Prestes a se tornar pai, o internacional músico paulistano Sessa deu recentemente luz a seu segundo álbum, chamado “Estrela Acesa”. Todas as simbologias de nascimentos ativadas.
Para ele, a paternidade ainda é um mistério, mas esse período de altas reflexões, juntando pandemia ainda por cima, deu ao músico um guia para buscar refúgio em suas canções. A Popload foi ouvir o disco junto a Sessa, no clube Bona, em SP, numa noite anterior a seu lançamento, e em breves palavras Sessa, ao lado de seu co-produtor e suas cantoras, Ina, Lau Ra e Paloma Mecozzi, compartilhou seu processo criativo.
Para o cantor, seu novo trabalho foi longo de escrever, mas rápido de gravar. E suas novas canções são capazes de traduzir os mil sentimentos e sensações que viveu, com auxílio de melodias sensíveis e cheias de camadas. E foi num cenário de auge pandêmico que Sessa levou suas composições para o Estúdio Grilo, em Ilhabela, onde Biel Basile, conhecido por seu trabalho como baterista na banda O Terno, atuou como co-produtor do disco.
Diferente de seu álbum de estréia, “Grandeza”, em que a colaboração com suas cantoras foi parte essencial no desenvolvimento das músicas, a confecção de “Estrela Acesa” forçou um movimento mais introspectivo e o cantor usou o tempo em isolamento para compôr as novas faixas sozinho. E as gravou em trio, formado ele, Biel Basile e Marcelo Cabral no baixo.
Literalmente ilhados do mundo, o trio transformou as ideias de Sessa em 12 faixas do disco em fita. Sem sair de trás da bateria, ou do congo em algumas das faixas, Basile pôde mostrar suas qualidades na produção de um disco onde o ritmo lidera.
Muito do que se ouve no álbum que foi lançado são primeiros takes, como na faixa “Pele da Esfera”. “Acabamos seguindo com essa versão, eu falando no começo e praticamente a primeira vez que o Marcelo tocou essa linha no baixo”, revelou. E, curiosamente, a faixa-título terminou de ser gravada assim que acabou a fita, para literalmente fechar o álbum.
Nas composições, o interesse de Sessa em escrever sobre a fragilidade do corpo humano e suas experiências pelo mundo se mantém em “Estrela Acesa”. Para o cantor “talvez, ainda seja erótico, porém um pouco mais melancólico e menos inspirado pela euforia do apaixonamento”, conta. “Com o tempo acho que é inevitável enfrentar as dificuldades de tais encontros, seus altos e baixos, mas, mesmo assim, manter a beleza viva.”
Este novo álbum, lançado mundialmente pelo selo Mexican Summer, explora muito o lado introspectivo de Sessa, tudo bem, mas encontra jeito de ser algo também de seu exterior, de suas relações na carreira. É natural que “Estrela Acesa” seja um acúmulo de mais de 10 anos de sua jornada nacional (que começou com o Garotas Suecas) e internacional (das muitas turnês gringas). A obra demonstra como o artista soma suas referências, que ainda remetem muito à música brasileira do século XX e às pessoas que conheceu pelo caminho para produzir algo que representasse sua essência.
O exemplo dessa soma externa são os arranjos do disco, gravados de forma remota, feitos pelo nova-iorquino Simon Hanes, nativo da cidade onde Sessa passou parte formativa de sua juventude. Tendo como exceção a faixa instrumental “Helena”, que foi arranjada pelo bielo-russo Alex Chumak, que o cantor conheceu por uma troca de e-mails, em um exemplo das viagens de Sessa que nem uma pandemia interrompeu.
“Te amo, te odeio, e tudo no meio. Se amar é um negócio, eu sou só um cantor.” As suas músicas têm essa cadência que te carrega como num rio. Sessa poupa palavras para ir direto ao ponto, um ponto fixo numa corrente em movimento de um tempo que não existe e traz mensagens fortes para esse momento de volta.
“Estrela Acesa”, que você pode ouvir inteiro aí embaixo, é um disco de camadas, que você pode ir penetrando a cada audição. E dá o tom da importância de Sessa na música brasileira atual.
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* Por Carolina Andreosi.
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