A dupla carioca Nu Azeite, formada por Bernardo Campos e Fabio Santanna, está de volta com seu segundo álbum, “Vem pro Mar”, reforçando sua nobre missão de manter viva a história da música dançante carioca, que vem sendo escrita desde os bailes black do subúrbio da Cidade Maravilhosa.
Ouvindo Nu Azeite, não há como não puxar na memória (e nos quadris) elementos de Tim Maia, Sandra de Sá, Marcos Valle e toda a turma que, assim como os citados, frequentava o estúdio de Lincoln Olivetti, produtor responsável por unir a música pop com o som das pistas nas décadas de 70 ou 80.
“Vem pro Mar” chegou às plataformas sexta-feira passada, às vésperas da apresentação da dupla no Rock In Rio 2022 (que rola no dia 8 de setembro, no palco New Dance Order). O álbum passeia entre a house music, boogie brasileiro e R&B, o que também os aproxima, em momentos e elementos, de artistas como Azymuth e Hyldon.
Conversamos com Bernardo Campos e Fabio Santanna sobre o novo trabalho e a contagem regressiva para o festival.
Popload – Conseguimos perceber uma influência muito grande da house music mais solar e divertida da música de vocês e sabemos que você, Bernardo, sempre esteve envolvido com este cenário aí no Rio de Janeiro. Quais as influências cariocas no estilo?
Bernardo Campos – O Rio de Janeiro é nosso berço, nossa casa e nossas vivências aqui na cidade é que nos inspiram a fazer música. Na parte musical vamos dos anos 70 a tempos atuais nas referências. Desde Tom Jobim, Vinicius, Sandra de Sá, Tim Maia, Lincoln Olivetti até a nova geração de músicos e DJs atuais, como Nepal, Carrot Green e muitos outros. Nos consideramos sortudos de ter nascido cariocas.
Popload – Falando nisso, vocês acham que os temas tratados pela dupla, tão cariocas, podem ser absorvidos pelo resto do Brasil (e do mundo) de que forma?
Fábio Santanna – Para ser sincero, se pensarmos bem, os elementos realmente cariocas disso tudo somos eu e o Bernardo. A música flutua, viaja entre vários ritmos e influências, brazilian boogie, funk, afro, isso é Brasil, é nosso. Acho que já está absorvido, no inconsciente coletivo.
Popload – O Bernardo sempre está na pista como DJ carioca [ele é um dos cabeças da festa Rara]. Conte-nos um pouco da sua história na música antes do Nu Azeite, Fábio.
Fábio – Sou músico de origem, multiinstrumentista e autodidata. Fui aprendendo o ofício no dia-a-dia, na curiosidade, trocando e tocando ao lado de grandes mestres. Nessa caminhada pude trabalhar com grandes nomes como Elza Soares, Marcos Valle, Gabriel Pensador, Lenine, entre outros… Acabei me tornando também produtor musical, de trilhas, programas e musicais da Globo, GNT, desfiles de moda. Hoje tenho meu próprio estúdio, o Na Nave, em Copacabana, além de tocar meu projeto solo, chamado Live Motel, de música eletrônica.
Popload – O álbum tem muitos vocais, o que os aproxima dos artistas que fizeram a ponte entre a pista de dança e as rádios. Como foi o processo da criação das letras?
Bernardo – Cada faixa tem um processo diferente. Algumas fazemos nos nossos próprios estúdios, cada um com uma inspiração ou sobre algum tema que vivemos, e tem outras que fazemos freestyle enquanto estamos gravando, sempre pensamos o que vai funcionar melhor e seguimos. Neste segundo disco, usamos bastante a técnica de dobrar os nossos vocais, inspirados bastante no grupo Os Originais do Samba. Tem faixas que o Fabio canta solo, outras que eu canto e duas faixas com a Maria Thalita de Paula.
Popload – Musicalmente, o Nu Azeite representa toda uma cultura de bailes cariocas. Como este som chegou a vocês?
Fábio – Como adolescente negro nascido e criado entre o subúrbio e a Zona Sul carioca, os bailes eram o local de encontro, de brilho, de paquera, era onde o jovem negro se sentia pertencendo a algo, a uma cultura onde conseguia me enxergar. A trilha sonora era o que eu ouvia em casa, nas rádios… o baile era como ir no Maraca, o baile era natural, fazia parte da minha construção.
Popload – Qual a maior diferença que podemos notar comparando o primeiro álbum de vocês com o recém-lançado “Vem pro Mar”.
Acredito que é uma versão mais amadurecida do nosso primeiro trabalho. Temos mais faixas, são 10 no total neste segundo trabalho. Tem trip hop, downtempo, boogie, disco, house com aquela pitada de Brasil para deixar tudo mais salgado. Gravamos com outros músicos nesse segundo disco o que foi uma experiência muito enriquecedora. Estamos muito ansiosos para mostrar esse trabalho para o mundo!
Popload -Vocês se apresentarão na edição 2022 do Rock In Rio. O que estão preparando de especial para esse show?
Bernardo – Basicamente nosso live com faixas 100% autorais do primeiro e do segundo álbum.
Fábio – Estamos super animados! É sensacional estar no maior festival de música do Brasil, fazendo uma música eletrônica, bem brazuca, bem-humorada e solar! Pode esperar teclados, vocais, beats repletos de swing, malemolência e malandragem boa carioca!
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* Entrevista conduzida por Jota Wagner, em colaboração com a Popload