade, tinha um motorista uniformizado, uma equipe de captação de imagens e uma panfletagem curiosa distribuíada aos presentes.
Os folhetos traziam uma mensagem CONTRA o tal “fotobatismo”, e pedindo que o Boogarins voltasse a fazer shows com repertório dedicado aos seus dois primeiros discos, “As Plantas Que Curam” e “Manual”, como você pode conferir o panfleto abaixo.
Ao entrar no Joia, o público encontrava uma cabine de gravação com fundo verde no andar superior. E foi lá que aconteceu o “totobatismo”.
Era simples, você sentava em frente a uma câmera, recebia um par de fones de ouvido conectados a um ipod e dava play. Quem participou ouviu um áudio muito psicodélico feito pela banda, no qual uma voz guiava por trechos de quatro músicas do próximo disco do Boogarins.
Depois, durante o show, o vocalista Dinho Almeida contou que a ação faz parte das gravações para o novo vídeo da banda, e essa talvez tenha sido a forma mais interessante de interagir com o público que vimos em shows nacionais em um bom tempo. Captando a surpresa da novidade.
Mas vamos falar da apresentação em si. Ela começou com alguns hits da banda, como “FoiMal” e “Invenção”, e culminou numa homenagem ao primeiro álbum deles, “As Plantas Que Curam”, que completa 10 anos em 2023. Após uma década e seis discos, o quarteto sabe fazer um ao vivo com muita energia e execução absurda.
Eles estavam tão animados que o baixista, Raphael Vaz, até arriscou um crowdsurfing. E então aqui aconteceu uma espécie de “fotobatismo comunitário”, momento em que a banda tocou “Chuva dos Olhos”, uma das novas músicas do próximo trabalho do Boogarins.
Um dos destaques do show foi a versão de “Nada Será Como Antes”, de Milton Nascimento. E aqui o Boogarins voltou a fazer a “mágica” de mesclar o clássico brasileiro com um sample de “Alter Ego”, do Tame Impala. Clube da Esquina + neo psicodelismo australiano = Boogarins.
Em paralelo a seus shows tradicionais, a banda goiana tem feito algumas apresentações pelo Brasil com repertório dedicado exatamente ao Clube da Esquina. Por aqui também conferimos este show de versões, que, como não podia de ser dentro da temática boogariniana, é uma verdadeira viagem.
É difícil traduzir de uma forma original um trabalho tão consagrado como é o de Milton Nascimento, Lô Borges e companhia. Mas tal como a banda segue rompendo barreiras e trazendo sonoridades novas em seus trabalhos autorais, o Boogarins conseguiu misturar um conjunto de referências muito atuais, como esse sample do Tame Impala, para criar uma versão do Clube de Esquina anos 2020, que ao mesmo tempo inova e respeita as raízes mineiras.
No fim a apresentação do Cine Joia, à medida que foi uma “despedida”, nos remeteu mais e mais ao futuro sonoro do Boogarins que nos aguarda. E todo mundo saiu da casa querendo que esse futuro (e o sétimo álbum da banda) chegue(m) logo.