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* A banda inglesa Black Sabbath, um dos alicerces do heavy metal e hard rock, parte integrante da história da música com guitarras para todo o sempre quer você seja fã da turma do Ozzy ou não, fez o chamado “último show de sua vida” domingo à noite, no estádio do Morumbi, em São Paulo. O último da vida de qualquer fã da banda aqui no Brasil e o último da vida da própria banda neste país. Foi um concerto do final dos tempos, mesmo.
Para show de tão importante proporcão, convidei a escrever aqui o poploader Alexandre Gliv Zampieri, o segundo cara que manja mais de Sabbath no Brasil inteiro.
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Uma das preocupações curiosas dos headbangers (e na verdade dos rockers em geral), é a redução de bandas gigantes e significativas que conseguem sozinhas encher um estádio e fazer um espetáculo à altura.
Ainda que algumas das maiores bandas das últimas gerações tenham conseguido se estabelecer, pois não se engane, a música boa sempre vai estar por aí para quem se interessar, as hoje consideradas bandas “clássicas”, “dinossauros”, ou seja qual for o termo que preferir, aos poucos estão partindo.
E ontem, domingo, uma dessas, das mais importantes e influentes de todos os tempos, fez seu último show por aqui, em um lotado estádio do Morumbi.
O Black Sabbath, banda que basicamente criou um gênero musical e acidentalmente ainda semeou sua influência para diversos outros estilos, trouxe a sua inevitável e derradeira turnê autoexplicativa “The End”.
Com poucos minutos de atraso, (e uma quantidade bem razoável de pessoas ainda entrando no estádio), uma estilosa vinheta de abertura e o sinistro mas conhecido som dos sinos anunciavam a abertura do show que veio, claro, com a própria “Black Sabbath”, faixa que lá atrás, em 1970, também abriu e deu nome ao primeiro disco da banda. Era um momento, por tudo o que envolvia, histórico.
Com um Ozzy (só) um pouco mais contido (mas cantando muito bem e acima da média), o guitarrista Tony Iommi e o baixista Geezer Butler entraram no palco, acompanhados do baterista Tommy Clufetos (que já tocou com Alice Cooper, Rob Zombie e acompanha o próprio Ozzy solo e o Sabbath há algum tempo) e o tecladista Adam Wakeman (filho do tecladista Rick Wakeman, do Yes).
Se Ozzy continua sendo o carismático e divertido frontman, o guitarrista Tony Iommi é ainda mais impressionante, tanto pelo seu histórico lendário de riffs como pelo peso considerável do som de sua guitarra ao vivo. Independente de estilos musicais, se alguma das bandas que você gosta tem uma guitarra com riffs elaborados e mais pesados, é praticamente certo dizer que esse cara foi direta ou indiretamente uma das maiores influências.
Tarefa quase impossível é acompanhar e ainda conseguir ter seus momentos de destaque do lado de uma figura dessas como Iommi, mas Geezer é talvez o único cara do planeta que poderia pesar os dedos e com seu baixo envenenado de grooves e o mix de blues e metal ajudar a elevar mais ainda a coisa toda.
Talvez para alguns, a ausência do baterista original Bill Ward diminua um pouco a nostalgia e aura mágica do show, de quem gostaria de ver a banda original inteira no palco, mas assistir Tommy Clufetos espancando sua bateria com precisão, punch e quebradeiras foi muito mais que suficiente para provar sua posição ali no meio desses caras.
O show é quase todo sem espaço para improvisos, com as mesmas 13 músicas do set fixas e cravadas, e as mesmas frases sempre repetidas de Ozzy (“GOD BLESS YOU ALL!!! I CAN´T HEAR YOU!!!”), que quando em determinado momento diz “YOU’RE NUMBER ONE!!!”, nós prontamente aceitamos, mas no fundo sabemos que cada cidade visitada por essa turnê foi “number one”, né?
Ainda que roteirizado e fechadinho, o show no contexto acaba funcionando muito e de forma espetacular.
A garoa chata e constante passou a se alternar para um chuva mais forte mas ninguém se importou. Ozzy até deu uma palhinha rápida da clássica “Singing in the Rain”.
E com hinos como “Snowblind”, “War Pigs”, “N.I.B.”, “Iron Man” e “Children of the Grave”, o Sabbath seguiu incendiando e emocionando público, que na real estava ganho e cativado desde os primeiros segundos do show. Na real, desde que o show foi anunciado.
Aos pedidos de “One more song” instigados por Ozzy (momento que fingimos em acreditar que, sem esforço suficiente no coro, talvez esse seria o único show da turnê inteira que ia
ficar sem a última música, ou pior ainda, que quiséssemos apenas ONE more song mesmo), chega “Paranoid” para terminar com tudo em alto nível.
Especialmente para um show de despedidas, achei bem curto. Talvez uns 15 ou 20 minutos a mais
e a inclusão de hits como “Sabbath Bloody Sabbath” e “The Wizard” poderiam ter deixado o show um pouco mais completo e a despedida, menos dolorosa.
Mas como é bom e um verdadeiro privilégio poder assistir uma banda que, mesmo após uma longa vida de excessos, consegue se despedir de forma tão marcante e digna (Nada de banda decadente ou soar vergonhosamente como “fim de carreira” por aqui).
Iommi andou sugerindo que talvez ainda volte a compor e gravar, inclusive com o próprio Sabbath, mas dificilmente volte a excursionar. Ozzy (ou Sharon) já pensa em emendar na sequência seu próximo disco solo e uma tour.
E essa turnê The End é a mais que justa transição do Black Sabbath de “banda ao vivo” para “Eu você deveria ter visto os caras pelo menos uma vez na vida”. Espero que esse não seja seu caso.
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O último show do Black Sabbath no Brasil começou assim:
e acabou assim:
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