CENA – Benke conta a história de “Manchaca”, disco novo e texano que o Boogarins lança hoje

1 - cenatopo19

capa MANCHACA

* A grande banda goiana-porém-do-mundo Boogarins lança hoje o primeiro volume de sua série “Manchaca”, disco que representa a temporada que o quarteto passou em 2016 na casa de mesmo nome em Austin, Texas. E que marcaria ainda o nascedouro dos dois discos seguintes do grupo, o EP “La Vem a Morte” (2017) e o álbum “Sombrou Dúvida” (2019).

Essas sobras da Manchaca, que forma esses dois volumes de álbuns de agora, representam também um fim de ciclo para o Boogaris, o fim da “fase texana” da banda, um reajuste de contas com o passado musical recente de uma banda tão nova como tarimbada no mercado internacional.

Um novo Boogarins vem aí, depois que “Manchaca Vol. 2” ser lançado.

Para explicar todo esse processo, melhor deixar o guitarrista Benke Ferrar explicar ele mesmo, com exclusividade para a Popload.

Fala, Benke!

BOOGARINS 4 crédito Ann Alva Wieding

“A Manchaca representou essa estabilidade para o Boogarins, esse local que proporcionou a gente fazer essa série de coisas enquanto banda que nunca tínhamos feito ainda. Em 2016 o Ynaiã [Benthroldo, baterista] já estava tocando com a gente tinha dois anos, mas ainda não havia entrado em estúdio conosco. O Boogarins estava indo para vários rumos diferentes musicalmente, compondo as canções mais pop que já tínhamos feito, como ‘Foimal’, ‘Te Quero Longe’, ‘Corredor Polonês’, e então a gente tinha todas essas músicas sendo cozinhadas nas nossas cabeças, tocando elas como jam ora ou outra, sem saber exatamente o que queríamos fazer com elas.

Em 2015 o ‘Manual’ [segundo álbum do Boogarins] já tinha sido esse disco todo analógico, tudo na fita. E a possibilidade de parar ali na casa do pessoal selo, em Austin, ao lado do estúdio que a gente usaria para as próximas gravações, depois de praticamente três meses de turnê nos EUA, abrindo para o Andrew Bird e tocando com a banda sueca Dungen, foi bem oportuna. Depois ainda de ir para Portugal para fazer o Rock in Rio Lisboa…

Daí a gente volta para os EUA para ficar esses quase dois meses nessa casa que nem era tão central em Austin. Era numa região afastada da 6th Street [famosa rua cheia de bares e casas de shows da cidade, área principal do festival South by Southwest, por exemplo], tinha que pegar dois ônibus para chegar nela ou pagar 20 dólares de Uber. Era um lugar, uma moradia que a gente acabou ficando por lá mesmo, sem sair muito.

O que a gente curtiu de noite de Austin, nesse período, foram os shows que a gente fez de residência no Hotel Vegas ou um concerto ou outro que a gente queria ver mesmo, tipo o que fomos quando a Rakta [banda de São Paulo] tocou no Mohawk. Teve a vez em que abrimos para o Holy Wave quando o Ringo Deathstarr precisou cancelar e souberam que a gente estava na cidade para tocar no lugar. Sendo que a gente já tinha planejado ir nesses shows mas havíamos desistido, porque não queríamos gastar essa grana para se locomover para lá e ainda pagar o ingresso. Então uma série de coisas aconteceram que foi legal também para marcar também essa estadia na Manchaca e fazer parecer também que éramos a banda mais texana do Brasil.

Tivemos então esse processo de dois meses que tivemos na casa, com todo o equipamento alugado e um estúdio ali à disposição para gravarmos as coisas no nosso tempo, mas nesse momento de fechar o disco e sentir que o nosso terceiro álbum [Sombrou Dúvida] seria o grande disco do Boogarins a gente deu uma titubeada. E nessa coisa de repensar um pouco decidimos voltar depois para Austin, para a Manchaca, em 2018, quando a gente estava indo tocar no Coachella, para usar novamente aquele estúdio ao lado, o Space, com a engenharia do Tim Gerron [engenheiro de som e produtor], e também para trabalharmos focados, ter horários, ter esse sentido de produzir para sermos mais objetivos e finalizar o terceiro disco, uma vez que essas músicas pintaram ali no estúdio, nessa segunda vez na Manchaca, como ‘Dislexia ou Transe’, ‘Nós’, ‘As Chances’, ‘Desandar’, as músicas que deram corpo para o ‘Sombrou Dúvida’.

Aí a gente meio que se desapegou de algumas faixas da casa e construiu o ‘Lá Vem a Morte’ [disco anterior ao ‘Sombrou Dúvida’, considerado um EP], de surpresa para soltar para a galera em 2018, antes de lançar o álbum. E então tudo o que teria sobrado da casa entraria no ‘Sombrou Dúvida’, mas novamente a gente gastou uma cabeça extra ali e resolveu voltar para o Space mais uma vez em 2018 quando fomos fazer o Coachella na Califórnia para produzir mais músicas. Tentar entrar na Manchaca novamente para criar e ver o que sairia daquilo, se surgiria uma grande canção para incrementar mais o ‘Sombrou Dúvida’ e ter mais material para começar a trabalhar um outro disco depois. Dessa última sessão, saiu a própria ‘Sombrou Dúvida’, a música, que foi a última a ser finalizada para o disco.

E aí ficamos com esse monte de sobra que agora vai ser toda desaguada nestes dois volumes do ‘Manchaca’, para assim a gente poder encerrar um ciclo e entrar nesta era pós gravações em Austin sem estarmos realmente requentando nenhuma ideia ou apegados a qualquer ideia de canção ou estética de gravação que começamos a desenvolver ali a partir de 2016 e foi levada com a gente até a Manchaca.”

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Ouça o álbum “Manchaca Vol. 1 – A Compilation of Boogarins Memories, Dreams, Demos and Outtakes from Austin, Tx” e veja o documentário que a banda lançou desse período importantíssimo para eles e inclui até cenas das apresentações no festival South by Southwest em 2019.

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* A foto do Boogarins utilizada na home da Popload é de Valéria Pacheco. A imagem da banda neste post é de autoria de Ann Alva Wieding.

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