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* Pronto, caceta. O encantado disco de estréia da inglesa Arlo Parks, musa das músicas sensíveis e lindas, musa da enorme geração com perturbações “mental health” que busca mais em canções do que em pílulas uma ajuda para a alma, musa da galerinha LGBTQIA+ por ser bissexual aberta e tratar disso em letras e vídeos, pequena musa das delicadas causas migratórias por ser meio africana, um quarto francesa e na outra parte por ter nascido no bairro de Hammersmith, em Londres, foi lançado.
E, conforme 99% das previsões baseadas em single absurdamente lindos, o disco de estreia dela, “Collapsed in Sunbeams”, é um absurdo de bom.
Arlo Parks, por tudo que a compõe como ser humano, e por essa carga que atribuíram a ela como esperança para a chamada “ansiedade do século 21”, se chama Anaïs Oluwatoyin Estelle Marinho e tem 20 anos, mais para os 19 do que para os 21. Arlo Parks é Marinho, pensa.
A menina está na cena inglesa espalhando sua simpatia e uma voz extraordinariamente pop e sofrida e alegre ao mesmo tempo desde 2018, pelo menos, e desde então “Collapsed in Sunbeams” foi esperado. Com uma pandemia no meio, ela foi soltando ótimos singles e vídeos, como “Caroline” e “Black Dog” e umas covers de Radiohead, banda da qual é fã descarada, a ponto de recriar “Creep” com sua voz particular e atualizar o hino algo rejeitado de Thom Yorke para a nova geração, ou para a geração dela pelo menos, que eu tenho certeza que daqui uns anos muitos fãs vão achar que “Creep” é dela.
“Collapsed in Sunbeams” começa com um poema musicado rápido exatamente com esse nome (sim, Parks é poetisa) que termina mais ou menos assim:
“Nós todos estamos aprendendo a confiar em nossos corpos
Encontrando paz em nossas próprias distorções
Você não deveria ter receio de chorar na minha frente às vezes”
A partir disso entram 11 das faixas mais gostosas reunidas num disco talvez neste ano inteiro. Que vão do pop normal ao pop elaborado. Do mais puro indie ao trip hop viajante do som negro engajado de agora. Da mais perfeita tradição da música feminina desde Amy Winehouse e Lily Allen até algo que se assemelha, pelo menos em traços, às canções do enigmático grupo SAULT, vanguardista da ocasião.
Como diz o superbamba jornalista Alexis Petridis, do jornalaço “The Guardian”, o hype está justificado.
E o começo de sua resenha sobre o disco no diário britânico é um primor de boas colocações para uma cantora nova como Arlo Parks. Permita-me reproduzir aqui, em inglês não tão difícil, para a poesia anglicana não se perder.
“It’s hard to know how to feel about the state of Arlo Parks’ career. The obvious response is to be hugely impressed: here she is, at 20 years old, surfing a wave of critical acclaim, the release of her debut album heralded by vast billboards around London and what’s effectively her own TV special, courtesy of Amazon. Not bad for someone who was hopefully uploading their demos to the BBC’s Introducing site a couple of years ago. Then again, it’s a hard heart that doesn’t also feel a twinge of pity. The poor woman has been stuck with the Voice of a Generation tag, a surefire way of lumbering an artist with expectations anyone would struggle live up to: “a term that can create problems for anybody,” as Bob Dylan – who should know – once put it.”
Na onda do lançamento de seu disco de estreia, com todos os “elementos Arlo Parks” embutido ela apresentou um vídeo para a faixa “Hope”, até ontem à tarde inédita.
Esquece que a canção tem esse título de “esperança” e um instrumental dos mais incríveis embalando a voz mais aconchegante que você vai querer ouvir neste ano na música pop. O vídeo é sobre a dor de se sentir só no meio de bastante gente. E tem absurdos momentos alegres, fofos. Como você consegue, Parks?
Daí a música se interrompe, porque a personagem que dá vida ao vídeo desaba em choro. E o que se ouve, por um tempo, é exatamente isso: um choro desesperador. Aí tudo vai se acalmando e a música vai voltando aos pouquinhos, apenas por uns “uhm uhm uhm” saído da boca de Parks até a canção ser reestabelecida em sua “normalidade” e um final lindo. Em que, porém, nada está resolvido”.
Puta merda!
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