CENA – Boogarins bagunça conceitos e fica ainda maior com “Bacuri”, seu primeiro álbum em cinco anos

Com dez anos de história, uma história que a gente sempre gosta de contar aqui na Popload, a banda indie goiana Boogarins se renova e inicia uma nova fase com “Bacuri”, seu primeiro álbum de inéditas em cinco anos.

Boogarins é uma banda singular na CENA. Para eles é muito pouco chamá-los de indie tal qual a grandiosidade do alcance do seu som hoje em dia, ou de “goiana”, dado onde eles foram parar, nacional e internacionalmente.

E “Bacuri” talvez seja o mais bem acabado disso. Mas sobre o disco falaremos um pouco mais adiante.

Da esq. para a dir: Ynaiã, Fefel “em cima”, Benke (em baixo) e Dinho

O quarteto se uniu em Goiânia no início da década passada e dentro de uma cena regional promissora se destacaram por suas sonoridades de rock psicodélico, que chamam atenção por não serem só mais um simulacro do que foi feito na música brasileira das décadas passadas.

Rapidamente o grupo ganhou destaque entre os gringos, criando espaço para fazer turnês longas pelos Estados Unidos e Europa muito antes de isso ser a tendência atual entre artistas da CENA. Apesar desse respaldo internacional, os Boogarins cresceram timidamente dentro do âmbito nacional, cavando devagarinho seu espaço aqui dentro, mas se mantendo essencialmente undergrounds.

Veio a pandemia e muitas bandas encontraram seu fim. A distância física, como é o caso dos Boogarins hoje, com Dinho Almeida e Raphael “Fefel” Vaz em São Paulo, Benke Ferraz em Recife e Ynaiã Benthroldo no Rio, e as pressões financeiras se provaram desafios complexos para a maioria das bandas, mas parece não ter sido tanto para um Boogarins estruturado. O grupo se manteve ativo em seus experimentos sonoros com as importantes coletâneas “Manchaca Vol 1 & 2″.

Assim que a pandemia permitiu, os Boogarins se reuniram novamente e retomaram sua intensa agenda de shows. Eles sempre privilegiaram as apresentações ao vivo, que são onde a sinergia única da banda realmente se faz presente.

Entre as apresentações em comemoração dos 10 anos de seu primeiro disco, “Plantas Que Curam” e o ótimo show de versões do “Clube da Esquina”, o quarteto se consolidou ainda mais como uma das melhores bandas de rock ao vivo da música brasileira em si. O termo indie já ficava incompleto para ser designado aos Boiarias.

E, talvez o mais interessante, em suas apresentações pelo Brasil o grupo fez uma curadoria de bandas de abertura que trouxe algumas dos melhores nomes em ascensão na CENA, como Varanda (Juiz de Fora), Terraplana (Curitiba) e Exclusive Os Cabides (Florianópolis), para abrir os shows em suas cidades-natais.

* “Bacuri”

Dentro deste contexto, os Boogarins lançaram nesta semana o próximo passo em sua carreira com seu quinto álbum, “Bacuri”. Retornando às suas origens, o quarteto decidiu gravar o novo disco em casa, como fizeram com seu primeiro trabalho, e aqui tem um quinto elemento muito importante, a presença de Alejandra Luciani.

Conhecida por seu trabalho como engenheira de som e mixer, a participação de Alejandra, companheira do baixista Raphael Vaz, os Boogarins conseguiram atingir sonoridades de estúdios profissionais mesmo gravando domesticamente. Isso destaca a importância das parcerias técnicas certeiras neste contexto em que qualquer pessoa pode gravar uma música em casa.

O disco já começa com uma surpresa: a primeira música de “Bacuri”é a faixa de mesmo nome, e ainda a primeira com vocais do baterista, Ynaiã Benthroldo. Com seu timbre grave, tão oposto ao de Dinho Almeida, na canção de abertura Ynaiã dá o tom do disco. Entre gravações das vozes de seus filhos, os Boogarins mostram que já não são mais os meninos que começaram a fazer música dez anos atrás.

Ao longo de dez faixas a banda explora temas de amor, como no single “Corpo Asa” e na ótima “Amor de Indie”, pertencimento dentro do contexto da CENA na música “Poeira”, e claro, as suas clássicas viagens psicodélicas como em “Crescer” e “Chuva dos Olhos”, esta última já uma velha conhecida dos fãs que acompanham a banda ao vivo, tendo sido apresentada pela primeira vez no ano passado em show no Cine Joia, em São Paulo.

Destaca-se ainda em “Bacuri” o trabalho de pós-produção, onde a união dos elementos instrumentais é elevada pela capacidade, fruto de mais de dez anos de trabalho, de acrescentar as intervenções perfeitas para enaltecer as composições sem exagerar.

A grande conquista do álbum é capturar toda a história da banda, principalmente sua sinergia ao vivo, nas músicas e fazê-lo em conjunto: todas as faixas são assinadas pelos quatro integrantes.

Boogarins é uma banda única no contexto musical brasileiro, no sentido que eles já têm todo esse tempo, todo esse trabalho mostrado, e são cada vez mais uma banda, lato sensu.

“Bacuri” não é sobre o Dinho ou Benke ou Fefel ou Ynaiã, sobre ser indie ou sobre ser goiano. Sobre ser psicodélico. É sobre ser os Boogarins. E isso já súper basta.

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* As fotos do Boogarins usadas para este post são de Gabriel Rolim.
** A banda faz show de lançamento de “Bacuri” no dia 4 de dezembro no Circo Voador, no Rio, e no dia 6 no Cine Joia, em São Paulo.