CENA – Ale Sater e o disco fora da Terno Rei: “Tenho 35 anos e o jeito com que eu lido com a tristeza hoje está diferente”

Com sua banda, Terno Rei, quebrando barreiras da CENA, ainda que no viés independente, tocando nas rádios e retornando ao Lollapalooza em 2025, Ale Sater precisava de um respiro. E fez uma pausa para lançar nesta semana seu primeiro disco solo longe de sua banda, “Tudo Tão Certo”.

Foi em um intervalo entre turnês no período do fim do ano passado e abril deste ano que o vocalista e baixista Ale Sater conseguiu encontrar tempo para ir até Curitiba gravar e produzir seu álbum com o amigo de longa data da Terno Rei, o produtor Gustavo Schirmer. As 11 faixas foram produzidas e executadas a quatro mãos com todos os instrumentos gravados por Sater e Schimer.

As sonoridades que saíram dessa “química diferente” são o que, para Ale, já diferenciam muito seu trabalho solo do que tinha feito até então com a Terno Rei. “Solo eu puxo mais para o folk e referências de música brasileira com violão e madeiras, sem tanta bateria e guitarras.”

Entender o que levaria para o seu trabalho solo partiu da união de sonoridades e timing. A parte do timing foi mais complicada, já que a Terno Rei está num momento de subir seu sarrafo musical, indo além do underground e se aproximando de um certo mainstream e um público novo. 

Talvez este “Tudo Tão Certo” seja um passo atrás necessario no pessoal para dar dois para a frente no geral, junto a seus amigos de banda.

Ale está sempre escrevendo, compilando suas observações do cotidiano, e muitas das músicas que ouvimos neste disco foram compostas anos atrás. Algumas que poderiam ter ido para este seu trabalho solo, como foi o caso de “Brutal”, foram incluídas no mais recente disco da Terno Rei, “Gêmeos” (2022). Uma canção que acabou no disco solo, mas se encaixaria bem com a banda, foi a “Quero Estar”. 

Seguindo as expectativas mercadológicas, lançar um disco de canções mais confessionais e que vai para um lado mais melancólico poderia ser contra-indicado por muitos especialistas. 

Mas não é o caso, segundo Ale. “Ser verdadeiro nas minhas músicas e lançar o que faz sentido para mim é o mais importante. E este trabalho vem com uma maturidade diferente: tenho 35 anos e o jeito que eu lido com a tristeza hoje está diferente. E, no final, é disso que a galera gosta.” 

As músicas mais intensas do álbum, como “Final de Mim” e “Ouvi Dizer”, marcam a primeira audição do disco. Mas não é só a partir de reflexões digamos soturnas que faz o músico compor.

O álbum se encerra com faixas mais solares e animadas, como é o caso de “Quero Estar” (o single, com vídeo) e “Desvencilhar”, que fecham o trabalho com uma nota de esperança por dias bons, apesar de que “mesmo quando é leve, as músicas vêm carregadas”, remarcou. 

Esse liricismo carregado de Ale Sater é marcante em todo seu trabalho, inclusive ao vivo. Em sua apresentação mais recente, no recém-realizado festival 5 Bandas, em São Paulo, os fãs se deliciaram com a catarse proporcionada por suas músicas. E esse público, segundo Ale, é parte importante dessa sua trajetória, solo ou com banda.

“Nossos fãs são muito fodas e tomara que leiam esta entrevista e saibam que tudo é muito verdadeiro.”

Para além de fazer um álbum solo, montar uma nova banda para este trabalho se mostrou positivo para renovar sua relação com a música. “Já estou com a Terno Rei há muitos anos, então o desenvolvimento com ela tem sido muito proporcional. Mas a cada ensaio com a banda do meu projeto solo o crescimento é muito maior e isso dá uma animada”, comentou Ale.

Aqui vale ressaltar que Ale Sater e a Terno Rei seguem sólidos. Inclusive já estão finalizando as gravações do quinto álbum de estúdio da banda. E Ale ainda está entendendo como encaixará a divulgação de seu trabalho solo com a rotina agitada (e enorme) da banda. 

No final, o nome de sei disco solo sintetiza perfeitamente a obra, “Tudo Tão Certo”. Refletindo sobre a dicotomia da realidade e do dia-a-dia, Ale Sater expôs em 11 composições seus sentimentos sobre as contradições da vida em que alguns dias estamos felizes e noutros tristes, mas ainda assim vamos seguindo. Sozinho ou com todo mundo junto.

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* As fotos de Ale Sater usadas para este post são de Fernando Mendes, com design de Thais Jacoponi.