A gente segue aqui decupando o novo lançamento da banda inglesa Arctic Monkeys, o já muito famoso “The Car”, que saiu hoje com um número absurdos de boas resenhas e incríveis notas.
Agora é a vez da poploader Carolina Andreozzi falar que a fase “nova” do AM pode ser explicada por uma outra banda bem próxima. E que, olha lá, A VERDADE sobre foi o “novo Arctic Monkeys” já tinha sido revelada desde o disco de estreia. What?!??!
Por Carolina Andreozzi
Se você não gostou de “Tranquility Base Hotel & Casino”, o álbum anterior do Arctic Monkeys, tenho más notícias para você. “The Car”, lançado hoje, é um disco que segue muito na linha que TBHC começou, e eu não vim para defender o álbum, mas é preciso entender essa obra para entender o que é o “The Car”. Afinal, não podemos ignorar que todas as sementes do que se tornou este sétimo álbum da banda foram plantadas na Lua em 2018.
Alguns se confundem quando dizem que “Tranquility” foi a grande mudança na discografia do Arctic Monkeys. Se formos pensar bem, o aclamado disco de estreia “Whatever People Say I Am That’s What I Am Not” já deu a letra no título lá em 2007. Quando você acha que conseguiu definir o que é a banda, eles te provam o contrário.
E a mudança que muitos ignoraram entre o estourado “AM” e o extraespacial “TBHC” foi “Everything You’ve Come to Expect (EYCTE)”, do Last Shadow Puppets.
Miles Kane. Ame-o ou o odeie, mas esse homem mexe com a cabeça de Alex Turner como ninguém e o que sai ao final de uma temporada dos Puppets define muito do que vem nos discos seguintes dos Monkeys. Durante a era de “EYCTE”, Turner teve a oportunidade de explorar alguns elementos mais espalhafatosos, incluindo um quarteto de cordas durante a turnê, e mais cinematográficos, como ficou evidente nos vídeos oficiais dos Puppets. E o cantor do Arctic Monkeys não quis abrir mão desses elementos quando fez seu próximo filme, quer dizer, seu próximo disco.
A direção e visão de Alex Turner lá em 2018 levou os Monkeys a produzir um álbum-conceito com fortes referências ao cinema, muito representadas por “8 e ½”, de Fellini, e o estilo de direção de Kubrick. E, claro, o elemento mais importante, suas trilhas sonoras.
Agora, se o “TBHC” é um filme sobre um filme de ficção científica, “The Car” é um romance de ação dos anos 70/80, com suas guitarras com pedal wahwah embaladas por violinos e uma percussão impecável.
Como todos nós, Alex Turner foi forçado a se isolar durante a pandemia. A diferença é que ele o fez com passagens pela Riviera Francesa e na companhia de seu gravador. Esse gravador tornou-se instrumento vital durante a composição do TBHC e parece que ganhou uma companhia no formato de uma câmera analógica 60mm, ampliando a experiência de gravação do “The Car” para o audiovisual.
E, para iniciar (ou dar sequência a) a nova era, a banda nos deu três singles, infelizmente sem B-sides, mas com três vídeos muito importantes. Essas três prévias do novo álbum conseguiram em partes iguais abrir caminho para “The Car” e acobertar todos os seus segredos, tal como as letras subjetivas de Turner.
As dez faixas do álbum conseguem trazer um mix de referências diferentes de forma coesa. Temos a balada “Mr Schwartz”, com seu dedilhado no violão e a levada da percussão quase que latinos, as referências funk das faixas “Hello You” e “I’m Not Quite Where I Think I Am”, e os solos de guitarra mais potentes de “Body Paint” e “Sculptures of Anything Goes”. O que todas as faixas têm em comum são as letras que, seguindo a tradição de Turner, revelam para o ouvinte histórias que só fazem sentido dentro de sua própria cabeça.
Para além das letras misteriosas, o álbum conta com alguns dos melhores vocais da carreira de Turner, repleto de falsettes e uma voz mais profunda. E essa voz se sustenta no ao vivo, como podemos ver no vídeo oficial de “I’m Not Quite Where I Think I Am”. E, falando em ao vivo, é uma pena que a banda não chamou o quarteto de cordas dos Puppets para acompanhá-los em turnê. As músicas que já ouvimos ao vivo se traduzem de forma diferente no palco sem os acompanhamentos orquestrais. Mas é claro que nenhum acompanhamento orquestral supera o que a banda é hoje, destacando por exemplo a bateria, que hoje falam muito mais sobre quem é Matt Helders do que o solo já cansado do hit “Brianstorm”.
E, sim, “Sculptures of Anything Goes” é a maior surpresa do disco. Em termos de sonoridade, talvez a guitarra com reverb e o swag na voz de Alex lembre um pouquinho o “AM”, mas a letra e os violinos mantêm o ouvinte emergido na narrativa evolutiva de “The Car”. Não é mais sobre o pôr-do-sol atrás da gata no banco do passageiro, mas para onde o diretor dirige o carro.
“The Car” não é um álbum conceito, mas há um conceito ali – são dez histórias, quase como dez cenas dirigidas por Turner e traduzidas pela banda, que hoje devem ser apreciada muito mais por sua obra do que pelo conceito desatualizado do que é ser uma “banda de rock”. O Arctic Monkeys é um dos únicos que consegue manter a originalidade, frescor e amizade depois de 20 anos de existência.
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