>>
* Lost angels.
* Já ouviu “Landcruisin”, do produtor inglês A.K. Paul? Ouça. Por algum motivo que eu ainda vou entender, é o “som da Califórnia”. Além de ser um delicioso R&B moleque, todo gingado no funk, tem no começo o ronco original da moto roxa da capa de “Purple Rain”, do Prince, colocado ali antes do astro morrer.
* Semana passada eu estava comendo uns nachos com guacamole num mexicano podre perto do meu hotel, em Los Angeles, para aproveitar e ver o jogo do Warriors que passava em duas TVs gigantes sem volume, porque o som da casa era um hip hop muito louco, muito alto. Jay Z, Kendrick Lamar, Kanye West, Snoop Dogg, Jay Z bombando. Daí, do nada, começa a tocar “Wonderwall”, do Oasis. E depois volta o hip hop. Isso define Hollywood, entende?
* Me planejei para fazer duas coisas em LA e falhei nas duas. A primeira era ver o filme “Elvis & Nixon”, em cartaz aqui. A outra era para ir numa balada. Às 7 da manhã. Mas não era um after, de alguma festa que começou na noite anterior. Essa balada matinal tinha começado 6h30 da matina.
Chama “Morning Dance Party” ou “Daybreaker” e acontece uma quinta por mês em Downtown LA (parece que tem em NYC, Londres e Tóquio também. Qual a surpresa, né?).
É uma balada para quem quer ouvir música alta e dar uma dançada antes de encarar o trabalho. Vai no máximo até 9h30 e parece que lota, haha. Conheço um monte de amigo que já não sai mais à noite e ia adorar ir numa festa assim.
Rola num “centro de convívio” cool chamado The Springs, em Downtown Los Angeles, um lugar que antes era uma antiga fábrica e hoje tem um café cool, muitas poltronas e mesas com wifi de graça para a galera trabalhar ou estudar, salas de yoga e pilates, almoços veganos e tal. Parece um clube para millenials freaks, mas é legal.
Bom, perdi. Mas achei na internet uma foto de uma dessas festas daybreaker. Sente a vibe.
* Susto na Sunset Boulevard. Susto meu. Estava dando um rolê na minha livraria favorita da cidade quando olho do outro lado da rua, onde ficava a velha megastore de discos Tower Records, e vejo a… Tower Records.
O predião ali, lindo, parecendo novo, deu até uma certa emoção. O ex-império dos discos Tower Records é californiano e nos anos 80 e 90 bombava nas grandes cidades do mundo, principalmente em Londres, onde tinha uma gigantesca e famosa na Picadilly Circus (quem nunca?). A Tower Records tinha 200 lojas em 30 países do mundo. Até ruir geral, como todos os outros impérios, por causa da era do download.
Mas a Tower Records da Sunset Strip, essa parte de Los Angeles da qual eu falo, era a mais famosa. E importante para a história do rock, com altos casos e tudo mais. Inclusive no estacionamento dela, ao lado, rolava muitos shows grandes estilo surpresa. Eram tão tradicionais que continuaram rolando mesmo depois que a loja fechou. Parece que o Elton John tocou lá no final do ano passado, num evento beneficente por motivos de Aids, com a Lady Gaga na jogada.
Tenho até uma dessas histórias nessa Tower Records, minha própria. Uma vez, isso anos 90, eu estava lá, comprando meus CDzinhos, quando dois armários ambulantes chegaram perto de mim e perguntaram se eu me importava em ir para a outra fileira. É que o Marilyn Manson estava na loja e queria ver discos na seção onde eu estava. E ninguém podia ficar na mesma fileira que ele. Ok, fui.
Mas, enfim, quinta passada atravessei a rua para ir à Tower Records e matar saudade (já tinha feito minhas comprinhas na Amoeba na noite anterior). Mas… não tinha a Tower Records. Era só a carcaça. Recriaram o lado de fora da loja para o documentário “All Things Must Pass”, que passou em festivais de cinema no ano passado e conta a história da loja como instituição musical. “The Rise and Fall of Tower Records”, que é a continuação de seu título, tem depoimentos, testemunhos de Dave Grohl, Chris Cornell, Chuck D, Elton John, Bruce Springsteen. Tem na Apple Store, na loja americana. Não achei no Netflix.
E, no final das contas, desde o final do ano passado resolveram deixar o prédio “envelopado” de Tower Records até hoje. Dentro, hoje, é um depósito de produtos eletrônicos, inclusive com coisas da Gibson, a marca das guitarras elétricas. E, em vez das capas de discos lançados, o prédio “da Tower” está forrado com o anúncio da turnê do Guns N’ Roses em Los Angeles, em agosto.
* Minha tradicional foto do mural do cantor americano Jim Morrisson em Venice Beach ganhou novas cores. Não a do Jim Morrison em si, que está do mesmo jeito, apenas desbotado pelo tempo. O vocalista dos Doors, que na verdade era australiano e morreu de overdose (??) em Paris com 27 anos (1971), está pintado ali na rua/beco/passagem Speedway desde 1991, obra do artista local Rip Cronk em homenagem aos 20 anos de seu desaparecimento do mundo dos vivos. O negócio é que a parede que sustenta o Jim posando de rock star, sem camisa, está toda vermelha (acho que está assim desde o ano passado). Isso mais o desgaste da pintura de Jim deixam sua marcante imagem prejudicada. Mas, enfim. Cerca de 25 anos depois, o Jim Morrison ainda está lá em Venice Beach.
* O algo novo grupo britânico 1975 está bombando de certa forma no mercado americano, sempre avesso às novidades inglesas à princípio. A banda, que tem show marcado em São Paulo em setembro (dia 23, Audio Club) e capa atual da revista britânica “Q” sob a chamada “A banda que vai fazer sua cabeça”, tipo, tem seu último disco recomendado pelo “staff” criterioso da Amoeba Records, veja você. Achei um pouco esquisito, porque geralmente as recomendação são colocadas em novos lançamentos. E o “I Like It When You Sleep, for You Are So Beautiful yet So Unaware of It”, o segundo álbum do quarteto, foi lançado “faz tempo”, tipo 26 de fevereiro. Em algumas resenhas que eu li, só para entender o “fenômeno indie”, galera adoroooooooooou o show. Eu estava vendo a apresentação deles pela segunda vez na vida e tive a mesma impressão da primeira vez: bem normal. Mas o sol estava quente, era cedinho no dia e a molecada estava lá, em bom número, curtindo muito. Devo não estar captando alguma mensagem. Ou estou.
* Outro “fenômeno” inglês constatado, mais pop e mais eletrônico que o 1975, é o trio Years & Years, que em palco, hoje em dia, se apresenta como quarteto com duas backing vocals. Escrevi sobre o “caso” para a Folha de sexta passada, depois de vê-los em ação no Fonda Theatre, em Hollywood, no penúltimo texto para a série de shows californianos que começou dia 17, com o Last Shadow Puppets em San Francisco. E o qual eu reproduzo agora, acrescentando um videozinho, pans. A foto deste post, na home da popload, é da banda.
Penúltimo show da série californiana de bandas novas (ou de novidades de bandas velhas) e estamos dentro do Fonda Theatre, em Los Angeles, lotado e histérico. A atração a entrar depois que um duo de hip hop de protesto faz as honras de abertura da noite é o trio inglês Years & Years, formação de pouco mais de quatro anos e apenas um álbum, este lançado em julho do ano passado.
Ok, o Fonda Theatre não é lá muito grande, praticamente um Cine Joia na concepção cinematográfica e na capacidade (umas 1200 pessoas). Mas o lugar, com ingressos esgotados há tempos, que fica no coração de Hollywood e tem seu nome dedicado ao ator Henry Fonda, quase não comporta tanta expectativa. E, de repente, as luzes se apagam.
Então vêm ao palco dois do trio inglês, o tecladista e o baixista (que por vezes toca guitarra). Mas a gritaria toma força mesmo quando depois de um suspense ensaiadinho entra em cena Olly Alexander, 25, cantor e também tecladista do Years & Years, que ajudou a montar a banda ao mesmo tempo que sua carreira de ator de teatro, cinema e TV deslanchava.
Cara conhecida da série teen inglesa “Skins”, Olly realmente domina a atenção. Embora o som do Years & Years não traga nada de novo à música, além de algumas canções grudentas bem feitas, o rapaz imprime com sua voz uma certa inteligência em timbres e letras à cena pop eletrônica voltada ao pop. Fora que, graças a seu traquejo de ator de musicais e afins, ele dança que é uma beleza.
O Years & Years começa nos EUA a ter uma reputação que já a faz banda grande na Inglaterra. Lá, graças a um apadrinhamento da rede BBC, que adotou Olly e seus amigos e botou as músicas do trio para circular forte em suas rádios, na TV, em seus festivais, em sessions especiais, para aproveitar a simpatia do vocalista-ator diante da nova geração britânica de consumidores musicais.
Em um momento espontâneo do show de segunda-feira em Los Angeles, emocionado ao ler um cartaz qualquer de uma menina da plateia, Olly Alexander a chamou para o palco e a fez sentar ao lado dele ao piano, enquanto cantava a romântica “Eyes Shut”. Pareceu que ele estava mais encantado com a fã ao seu lado que o contrário.
Jogando para torcida, o Years & Years, em cover, até melhora uma música de Kate Perry, “Dark Horse”, que emenda a trechos do estrondoso sucesso do cantor de hip hop Drake, “Hotline Bling”.
Em plena turnê americana, que já tinha passado por Los Angeles em setembro e levou um grande número de gente ao palco em que se apresentou, nos dois finais de semana do recente Coachella Festival, o Years & Years hoje tem um show bem mais caprichado que os praticados até o ano passado, quando “apenas” era uma banda promissora e se apresentada como nasceu: em trio.
Hoje conta com baterista contratado, duas backing vocals estilosas e um aparato de iluminação de provocar cartazes de aviso na entrada do teatro, alertando pessoas fotossensíveis.
Mais algumas músicas bem emplacadas num futuro próximo e não seria de espantar que Olly dê um tchau para seus amigos de trio, saia em carreira solo e vire o novo Justin Timberlake.
** A Popload está na Califórnia a convite do VisitCalifornia.
>>